São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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Não ser CORINTIANO

NÃO SER CORINTIANO É TER DOIS TIMES POR RODADA: O SEU PRÓPRIO E O QUE JOGA CONTRA O CORINTHIANS

JOSÉ ROBERTO TORERO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"O que é o não ser depende do que é o ser, não é, jovem ser?", perguntou-me o professor de filosofia no terceiro colegial.
Eu, é claro, respondi:
"Não sei".
Mas agora, tendo que escrever este texto sobre o que é não ser corintiano, acredito que finalmente eu compreendi a questão. Pelo menos um pouco.
Por exemplo, não ser corintiano é poder assistir aos jogos sentados no estádio, porque ninguém fica alguém mandando você ficar de pé, pular e cantar, sem respeitar sua hérnia de disco, como se esta fosse a única maneira de torcer.
Não ser corintiano é não sofrer de complexo de inferioridade por nunca ter ganhado uma Libertadores. É não usar roxo, mas, em compensação, poder vestir verde de vez em quando. É poder gostar de mais de mais de uma escola de samba.
É não se achar o povo escolhido do futebol; é saber que o aleph não está escondido em algum porão do Parque São Jorge (e aleph aqui não é o novo livro de Paulo Coelho, mas a ideia de outro escritor -bem menos vendido-, um tal de Jorge Luís Borges, que disse que o aleph seria o ponto em que se concentraria todo o Universo).
É ter estádio (tudo bem, este item valerá por pouco tempo, mas, por enquanto, vale).
Não ser corintiano é economizar lenço de papel; pois, convenhamos, os corintianos choram muito, seja de alegria, seja de tristeza. Choram pelas grandes conquistas, como a Copa do Brasil no ano passado, choram pelas grandes derrotas, como o rebaixamento para a Série B.
É não ter que se preocupar com o peso do centroavante.
É poder comprar uma camisa que não parece de piloto de Fórmula 1 (sim, eu sei que isso representa mais dinheiro para o clube, que assim pode montar uma grande equipe, mas que a camisa está estranha, está).
É não achar que Biro-Biro é melhor do que Maradona.
Não ser corintiano é, quando se é apresentado a uma pessoa, poder perguntar primeiro "Qual o seu nome?" e só depois "Para que time você torce?".
É não acreditar em uma vitória impossível até o último segundo.
É não ter os juízes a seu favor (aliás, no último fim de semana, Célio Amorim não viu o pênalti cometido por Paulo André em Júnior).
É não ter um clube fundado em uma esquina (o que, cá entre nós, tem seu charme).
É saber que "timão" não significa um grande time, mas sim o dispositivo que controla a direção das embarcações e aeronaves.
É não ter um título mundial paraguaio.
Não ser corintiano é ter dois times a cada rodada: o seu próprio e o que joga contra o Corinthians.
É fazer parte da maior torcida do Brasil.
E, por fim, é se morder de inveja do tratamento que o Corinthians recebe da imprensa, que faz até cadernos especiais como este para o centenário do clube.


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