São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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DEBATE

Nervosos, Marta e Serra partem para o confronto no último debate do 1º turno


Serra afirma que prefeita costuma ser "arrogante" e diz que sua gestão 'está atrapalhando' a diminuição do desemprego

Marta chama adversário de "ignorante", culpa administrações anteriores e diz que o PSDB levou São Paulo a situação calamitosa

Contratação de consultorias é questionada por tucano, que critica também gastos em serviço de atendimento e no Fura-Fila

Apoio de Lula é utilizado por Marta ao lembrar que há 18 anos o prefeito de SP e o presidente do Brasil não são do mesmo partido



CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Nervosos ao ponto de gaguejar ou tropeçar nas frases, os candidatos José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT) foram para o confronto direto durante o debate entre seis candidatos à Prefeitura de São Paulo, realizado ontem à noite pela TV Globo e que, na prática, encerrou a campanha.
A colisão frontal entre os dois líderes começou já no primeiro bloco, quando Serra, em pergunta a Marta, usou o tema emprego (sorteado) para atacar não apenas a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo desemprego, mas para dizer que, nesse quesito, "a prefeitura está atrapalhando".
Marta devolveu, afirmando que "o PSDB deixou esta cidade em situação calamitosa". Serra treplicou, lembrando que o PSDB não administrou São Paulo em momento algum. Afirmou, em seguida, que, na gestão Marta, "2.500 empresas saíram de São Paulo", levando capitais de R$ 5 bilhões.
Serra pediu e ganhou o primeiro direito de resposta depois que Marta o acusou de estar usando "de má-fé" ou de ser "ignorante mesmo". Segundo ela, os problemas da cidade haviam sido provocados por "gestões interiores", em vez de "anteriores", por causa da política econômica. Serra retrucou, e aí foi a vez de Marta conseguir um direito de resposta, depois que o tucano falou que a petista respondeu a uma pergunta "de importância com arrogância, arrogância que não é infreqüente nos seus comentários".
A partir daí, os candidatos conseguiram se acalmar, mesmo quando, no quarto e penúltimo bloco, Serra voltou a perguntar a Marta. Desta vez, para estranhar que, entre maio de 2003 e maio deste ano, a prefeitura tivesse contratado consultorias pelo valor de R$ 176 milhões, inclusive com uma fundação ligada ao PT (o Instituto Florestan Fernandes).
Marta elevou o tom de voz para responder que governara, desde o princípio, com "transparência e honestidade", e afirmou que a Florestan Fernandes foi contratada por várias cidades, inclusive pelas governadas pelo PSDB.
Serra insistiu, ao afirmar que a Prefeitura gastou R$ 8,5 milhões com uma consultoria para um serviço de atendimento no centro da cidade, que "não funciona", e mais R$ 20 milhões para o Fura-Fila, que também não funciona. "Onde estão a prioridade e o planejamento?", perguntou.
Marta elevou o tom de voz ainda mais para responder: "Planejamento houve, tanto que você não tem propostas, a não ser continuar as minhas". Acusou seu principal rival de "pegar carona no bilhete único" (um dos principais programas da Prefeitura de São Paulo). Fechou com: "Agora é fácil falar; o difícil foi fazer".
Houve um terceiro choque, este indireto, quando Serra afirmou que, na tarde de ontem, a prefeitura anunciara cortes orçamentários de R$ 719 milhões, sendo educação (R$ 88 milhões) e a saúde (R$ 209 milhões) "as principais vítimas". Marta teve que esperar uma pergunta de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT), sobre outro assunto (o bilhete único) para responder a Serra. "É normal fazer cortes", limitou-se a dizer.
Os três outros participantes do debate marcaram posições que já vêm adotando na propaganda. Paulo Maluf (PP) atacou os governos do PSDB pelos "juros pornográficos" e pela insegurança em São Paulo ("é mais seguro andar fantasiado de soldado americano no Iraque do que na cidade de São Paulo", chegou a dizer).
Luiza Erundina (PSB) insistiu na crítica à política econômica, tanto de Lula como de Fernando Henrique Cardoso, para atacar os dois líderes, "que não têm condições de colocar o dedo na ferida" (o da política econômica, a seu ver geradora de desemprego, pela estagnação da economia).
Ciro Moura conseguiu decisão judicial para participar do debate, embora não esteja entre os cinco primeiros colocados na mais recente pesquisa do Ibope, que era o critério de seleção. Fez o que se imaginava que faria: criticar sempre a gestão de Marta, principalmente, mas também a administração federal.
"Nunca vi o país tão submisso ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e aos banqueiros", afirmou Ciro.
Lula, aliás, acabou sendo menos citado do que faria supor a sua intensa presença na propaganda do PT. Só no último bloco, os dois minutos de "considerações finais", pouco antes de meia-noite, é que Marta invocou o presidente, para lembrar que faz 18 anos que um prefeito de São Paulo e o presidente da República não são do mesmo partido.


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