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Morador evita sair de casa à noite
DA REPORTAGEM LOCAL
A professora aposentada Thereza
Barros Silva, 75, freqüenta a catedral
de Santo Amaro todos os dias, pertence à classe B e tem receio de circular à
noite pelo bairro.
Com essas características, ela representa bem o morador da região denominada sul 2 pelo Datafolha, que concentra os distritos de Santo Amaro, Jabaquara, Campo Grande, Cidade Ademar, Pedreira e Socorro.
De acordo com dados da pesquisa
do instituto, os moradores consideram a violência ou falta de segurança a
grande desvantagem de morar em São
Paulo (47%), eles não passeiam pelo
bairro depois de escurecer (18%) e são
predominantemente da classe B
(32%) e católicos (65%).
"Eu começo meu dia indo à missa
das 7h30", afirma Thereza Silva, que
aos domingos ensina catequese para
adultos na catedral. Ela nasceu em Itu
(SP) e veio para Santo Amaro há 52
anos para dar aulas, porque em sua cidade existiam apenas duas escolas.
Thereza Silva já foi assaltada no bairro, levaram seu carro. "Tinha medo
antes de ser assaltada e continuei com
medo depois disso", afirma. Mesmo
assim ela não pretende sair de São
Paulo. "Meus pais foram enterrados
na cidade. Criei raízes aqui", diz.
Shopping
Os moradores da área freqüentam
shoppings assiduamente (81%). Além
das opções que já existiam -SP Market e Shopping Interlagos, entre outros-, está sendo construído o shopping Boa Vista perto do largo 13.
O policial militar Daniel César Simões Teixeira -que mora no Jabaquara desde que casou, há 15 anos-
vai pelo menos uma vez por semana a
algum shopping. Normalmente, leva
os dois filhos consigo.
Embora considere que mora bem
-ele vive em dois apartamentos com
a família, no mesmo andar de um prédio- o policial gostaria de mudar de
São Paulo, bem como 53% dos entrevistados pelo instituto.
"Não tenho como sair daqui agora
em razão do trabalho", diz. Ele afirma,
no entanto, que ficaria no Estado -a
família de sua mulher é de Mococa.
"Eu iria para o interior, onde acredito
que teria mais tranqüilidade."
De acordo com dados da pesquisa,
54% dos moradores da área sul 2 não
nasceram em São Paulo. Da Bahia, vieram 12% dos entrevistados pelo Datafolha, 8% deles chegaram de Minas
Gerais e 7%, de Pernambuco.
A vendedora Maria Helena Santana
Cerqueira, 24, é baiana e está há meio
ano na cidade. "Vim para cá com a intenção de fazer faculdade de biologia e
de pedagogia. Na Bahia, eu sei que não
teria condições", afirma.
Ela diz acreditar que, em São Paulo,
encontrará emprego que pague um
salário que possibilite a continuidade
de seus estudos.
Atualmente, enquanto não arruma
"algo melhor", trabalha em uma loja
de roupas no largo 13 de Maio.
No comércio local podem ser compradas camisetas por R$ 7,99, calças
sociais por R$ 17, short por R$ 5,99 e
bermudas por R$ 8,99.
Maria Cerqueira considera sua casa
igual às outras, resposta dada por 61%
dos entrevistados. "Moro com minha
irmã. A casa não tem muito conforto,
mas também não falta nada", afirma.
Depois que conseguir atingir seus
objetivos, a baiana não hesitaria em
deixar São Paulo para trás.
"Mudaria daqui tranqüilamente",
diz a vendedora.
O também baiano Normando Cruz
Ferreira, 51, torneiro mecânico aposentado, tem um apartamento no distrito de Campo Grande e mora na região sul desde que veio para São Paulo,
há 31 anos. Ele gosta da localização de
seu bairro. "É perto da saída para a
marginal e fica próximo de alguns
shoppings. Em qualquer folga é possível ir. Fica muito cômodo", diz.
Assim como 78% dos entrevistados,
ele afirma que pessoas suspeitas não
devem ser torturadas. "Suspeito não é
culpado nem criminoso", afirma. E, ao
contrário dos 22% que responderam
ser contra a prisão perpétua, ele acha
que a pena seria uma solução para diminuir a criminalidade.
Sem medo
O aposentado não evita sair pelo
bairro depois que escurece, como fazem 18% dos entrevistados. "O meu
pedaço não é tão violento. Existe uma
delegacia perto daqui, e o mais comum são roubos de rádios nos carros
estacionados na rua", diz.
O problema de São Paulo, em sua
opinião, é o alto custo de vida. "Eu
mudaria para outra cidade ou para
outro Estado, de preferência para um
lugar que tivesse mar", afirma.
Mesmo mostrando insatisfação em
morar em São Paulo -10% dos entrevistados dizem não estar satisfeitos-,
grande parte dos moradores ouvidos
afirma viver no mesmo bairro de 15 a
30 anos (35%) e muitos (19%), há mais
de 30 anos.
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