São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Eleições 2006

Heloísa Helena

Roberto Setton
Heloísa Helena profere palestra na Confederação de Lojistas de Aracaju


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

"A pergunta vai para a senadora Heloísa Helena", anuncia o adversário Geraldo Alckmin. É sobre "energia". HH usa seus dois minutos para acabar com a política energética do governo Lula. Fala de mensalão, dólares na cueca, dinheiro desviado.
Tempo encerrado, e na oitava fila do teatro Gazeta, onde acontece o debate, militantes do ultra-esquerdista PSTU se remexem nas poltronas. "Pô, nenhuma menção ao apagão do FHC? É gozação." No jargão esquerdista, HH comportou-se como "correia de transmissão dos interesses tucano-pefelistas". Logo ela, que enche o peito para proclamar: "À esquerda de mim, só o precipício"?
Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho, 44, gosta de se definir como "trotskista-cristã". Trotskista, como Lev Davidovitch Bronstein, apelido Trotski, um dos líderes da Revolução Russa de 1917. E cristã, como Trotski rejeitaria. Para HH, o mix é "uma declaração de amor à humanidade".
Na prática, a senadora Heloísa Helena tem sido uma aguerrida defensora do conservadorismo nos costumes, uma marca registrada da direita. Votou contra a autorização de pesquisas com células-tronco de embriões e atuou contra a descriminalização do aborto -a pauta nem chegou a ir a voto.
Em 1996, durante a disputa eleitoral pela Prefeitura de Maceió, HH denunciou -foram advogados de sua candidatura, diz ela- uma rival por "conduta sexual atípica". A "atipicidade" residiria no fato de Kátia Born ser homossexual. Tamanha incorreção política obrigou HH a pedir desculpas. Kátia Born nunca as aceitou.
Na mesma campanha, HH "dedurou" a adversária: "Os comunistas apóiam Kátia Born. Eu sou cristã. Sou católica e meu vice é evangélico". Dias antes, no programa eleitoral de rádio, lera, inteira, a "Oração a São Francisco de Assis".
É sempre São Francisco, a quem HH chama de "São Chiquinho". Repare: os eternos rabo-de-cavalo, jeans e blusinha branca, uniforme de candidata despojada, têm a companhia de um sutil anel de casca de coquinho, como os dos padres da Teologia da Libertação, para quem "São Chiquinho" é herói.
A carolice de HH vem da infância em um colégio de freiras de Palmeira dos Índios, cidade do agreste alagoano que se vangloria de ter sido governada pelo escritor Graciliano Ramos entre 1927 e 1930. Até hoje, HH tem pouso lá, na casa do irmão Hélio, onde tem o quarto sempre preparado: terço no espaldar da cama, crucifixo de um lado e a imagem de um "Che" Guevara do outro.
A loquacidade ríspida é marca registrada da candidata. "Como já dizia o camarada Jesus, é quente ou frio -o morno eu vomito." A respeito de suas preferências amorosas, afirmou recentemente: "Não durmo com homem rico e ordinário. Eu vomito em cima." Capitalistas?
"Vão virar churrasco do demônio." Seus ex-companheiros do PT são uma "corja de ladrões". Os parlamentares da base governista não passam de "bajuladores baratos". E por aí vai.
Eleita para o Senado pelo PT em 1998, Heloísa votou contra quase todos os principais projetos do governo Lula, desde as reformas da Previdência e tributária até a Lei de Falências e o envio de tropas para o Haiti.
Trotsko-cristianismo à parte, HH foi extensão estridente das bancadas do PSDB e do PFL no Senado. Uma década antes, Lula fora seu maior ídolo. Passou.
Magrinha (48 quilos), baixinha (1,60 m), nascida em Pão de Açúcar (AL), Heloísa Helena (Loló para os íntimos) não é fraquinha, não. As blusas com mangas curtas bufantes revelam bíceps bem torneados à custa de madrugadas de remo no lago Paranoá. Adora comida macrobiótica e vegetariana, mas não vive sem Coca light.
Formada em enfermagem e professora licenciada de epidemiologia do Centro de Saúde da Universidade Federal de Alagoas, Heloísa Helena começou a carreira política no movimento estudantil. Companheiros desde essa época dizem que ela é uma camarada disciplinada que nunca chega atrasada, é incapaz de dar "carteiradas" e é "trabalhadeira demais".
Durante a CPI dos Correios, HH passou várias noites estudando documentos na secretaria. De manhã, às 6h, era uma das primeiras a chegar.
O dedo fininho sempre em riste e o discurso violento deram à senadora alagoana a fama de brava, mas os amigos dizem que é apenas veemência oriunda da convicção. "Ela não faz jogo, ela não blefa. É autêntica", diz um companheiro de PSOL.
Quando não está brigando ou "vomitando" sobre seus adversários, para usar a imagem da própria candidata, é um "doce". Bem antes de Xuxa dar o nome Sasha à filha, HH batizou o filho mais velho, hoje com 23 anos, de Sacha (diminutivo de Alexandre). Depois, veio Ian, agora com 20. Mãezona, liga para os dois todos os dias. Namorado? HH, que já foi casada duas vezes, no momento está solteira. No apartamento funcional de Brasília, só o gato Chatinho e a cadela rottweiler Helen. A mãe de Heloísa Helena, que também se chama Helena, diz que Loló virou freira.

Colaboraram LUIZ FERNANDO VIANNA , enviado especial a Palmeira dos Índios (AL), e FERNANDA KRAKOVICS , da Sucursal de Brasília

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