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Dependência estatal

Apesar da proximidade dos Jogos do Rio, esporte sofre para arrecadar dinheiro de empresas privadas no Brasil

EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O Rio receberá a próxima Olimpíada. Mas nem isso anima a iniciativa privada para investir no esporte no Brasil.

A principal marca do ciclo olímpico que termina neste ano foi a dependência quase que total do esporte dos cofres estatais. O grosso do investimento no alto rendimento veio do governo federal e chegou perto de R$ 2 bilhões.

Sem contar verbas de estatais, cujo investimento direto no alto rendimento não foi divulgado, o governo repassou ao COB, de 2009 a 2011, R$ 421 milhões via Lei Piva.

O governo alimentou também o Bolsa-Atleta (R$ 232 milhões), a preparação de atletas (R$ 56 milhões), a infraestrutura para o esporte de alto rendimento (R$ 33,3 milhões), a participação em competições (R$ 18,5 milhões), a detecção de talentos (R$ 24,4 milhões) e a capacitação de recursos humanos (R$ 3,4 milhões).

Há ainda uma verba de R$ 276 milhões comprometida com os Jogos do Rio. São R$ 142,2 milhões voltados à preparação dos atletas para a Olimpíada no Brasil e mais R$ 133,8 milhões que serão destinados à infraestrutura.

Diversos Estados mantêm suas versões de lei de incentivo fiscal para o esporte, como é o caso de São Paulo: entre 2010 e 2011, o Estado distribuiu mais de R$ 91 milhões que servem para a capacitação e preparação de atletas.

Apenas 11 das 30 confederações nacionais do programa olímpico têm algum tipo de patrocínio privado.

Fora o caso excepcional do futebol, os mais bem-sucedidos são o tênis e o judô. Nesse caso, sua estrutura é rotineiramente citada como exemplo de gestão pelo COB.

O judô atraiu patrocínios de Sadia, Bradesco, Scania, Mizuno, Cielo e Infraero. Apenas a última é estatal.

"Pretendemos parceria de longo prazo. Os atletas têm resultados, e a confederação é considerada modelo de gestão", afirma Eduardo Bernstein, diretor de marketing da BRF, proprietária da Sadia.

O orçamento anual da CBJ gira em torno de R$ 34 milhões. Parte desse valor é pago em serviços ou materiais.

Faz parte do pacote que a confederação oferece ação de ativação de patrocínio e também atividades corporativas.

"Temos bons atletas, e isso gera patrocínio. Graças ao patrocínio, formamos melhores atletas. É uma roda, mas não da sorte. É fruto de organização", diz Paulo Wanderlei, presidente da confederação.

O leque de patrocinadores permite que a CBJ desenhe planos de longo prazo, já que, se perder um dos patrocínios, ainda contará com outros.

"Acabou a época em que o patrocínio servia para acabar com o problema do patrocinado. Não pergunte o que sua marca pode fazer por minha camisa, atleta ou torneio. Mas o que eu posso fazer pela sua marca", concorda Ricardo Hinrichsen, diretor de consultoria e novos negócios da Brunoro Sports Business.

Apoios pontuais a atletas oriundos da iniciativa privada acontecem por meio da participação de clubes sociais, como Pinheiros e Sogipa, que mantêm suas equipes de competidores olímpicos.

O COB enxerga na Olimpíada de 2016 um catalisador para que mais esportes obtenham patrocínios privados.

"Com a aproximação da Olimpíada do Rio, as empresas privadas tendem a demonstrar interesse", avalia Marcus Vinícius Freire, superintendente do comitê.

O dirigente reconhece o sucesso financeiro de confederações esportivas dos EUA, como natação ou basquete, que contam com vários e fortes patrocinadores, mas alerta que não faz sentido comparar com o Brasil. "As realidades são bem diferentes."

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