São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004

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Morador evita sair de casa à noite



DA REPORTAGEM LOCAL

A professora aposentada Thereza Barros Silva, 75, freqüenta a catedral de Santo Amaro todos os dias, pertence à classe B e tem receio de circular à noite pelo bairro.
Com essas características, ela representa bem o morador da região denominada sul 2 pelo Datafolha, que concentra os distritos de Santo Amaro, Jabaquara, Campo Grande, Cidade Ademar, Pedreira e Socorro.
De acordo com dados da pesquisa do instituto, os moradores consideram a violência ou falta de segurança a grande desvantagem de morar em São Paulo (47%), eles não passeiam pelo bairro depois de escurecer (18%) e são predominantemente da classe B (32%) e católicos (65%).
"Eu começo meu dia indo à missa das 7h30", afirma Thereza Silva, que aos domingos ensina catequese para adultos na catedral. Ela nasceu em Itu (SP) e veio para Santo Amaro há 52 anos para dar aulas, porque em sua cidade existiam apenas duas escolas.
Thereza Silva já foi assaltada no bairro, levaram seu carro. "Tinha medo antes de ser assaltada e continuei com medo depois disso", afirma. Mesmo assim ela não pretende sair de São Paulo. "Meus pais foram enterrados na cidade. Criei raízes aqui", diz.

Shopping
Os moradores da área freqüentam shoppings assiduamente (81%). Além das opções que já existiam -SP Market e Shopping Interlagos, entre outros-, está sendo construído o shopping Boa Vista perto do largo 13.
O policial militar Daniel César Simões Teixeira -que mora no Jabaquara desde que casou, há 15 anos- vai pelo menos uma vez por semana a algum shopping. Normalmente, leva os dois filhos consigo.
Embora considere que mora bem -ele vive em dois apartamentos com a família, no mesmo andar de um prédio- o policial gostaria de mudar de São Paulo, bem como 53% dos entrevistados pelo instituto.
"Não tenho como sair daqui agora em razão do trabalho", diz. Ele afirma, no entanto, que ficaria no Estado -a família de sua mulher é de Mococa. "Eu iria para o interior, onde acredito que teria mais tranqüilidade."
De acordo com dados da pesquisa, 54% dos moradores da área sul 2 não nasceram em São Paulo. Da Bahia, vieram 12% dos entrevistados pelo Datafolha, 8% deles chegaram de Minas Gerais e 7%, de Pernambuco.
A vendedora Maria Helena Santana Cerqueira, 24, é baiana e está há meio ano na cidade. "Vim para cá com a intenção de fazer faculdade de biologia e de pedagogia. Na Bahia, eu sei que não teria condições", afirma.
Ela diz acreditar que, em São Paulo, encontrará emprego que pague um salário que possibilite a continuidade de seus estudos.
Atualmente, enquanto não arruma "algo melhor", trabalha em uma loja de roupas no largo 13 de Maio.
No comércio local podem ser compradas camisetas por R$ 7,99, calças sociais por R$ 17, short por R$ 5,99 e bermudas por R$ 8,99.
Maria Cerqueira considera sua casa igual às outras, resposta dada por 61% dos entrevistados. "Moro com minha irmã. A casa não tem muito conforto, mas também não falta nada", afirma.
Depois que conseguir atingir seus objetivos, a baiana não hesitaria em deixar São Paulo para trás.
"Mudaria daqui tranqüilamente", diz a vendedora.
O também baiano Normando Cruz Ferreira, 51, torneiro mecânico aposentado, tem um apartamento no distrito de Campo Grande e mora na região sul desde que veio para São Paulo, há 31 anos. Ele gosta da localização de seu bairro. "É perto da saída para a marginal e fica próximo de alguns shoppings. Em qualquer folga é possível ir. Fica muito cômodo", diz.
Assim como 78% dos entrevistados, ele afirma que pessoas suspeitas não devem ser torturadas. "Suspeito não é culpado nem criminoso", afirma. E, ao contrário dos 22% que responderam ser contra a prisão perpétua, ele acha que a pena seria uma solução para diminuir a criminalidade.

Sem medo
O aposentado não evita sair pelo bairro depois que escurece, como fazem 18% dos entrevistados. "O meu pedaço não é tão violento. Existe uma delegacia perto daqui, e o mais comum são roubos de rádios nos carros estacionados na rua", diz.
O problema de São Paulo, em sua opinião, é o alto custo de vida. "Eu mudaria para outra cidade ou para outro Estado, de preferência para um lugar que tivesse mar", afirma.
Mesmo mostrando insatisfação em morar em São Paulo -10% dos entrevistados dizem não estar satisfeitos-, grande parte dos moradores ouvidos afirma viver no mesmo bairro de 15 a 30 anos (35%) e muitos (19%), há mais de 30 anos.




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