São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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BRIGA ENTRE PODERES

Boca-de-urna será vetada, dizem juízes

Zeca do PT desafia a Justiça Eleitoral de MS; governador vê perseguição à sigla

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, entrou em confronto aberto com a Justiça Eleitoral, que, segundo ele, comete exageros e persegue candidatos petistas ou aliados do partido.
Em Campo Grande, o PT tenta chegar ao segundo turno. As pesquisas de intenção de voto apontam uma possível vitória de Nelsinho Trad (PMDB) já no domingo.
"Preocupados com os últimos acontecimentos de desrespeito à autoridade da Justiça Eleitoral", seis juízes eleitorais de Campo Grande anunciaram anteontem medidas para as eleições.
A primeira delas diz que a "Polícia Judiciária Eleitoral compete exclusivamente aos juízes eleitorais sem interferência de qualquer outra autoridade".
O juiz Luiz Gonzaga Marques disse que a decisão foi uma reação à ordem do governador, que, no fim da semana passada, mandou a Polícia Militar fazer ronda no bairro Residencial Sóter, onde moram ex-favelados, para proteger eleitores com intenção de votar do PT e que estariam, segundo Zeca, sofrendo "coação" e "pressão" do prefeito de Campo Grande, André Puccinelli (PMDB).
Os juízes também recomendaram aos eleitores que, para não serem confundidos com cabos eleitorais, evitem uso de camisetas e bonés de candidatos. Os magistrados disseram que não permitirão boca-de-urna.
A reação do governador veio ontem. "Pedi para [a assessoria jurídica do governo] estudar os exageros que fazem os juízes eleitorais. Querem regulamentar acima da lei. Isso é ditadura, exagero. A mim não vão tutelar. Recomendação para o cidadão não usar camiseta? A lei não fala disso."
Anteontem, o governador petista disse que faria boca-de-urna, que é proibido. Na terça, o governador determinou a suspensão de operações de reintegração de posse até após as eleições.
A ordem afrontou a determinação da juíza Luciane Buriasco de Mello. Ela mandou a PM desocupar na segunda-feira a fazenda Aruanã, localizada em Bonito, invadida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) desde maio de 2003.
Zeca critica a juíza porque ela cassou no início deste mês o registrou da candidatura do prefeito de Bonito, Geraldo Marques (PDT), aliado dos petistas. Marques foi acusado de usar um computador da prefeitura para divulgar propaganda eleitoral. Ele nega. O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) suspendeu a cassação na semana passada.
"Eu não quero acreditar, mas fiquei sabendo que a juíza anda nas escolas pedindo votos contra o PT. Eu vou lá para ver", afirmou Zeca, no comício de segunda-feira à noite ao lado do ministro José Dirceu (Casa Civil), que veio a Campo Grande apoiar o sobrinho do governador, Vander Loubet (PT), candidato a prefeito.
A juíza nega que tenha visitado escolas para fazer campanha contra o PT, mas fez palestras para estudantes sobre as eleições.


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