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Rumo ao oeste

A VILA LEOPOLDINA JÁ FOI UM PEDAÇO DA CIDADE 'LONGE' DE TUDO; HOJE, OS PRÉDIOS RESIDENCIAIS MUDARAM A CARA DO LOCAL E DEIXARAM O BAIRRO 'LOGO ALI'

DE SÃO PAULO

Henrique, 76, e Carmem Massareli, 74, se mudaram para a Vila Leopoldina em 1965. Ele queria ficar perto do trabalho, em uma das muitas indústrias que haviam se instalado no bairro da zona oeste. Na época o Ceagesp ainda estava sendo construído.

Hoje, enquanto a paisagem se transforma rapidamente, o casal resiste no bairro. Depois de virar polo de estúdios cinematográficos, que aproveitaram o espaço generoso dos antigos galpões, na última década a região ganhou condomínios instalados nos terrenos industriais.

Ao se casar, os dois filhos do casal não conseguiram ficar no bairro, devido ao preço dos imóveis. Hoje, Henrique e Carmem também cogitam vender a casa. "Se vierem com proposta, vendemos. Não vou brigar com cachorro grande", diz Henrique.

A "briga" a que o aposentado se refere faz parte de uma dinâmica da cidade que não poupou a Vila Leopoldina, e que tem nos empreendimentos residenciais o motor de sua transformação.

Por outro lado, o bairro hoje recebe os jovens que saem da casa dos pais em locais como Pinheiros, mas que não têm dinheiro para comprar imóveis no bairro nobre, diz Bruno Vivanco, diretor da imobiliária Abyara.

LONGE DO CENTRO

Do final do século 19 ao início do 20, a expansão do centro histórico e das casas da elite paulistana caminharam rumo ao oeste da cidade.

Campos Elísios, Higienópolis, avenida Paulista e mais tarde o Pacaembu, para abrigar primeiro a elite cafeeira e depois a elite industrial.

Em meados do século passado, após o rio Pinheiros ser retificado, novos bairros surgiram ainda mais a oeste, na antiga várzea alagada. A área norte do rio, próxima à ferrovia, recebeu indústrias e de moradia para operários.

Mas essa dinâmica logo se altera novamente. Na década de 1970 a expansão urbana passa a seguir a lógica do capital financeiro -a nova vocação econômica da cidade. O bairro se desindustrializa.

Os condomínios residenciais chegam antes de projetos de urbanização da prefeitura para a área, que previam até a remoção do Ceagesp.

O resultado, segundo a urbanista Eunice Abascal, da Faculdade de Arquitetura do Mackenzie, é que os novos moradores reclamam de alagamentos, dos caminhões e do lixo no entorno do Ceagesp, de falta de áreas verdes e de melhorias nas calçadas.

A valorização, enquanto cria uma nova centralidade, acaba por levar os moradores mais antigos, de menor renda, para áreas mais periféricas, diz Lívia Fioravanti, pesquisadora da Geografia da USP. Por isso, afirma, o Estado deveria garantir, com políticas de habitação popular, a permanência desses moradores.

(VANESSA CORREA E RAPHAEL MARCHIORI)

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