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POR QUE VOTO EM ALCKMIN
Recuperar a lisura no trato da coisa pública
BORIS FAUSTO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Voto em Geraldo Alckmin
porque ele é o candidato mais
comprometido com dois valores que considero fundamentais para a consolidação de
uma sociedade democrática: a
lisura no trato dos assuntos
públicos e a separação entre os
interesses de grupos e partidos, e os interesses do Estado e
do governo.
Voto também em Geraldo
porque é candidato de um conjunto de forças políticas e sociais que tem uma visão mais
clara dos caminhos para o desenvolvimento sustentado do
Brasil, em bases não predatórias, capaz de proporcionar
melhor distribuição de renda.
Quando afirmo que voto em
Alckmin, sei que estou em consonância com a voz de milhões
de brasileiros que já fizeram
essa escolha. Mas procuro contribuir para uma decisão nesse
sentido, pelos eleitores indecisos, que estão longe de se identificar com os indiferentes.
Ao contrário de seu principal
adversário, Alckmin não se
apresenta como um herói-salvador, desses que já fizeram
muito mal ao país, mas como
um político sério, responsável,
honesto -qualidades tão necessárias quanto desprezadas
por muitos, nos dias que correm. Ao mesmo tempo -crítico do governo Lula desde a primeira hora-, não embarco em
certas ironias preconceituosas
lançadas à sua pessoa. Não é aí
que a porca torce o rabo, como
se dizia em tempos passados.
Por que escolher Alckmin e
não deixar tudo como está, por
mais quatro anos? Pela simples razão que é inviável aceitar a continuidade de um governo que, se não foi um desastre no manejo da economia,
provocou um grande abalo às
já não muito sólidas instituições da democracia e da República em nosso país.
É verdade que o governo Lula conseguiu superar um momento difícil da transição, gerada em grande parte pela própria incerteza quanto à sinceridade da adoção de uma política econômica responsável. É
verdade também que, depois
do espalhafato do Fome Zero,
o governo conseguiu montar
um programa assistencial voltado para a população mais carente. Se ele atende a necessidades prementes, que não podemos ignorar, não contribui
para resolver a questão básica
da pobreza.
Tanto mais porque o assistencialismo se ampliou sem a
exigência de contrapartida dos
assistidos, e se converteu numa rede clientelista de grandes
proporções, de onde extraem-se milhões de votos ao candidato-presidente.
O ponto vergonhoso do atual
governo e do PT é, no entanto,
o descalabro moral e a proliferação da ilegalidade. Impossível detalhar aqui o chorrilho de escândalos que começou com
o personagem Valdomiro Diniz, assessor do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e chegou, até o momento, ao caso escabroso da
compra do dossiê, que supostamente atingiria os candidatos Alckmin e Serra, com milhões de dólares saídos bem se
pode imaginar de onde.
Dentre os muitos males que
esses fatos espantosos provocaram, encontra-se o bloqueio
intelectual de algumas cabeças
outrora pensantes, as quais,
tentando fugir às dolorosas
evidências, embarcaram no irracionalismo das "teses" da
conspiração das elites, do golpismo, da "ilusão midiática".
Pior do que isso é o fato de que
a desmoralização do PT dificultou em muito o esforço de
diferentes correntes políticas
no sentido de se chegar a um
consenso básico sobre questões vitais para o futuro do
país. Entre elas, a necessidade
de se desatar o nó do crescimento medíocre dos últimos
quatro anos, apesar das promessas do candidato-presidente de nos proporcionar o
"espetáculo do crescimento",
ou a necessidade de se enfrentar a criminalidade com iniciativas de conjunto nacionais e
estaduais, antes que seja tarde.
Política externa não é um tema rentável na propaganda
eleitoral. Boa razão para lembrá-lo aqui. Pelo seu perfil e pelas forças políticas que o
apóiam, estou seguro de que
Alckmin retificará os descaminhos do atual governo, retomando as melhores tradições
do Itamaraty. O Brasil necessita de uma liderança firme, que
evite as bazófias do gênero "hegemonia do Brasil na América
do Sul", propaladas pelo candidato-presidente nos primeiros
tempos de seu governo, e evite
ao mesmo tempo as capitulações afrontosas, como se viu no
caso da Petrobras na Bolívia.
Afinal, penso que, na conjuntura atual, é muito importante
levar a disputa para um segundo turno, seja porque ele forçará o debate, rompendo o cômodo monocórdio de Lula, seja
porque aumentará consideravelmente as possibilidades de
vitória de Alckmin. Alckmin
não fará "milagres", mas será
muito melhor para o Brasil do
que os atuais detentores do poder.
BORIS FAUSTO é historiador e preside o conselho acadêmico do Gacint (Grupo de Conjuntura
Internacional), da USP. É autor, entre outros, de
"A Revolução de 1930" (Companhia das Letras)
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