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'Point' da ZL, Tatuapé reclama da barulheira

Morador dá nota 4,5; queixa se espalha por outras áreas nobres como Mooca e Água Rasa

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

Gerente de telemarketing, Antonio Bassin Filho, 28, trabalha no centro de São Paulo e mora no bairro de Aricanduva, na zona leste. Baladeiro, toda noite ele está no Tatuapé. "Amo isso aqui. A comida é boa, o agito não para, a bebida é honesta, e a mulherada..."

As ruas tranquilas do Tatuapé transfiguram-se a partir das 17h, quando os bares começam a por as mesas e cadeiras na calçada.

"O sono dos moradores? E quem é que está preocupado com isso?", reclama a bancária Valdete Bergamo, 49, habitante do bairro há 20 anos. "O pior é que a confusão estende-se madrugada adentro. E vai até as 3h."

A pesquisa Datafolha detectou o problema da barulheira que vem afetando exatamente a área mais nobre da zona leste, os distritos do Tatuapé, Mooca e Água Rasa, com apartamentos negociados por até R$ 4 milhões.

Os moradores do Tatuapé deram a nota 4,5 para este item (era 5,3 há quatro anos). A nota já é mais baixa do que da cidade (4,9).

Em boa medida, o que aconteceu no Tatuapé assemelha-se ao fenômeno ocorrido na Vila Olímpia (zona sul), em que galpões de antigas fábricas foram comprados por incorporadoras para se construírem condomínios de luxo.

Habitante do Tatuapé desde que nasceu, o consultor de combustíveis Allan Derik, 39, lembra-se: "De noite, aqui era como se fosse uma cidade do interior de tão tranquilo".

Com a chegada dos novos moradores, abriram-se concessionárias de veículos vendendo Porsches, SUVs, Jeeps. E, há dois anos, começou o boom dos barzinhos descolados, onde se pode pedir tábua de jamón pata negra, ceviche de salmão e robalo, cervejas importadas, fazer degustações de uísques e maltes, provar ruedas de tapas e sushis -muito sushi.

LOGO ALI

"Então é como a Vila Olímpia, não é?", perguntou a Folha a um morador do edifício Identità Tennis & Club que não quis se identificar.

"A diferença é que, na Vila Olímpia, a periferia fica longe. Aqui, não. A periferia fica logo ali", disse, esticando o lábio inferior, para se referir à Penha e a Aricanduva, bairros vizinhos. "E essa gente, do fundão da zona leste, acha que aqui é uma filial da Praia Grande."

O Identità é um empreendimento em estilo neoclássico, com apartamentos de 234 m², que coloca à disposição dos moradores, entre outros itens, quadras de tênis e squash, academia de ginástica, quatro piscinas e salão de beleza, além de adega privativa no subsolo.

O pior é que muitos desses "estrangeiros" da outra zona leste nem consomem no Tatuapé, protestou a proprietária de uma loja de chocolates, como se reclamasse de farofeiros invadindo sua praia. "Eles vêm naqueles carros com caixas acústicas enormes no porta-malas, trazem as próprias bebidas e ficam em torno da praça Silvio Romero. Eles só querem se sentir parte do cenário."

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