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DEBATE
Nervosos, Marta e Serra partem para o confronto no último debate do 1º turno
Serra afirma que prefeita costuma ser "arrogante" e diz que sua gestão 'está atrapalhando'
a diminuição do desemprego
Marta chama adversário de "ignorante", culpa administrações anteriores e diz que o PSDB levou São Paulo a situação calamitosa
Contratação de consultorias é questionada por tucano, que critica também gastos em serviço de atendimento e no Fura-Fila
Apoio de Lula é utilizado por Marta ao lembrar que há 18 anos o prefeito de SP e o presidente do Brasil não são do mesmo partido
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CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Nervosos ao ponto de gaguejar
ou tropeçar nas frases, os candidatos José Serra (PSDB) e Marta
Suplicy (PT) foram para o confronto direto durante o debate entre seis candidatos à Prefeitura de
São Paulo, realizado ontem à noite pela TV Globo e que, na prática,
encerrou a campanha.
A colisão frontal entre os dois líderes começou já no primeiro
bloco, quando Serra, em pergunta
a Marta, usou o tema emprego
(sorteado) para atacar não apenas
a gestão do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, pelo desemprego,
mas para dizer que, nesse quesito,
"a prefeitura está atrapalhando".
Marta devolveu, afirmando que
"o PSDB deixou esta cidade em situação calamitosa". Serra treplicou, lembrando que o PSDB não
administrou São Paulo em momento algum. Afirmou, em seguida, que, na gestão Marta, "2.500
empresas saíram de São Paulo",
levando capitais de R$ 5 bilhões.
Serra pediu e ganhou o primeiro direito de resposta depois que
Marta o acusou de estar usando
"de má-fé" ou de ser "ignorante
mesmo". Segundo ela, os problemas da cidade haviam sido provocados por "gestões interiores",
em vez de "anteriores", por causa
da política econômica. Serra retrucou, e aí foi a vez de Marta conseguir um direito de resposta, depois que o tucano falou que a petista respondeu a uma pergunta
"de importância com arrogância,
arrogância que não é infreqüente
nos seus comentários".
A partir daí, os candidatos conseguiram se acalmar, mesmo
quando, no quarto e penúltimo
bloco, Serra voltou a perguntar a
Marta. Desta vez, para estranhar
que, entre maio de 2003 e maio
deste ano, a prefeitura tivesse contratado consultorias pelo valor de
R$ 176 milhões, inclusive com
uma fundação ligada ao PT (o
Instituto Florestan Fernandes).
Marta elevou o tom de voz para
responder que governara, desde o
princípio, com "transparência e
honestidade", e afirmou que a
Florestan Fernandes foi contratada por várias cidades, inclusive
pelas governadas pelo PSDB.
Serra insistiu, ao afirmar que a
Prefeitura gastou R$ 8,5 milhões
com uma consultoria para um
serviço de atendimento no centro
da cidade, que "não funciona", e
mais R$ 20 milhões para o Fura-Fila, que também não funciona.
"Onde estão a prioridade e o planejamento?", perguntou.
Marta elevou o tom de voz ainda mais para responder: "Planejamento houve, tanto que você não
tem propostas, a não ser continuar as minhas". Acusou seu
principal rival de "pegar carona
no bilhete único" (um dos principais programas da Prefeitura de
São Paulo). Fechou com: "Agora é
fácil falar; o difícil foi fazer".
Houve um terceiro choque, este
indireto, quando Serra afirmou
que, na tarde de ontem, a prefeitura anunciara cortes orçamentários de R$ 719 milhões, sendo
educação (R$ 88 milhões) e a saúde (R$ 209 milhões) "as principais
vítimas". Marta teve que esperar
uma pergunta de Paulo Pereira da
Silva, o Paulinho (PDT), sobre outro assunto (o bilhete único) para
responder a Serra. "É normal fazer cortes", limitou-se a dizer.
Os três outros participantes do
debate marcaram posições que já
vêm adotando na propaganda.
Paulo Maluf (PP) atacou os governos do PSDB pelos "juros pornográficos" e pela insegurança em
São Paulo ("é mais seguro andar
fantasiado de soldado americano
no Iraque do que na cidade de São
Paulo", chegou a dizer).
Luiza Erundina (PSB) insistiu
na crítica à política econômica,
tanto de Lula como de Fernando
Henrique Cardoso, para atacar os
dois líderes, "que não têm condições de colocar o dedo na ferida"
(o da política econômica, a seu ver
geradora de desemprego, pela estagnação da economia).
Ciro Moura conseguiu decisão
judicial para participar do debate,
embora não esteja entre os cinco
primeiros colocados na mais recente pesquisa do Ibope, que era o
critério de seleção. Fez o que se
imaginava que faria: criticar sempre a gestão de Marta, principalmente, mas também a administração federal.
"Nunca vi o país tão submisso
ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e aos banqueiros", afirmou Ciro.
Lula, aliás, acabou sendo menos
citado do que faria supor a sua intensa presença na propaganda do
PT. Só no último bloco, os dois
minutos de "considerações finais", pouco antes de meia-noite,
é que Marta invocou o presidente,
para lembrar que faz 18 anos que
um prefeito de São Paulo e o presidente da República não são do
mesmo partido.
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