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Medo da violência dispara entre ricos e pobres

Sensação de insegurança virou 2ª maior queixa em toda a cidade -em 2008, o item aparecia em 7º na lista

GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

"Boa noite. Fiquem todos tranquilos, só queremos o dinheiro" foi a frase de um dos criminosos que invadiram um restaurante no Alto de Pinheiros, área nobre da zona oeste. Mesmo com a abordagem "light", o trauma na família do economista Alexandre, 41, uma das vítimas do arrastão, deu fim aos jantares fora de casa após as 22h.

Morador da zona sul, ele passou a ter mais medo da violência na cidade após o crime, ocorrido no ano passado, assim como 14% dos paulistanos, revela o Datafolha.

A sensação de insegurança pegou tão de jeito os moradores da cidade que o medo do crime passou a ser o segundo maior problema para os entrevistados, superando o trânsito (12%) e ficando atrás apenas dos buracos no asfalto e calçadas (18%).

Para se ter uma ideia, na lista de queixas de 2008, o medo dos criminosos aparecia em sétimo lugar.

A pesquisa mostra que mais que dobrou o número de pessoas que veem a violência como o principal drama -em 2008, o percentual era 6%.

No topo do ranking está Aricanduva, na zona leste, onde 29% se sentem inseguros, seguido por Cursino e Socorro (28% e 27%), na zona sul. Bairros de classe média estão entre os 20 que mais reclamam, casos do Butantã (23%), Ipiranga (21%) e Tatuapé (20%).

PRÓXIMA VÍTIMA

O aumento da percepção de insegurança contrasta com o período em que a cidade sofreu uma queda no número de homicídios.

Para o professor Leandro Piquet, do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da USP, a explicação pode estar no fato de a mesma diminuição não ter ocorrido nos crimes patrimoniais.

"O índice ainda é alto. Há muito roubo, furto e invasão de domicílio", diz Piquet, que também associa a percepção de insegurança ao crescimento desordenado da cidade.

"O ladrão pega o carro que roubou num lugar e vai cometer um crime grave fora do bairro dele. A cidade ajuda porque há uma proximidade grande das áreas de maior renda com as que estão em situação de pobreza", afirma.

Para o empresário Oded Grajew, coordenador da Rede Nossa São Paulo, a chegada da violência à classe média -quando quadrilhas invadiram condomínios e restaurantes- tem influência no resultado da pesquisa. "Lugares inexpugnáveis ficaram inseguros. Quem não foi assaltado tem um amigo que já foi ou leu notícia da invasão ao condomínio do bairro. Ele pensa: 'sou o próximo'", diz.

Para o comandante da PM na capital, Marcos Roberto Chaves da Silva, o medo tem a ver com a exposição de crimes na mídia. "A maioria das pessoas nunca foi vítima e também não viu um crime acontecer, mas a facilidade com que a notícia chega traz a sensação de que aquilo ocorre constantemente", diz.

Ele cita o exemplo do Morumbi, onde moradores foram às ruas pedir mais segurança. "Faz um mês que não acontece um roubo a residência ali." Para ele, a solução é o policiamento comunitário. "Não é o aumento do efetivo que vai resolver, mas a parceria com a comunidade."

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29%
é a proporção de moradores que se sentem inseguros em Aricanduva (zona leste), bairro que mais se preocupa com a violência

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