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Trânsito incomoda mais paulistano rico

Congestionamento é o principal problema para 22% dos entrevistados com renda familiar mensal maior que R$ 6.222; em toda
a cidade, ele aparece em terceiro lugar

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

Os ricos perderam a paciência com o trânsito de São Paulo. Segundo a pesquisa Datafolha, para 22% dos paulistanos com renda familiar mensal maior do que dez salários mínimos (R$ 6.222), o trânsito é o principal problema da cidade.

A questão da mobilidade (às vezes, imobilidade) urbana tornou-se queixa mais frequente entre os mais ricos do que o problema da segurança, violência e criminalidade, que apareceu em 17% das entrevistas do Datafolha.

Ou também do que a buraqueira de ruas e calçadas, mencionada por 19% (os dois problemas são os recordistas de reclamações dos paulistanos em geral).

Na média da população, o trânsito é a terceira principal reclamação dos paulistanos, tendo aparecido em 12% das respostas à pergunta "Qual é o principal problema das ruas próximas da sua casa?"

CARRO DEMAIS

Calcula-se que hoje a cidade de São Paulo tenha cerca de 7 milhões de carros, para uma população de 11 milhões de habitantes. Dá um carro para cada 1,57 habitante.

O Datafolha constatou que, entre 2008 e 2012, aumentou o uso do carro para ir e voltar do trabalho (foi de 14% em 2008 para os 18% atuais).

E o crescimento aconteceu em todas as faixas de renda. Entre a parcela com renda superior a dez salários mínimos, quase a metade (46%) usa o carro para se locomover entre a casa e o trabalho (eram 40% em 2008).

Mas entre os mais pobres (com renda familiar de até R$ 1.244), o uso do carro também subiu -foi de 4% para 7%.

Mais carros na rua, mais trânsito, mais congestionamentos, certo?

"Além disso, trata-se de uma opção antieconômica", diz o engenheiro Ailton Brasiliense, 66, presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).

Segundo ele, o quilômetro rodado de carro custa em média R$ 0,60 (inclui seguro, combustível, manutenção, pneus, estacionamento, IPVA, depreciação).

"Por baixo, manter o carro rodando entre a casa e o trabalho custa algo como R$ 6.000 ao ano", diz Brasiliense. "Já o transporte coletivo, na pior das hipóteses, sai por R$ 1.000 ao ano."

Para a novíssima classe média, a diferença de R$ 5.000 possibilitaria a contratação de um plano de saúde, a matrícula do filho em uma escola melhor, ou mesmo morar em uma casa mais confortável.

As pessoas não fazem a troca, que seria mais econômica e benéfica ao trânsito, porque o transporte público é de "baixíssima qualidade", diz Alexandre Zum Winkel, 47, especialista em transporte pela Universidade de Berlim.

"No metrô de São Paulo, cálculos bem aceitos dizem que o suportável é uma densidade de seis pessoas por metro quadrado. Mas, nos horários de pico, essa densidade chega a 12 pessoas por metro quadrado", afirma.

A pesquisa Datafolha mostra que apesar do crescimento do carro, o ônibus ainda é o grande transportador de massas da cidade.

Do total de entrevistados, 36% (porcentagem idêntica à aferida em 2008) disseram que esse é o meio mais usado para chegar ao trabalho.

Poderia ser mais, na opinião dos especialistas -o que ajudaria a desafogar o trânsito, junto com a ampliação da rede de metrô e de trem, que hoje aparecem com 13% e 5% das respostas da pesquisa, respectivamente.

"O carro está totalmente por baixo no mundo todo, por ser considerado insustentável. São Paulo está contra a corrente porque, entre outros fatores, nos últimos oito anos, não se criou um só quilômetro a mais de corredores de ônibus, que dão agilidade a esse meio de transporte", afirma Zum Winkel.

O prefeito Gilberto Kassab (PSD) prometeu 66 km de faixas exclusivas para coletivos. As obras estão licitadas, mas nenhuma será entregue até dezembro.

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18%
dos paulistanos usam o carro para ir ao trabalho; em 2008, eram 14%

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