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OUTRAS IDEIAS
FRANCISCO DAUDT - fdaudt2@gmail.com.br
Paixões perversas
VAMOS COMEÇAR por definir os termos. Paixão é um estado de insanidade temporária que faz a pessoa objeto de desejo ser lida de forma descolada da realidade, para o
bem ou para o mal.
Ou é idealizada a ponto de
o apaixonado ser incapaz de
ver-lhe defeitos. Ele põe a
pessoa em pedestais e se coloca como humilde devoto.
Ou, então, olha-a como se
fosse o demo, torna-se obcecado pelo mal que ela representa, deseja devotar a vida à
sua destruição, com as mesmas características de descolamento da realidade.
Um adendo: em latim,
"passio" só tem uma tradução, que é sofrimento.
O segundo termo é a perversão. Freud a descreve como uma doença, um mecanismo de defesa cuja característica é a dupla negação.
Algo como: "Eu sei que está errado, mas, dane-se, eu
vou fazer". A primeira negação é contra todas as ameaças que a civilização nos impõe para que nos comportemos de maneira ética.
Em sua origem está nossa
criação, a vingança que queremos contra as crueldades
que ela nos impôs e os desejos geneticamente herdados
que não encontram lugar nos
desconfortos da cultura.
Quando a paixão erótica
se encontra com a perversão,
elas estão escritas na formação do nosso desejo. Costumam ser de dois tipos: sadomasoquista e fetichista.
Ambos têm em comum o
apagamento das pessoas envolvidas. O que vale é uma representação psíquica tão fortemente gravada na cabeça
do perverso que o impede de
ter curiosidade pelo outro.
Bastam pequenos estímulos
e o outro já está classificado e
elencado como ator (ou atriz)
para o desencadeamento do
drama perverso.
Exemplo sadomasoquista:
"Ela não me ligou depois do
nosso primeiro encontro. Só
pode estar se divertindo às
minhas custas. Mas agora
também ela vai ver o que eu
vou fazer com ela..."
O homem em questão já
tem certeza de que a outra é
sádica e merece vingança. Se
ela entrar no jogo, teremos
uma paixão perversa.
Exemplo fetichista: o homem precisa despersonalizar
a mulher por meio de um artifício ("fétiche", em francês,
vem do português feitiço, artifício), como cobri-la com
um casaco de pele, para aí
transar. A complexidade que
ela representa como pessoa
ameaça-o ao ponto de inibi-lo para o sexo.
Esses dois homens têm medo e são prisioneiros das mulheres de seus passados. Não
conhecem outras mulheres,
mulheres-pessoas. O mesmo
se pode dizer de suas parceiras, que entram no jogo.
FRANCISCO DAUDT, psicanalista e médico,
é autor de "Onde Foi Que Eu Acertei?",
entre outros livros
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