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A monja e os economistas

ONU quer felicidade interna bruta para todos

HELOÍSA HELVÉCIA
EDITORA DE “EQUILÍBRIO”

A felicidade entrou no debate da Rio+20. A criação de uma alternativa ao PIB capaz de medir o bem-estar dos países é "o assunto da hora", segundo a antropóloga americana Susan Andrews, coordenadora aqui do projeto FIB (Felicidade Interna Bruta).

Da hora, mas não que seja novo: o conceito de um indicador baseado não só em crescimento econômico, mas em aspectos psicológicos, culturais, ambientais e espirituais foi criado em 1972 pelo então rei do Butão, país budista enfiado no Himalaia.

Sob patrocínio da ONU, o FIB butanês vem sendo recriado por um time de intelectuais, prêmios Nobel incluídos. O grupo fez um questionário que sonda padrão de vida, governança, educação, saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, uso do tempo e bem-estar psicológico.

No Brasil, o FIB é mais do que um indicador, segundo Susan. "É um catalisador de mudança social que tem o potencial de unir poder público, empresas e cidadãos para a felicidade de todos. É pensamento sistêmico na prática", diz a antropóloga graduada em Harvard, que é também mestre em psicologia e sociologia. E monja.

A monja junta agora ao currículo o título de embaixadora do FIB no Brasil, país para o qual ela veio por ocasião da Eco-92 -e ficou.

Naquele ano, fundou o Parque Ecológico Visão Futuro em Porangaba, a duas horas de São Paulo. É uma das primeiras ecovilas do país.

Tudo ali segue a filosofia de uso de recursos naturais pregada pelo mestre indiano Prabhat Rainjan Sarkar.

Moram e trabalham naqueles 65 hectares de mata 55 pessoas. "Tivemos êxito até certo ponto em servir como um contramagneto para estancar a hemorragia de pessoas das áreas rurais às cidades, provendo emprego digno em uma economia que não danifica o planeta", ela diz.

O parque usa energia limpa, alimenta seus membros com agricultura orgânica, recicla seu lixo e parte da água do esgoto, oferece "educação holística" e mantém um centro de saúde ayurvédica. É um laboratório socioambiental, mas não se diz "sustentável".

"A sustentabilidade só acontece se for aplicada simultaneamente em diversas áreas; é uma enorme tarefa."

É lá no Visão Futuro, com ajuda da Unicamp, que se desenvolve uma adaptação do questionário FIB. Já foram ministrados projetos-piloto em Angatuba, Itapetininga, Campinas (SP), Bento Gonçalves (RS) e Brasília (DF).

"Quando apresentado aos resultados do questionário, o público fica fascinado com essa análise do seu próprio bem-estar e isso gera não apenas discussões, mas ações. Em Itapetininga, a população colaborou para melhorar sua assistência médica; em Brasília, a comunidade de Rajadinha está engajada para melhorar o suprimento de água, limpando o rio local e instalando biodigestores", conta.

Mas e a aplicação do indicador em escala nacional, global? Segundo disse Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, ao abrir o último encontro sobre o tema, a conferência Rio+20 precisa gerar um "novo paradigma" que não dissocie bem-estar social, econômico e ambiental. Os três, para ele, definem a "felicidade global bruta".

Susan Andrews acha que a introdução de indicadores mais sistêmicos já é um movimento mundial. "É parte do espírito do tempo."

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