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Morador está mais preocupado com a violência

Nota para falta de segurança dobra na região de 8% para 17%; trânsito também passa a incomodar mais

GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

No caminho para o extremo leste ganham forma as arquibancadas que representam o mais esperado empreendimento da região: o Itaquerão ou Fielzão, apelidos do futuro estádio do Corinthians, sede da Copa de 2014.

A construção às margens da avenida Radial Leste da cidade deve agitar o comércio, impulsionar o mercado imobiliário e dar ares de inovação à região, mas parece não ser motivo de tanto otimismo assim, revela o Datafolha.

Dramas antigos ali como violência, enchentes e trânsito, por exemplo, seguem como motivos de insatisfação ou piora na avaliação em pesquisa feita entre os moradores dos 31 distritos da região.

Problemas que atingem não só os que vivem em bairros distantes e pobres como Cidade Tiradentes, Guaianases e São Mateus, mas também a tradicional Mooca dos imigrantes italianos e das antigas indústrias, por exemplo -lá a nota de satisfação caiu em 21 dos 27 itens avaliados.

Da Mooca até Itaquera seriam necessários cerca de 20 minutos sem o engarrafado tráfego da Radial, tempo que dobra no horário de pico. De metrô, o caminho é rápido, mas em vagões lotados.

"Os problemas na zona leste seguem. Já o Itaquerão, não é para mim. Pode ser que vire um elefante branco", diz o artista plástico Renato Ursine, 32, nascido e criado em Itaquera, distrito onde nada melhorou e 11 itens pioraram na pesquisa.

O distrito que significa pedra dura, em guarani, e já foi terra do pêssego até os anos 1920, também sofre nos engarrafamentos. Lá, a nota caiu de 6,5 para 5,7.

Para o coordenador do curso de gestão de políticas públicas da USP Leste, Fernando de Souza Coelho, entre todos os problemas, o da mobilidade é o único que afeta a zona leste como um todo.

"Atinge desde a área mais desenvolvida, em bairros como Carrão, Vila Prudente e Tatuapé, quanto a mais pobre, onde estão Itaquera, Parque do Carmo e Itaim Paulista. São 2 milhões de pessoas se deslocando diariamente para trabalhar", diz.

Segundo Coelho, para que a Copa do Mundo seja um legado são necessários avanços em projetos de infraestrutura para mobilidade urbana.

VIOLÊNCIA

De acordo com o levantamento, piorou a nota de satisfação geral em 11 dos 31 distritos. Apenas três deles melhoraram, entre eles o Carrão, espécie de oásis da região, onde a nota dada pelos moradores saltou de 5,8 para 6,5.

Mas o item segurança é o calcanhar de Aquiles dos moradores da ZL. A preocupação com a violência dobrou em relação à pesquisa de 2008 (de 8% para 17%).

A sensação de insegurança vira fato quando se fala em mortes: 14% dos moradores da zona leste dizem que já tiveram parente ou amigo assassinado. Em Cidade Tiradentes, o índice chega a 24%.

Segundo o professor Coelho, a Copa é a chance de se transferir a capacidade de investimentos públicos da área mais desenvolvida para a mais carente.

"Deve-se levar desenvolvimento socioeconômico para o extremo. Só demanda planejamento", afirma.

14% dos moradores da zona leste dizem que já tiveram parente ou amigo assassinado

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