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Não ser CORINTIANO
NÃO SER CORINTIANO É TER DOIS TIMES POR RODADA: O SEU PRÓPRIO E O QUE JOGA CONTRA O CORINTHIANS
JOSÉ ROBERTO TORERO
ESPECIAL PARA A FOLHA
"O que é o não ser depende
do que é o ser, não é, jovem
ser?", perguntou-me o professor de filosofia no terceiro
colegial.
Eu, é claro, respondi:
"Não sei".
Mas agora, tendo que
escrever este texto sobre o
que é não ser corintiano,
acredito que finalmente eu
compreendi a questão. Pelo
menos um pouco.
Por exemplo, não ser corintiano é poder assistir aos
jogos sentados no estádio,
porque ninguém fica alguém
mandando você ficar de pé,
pular e cantar, sem respeitar
sua hérnia de disco, como
se esta fosse a única maneira
de torcer.
Não ser corintiano é não
sofrer de complexo de inferioridade por nunca ter ganhado uma Libertadores. É
não usar roxo, mas, em compensação, poder vestir verde
de vez em quando. É poder
gostar de mais de mais de
uma escola de samba.
É não se achar o povo escolhido do futebol; é saber que
o aleph não está escondido
em algum porão do Parque
São Jorge (e aleph aqui não
é o novo livro de Paulo Coelho, mas a ideia de outro escritor -bem menos vendido-, um tal de Jorge Luís
Borges, que disse que o aleph
seria o ponto em que se concentraria todo o Universo).
É ter estádio (tudo bem, este item valerá por pouco tempo, mas, por enquanto, vale).
Não ser corintiano é economizar lenço de papel; pois,
convenhamos, os corintianos choram muito, seja de
alegria, seja de tristeza. Choram pelas grandes conquistas, como a Copa do Brasil no
ano passado, choram pelas
grandes derrotas, como o rebaixamento para a Série B.
É não ter que se preocupar
com o peso do centroavante.
É poder comprar uma camisa que não parece de piloto de Fórmula 1 (sim, eu sei
que isso representa mais dinheiro para o clube, que assim pode montar uma grande equipe, mas que a camisa
está estranha, está).
É não achar que Biro-Biro é
melhor do que Maradona.
Não ser corintiano é, quando se é apresentado a uma
pessoa, poder perguntar primeiro "Qual o seu nome?"
e só depois "Para que time
você torce?".
É não acreditar em uma vitória impossível até o último
segundo.
É não ter os juízes a seu favor (aliás, no último fim de
semana, Célio Amorim não
viu o pênalti cometido por
Paulo André em Júnior).
É não ter um clube fundado em uma esquina (o
que, cá entre nós, tem seu
charme).
É saber que "timão" não
significa um grande time,
mas sim o dispositivo que
controla a direção das embarcações e aeronaves.
É não ter um título mundial paraguaio.
Não ser corintiano é ter
dois times a cada rodada: o
seu próprio e o que joga contra o Corinthians.
É fazer parte da maior torcida do Brasil.
E, por fim, é se morder de
inveja do tratamento que o
Corinthians recebe da imprensa, que faz até cadernos
especiais como este para o
centenário do clube.
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