São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2011

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OPINIÃO

Tempo ruim ameaça, mas não atrapalha festa petista

FERNANDO DE BARROS E SILVA
COLUNISTA DA FOLHA

Começou como um filme da Família Adams. O céu sobre a Esplanada dos Ministérios escureceu rapidamente e a água caiu forte no início da tarde. Eram 14h25. Exatamente no momento em que Dilma Rousseff começava o trajeto entre a Catedral de Brasília e o Congresso.
O primeiro contato da presidente com a população foi frustrado pela natureza: Dilma teve que fazer o percurso num Rolls-Royce fechado.
As seguranças da Polícia Federal que a acompanhavam correndo ao lado do carro ficaram como o povo atrás das grades que cercavam o Congresso -ensopadas.
Minutos antes do temporal, um pregador evangélico circulava entre a multidão distribuindo panfletos:
- "É incorruptível! Este é incorruptível!!"
- "Quem?!", perguntou o funcionário público aposentado Geraldo Bastos, 73, maranhense de origem, em Brasília há mais de 30 anos, ali desde as 10h30.
- "Jesus! Jesus é incorruptível!", dizia o pregador.
- "Ah, bom", reagiu Bastos, que depois completou baixinho: "Mas não quem fala em nome dele..."
A seu lado, o baiano Israel dos Santos, 67, porteiro de um prédio em Brasília, "petista roxo", brincava ao celular, antes da chegada de Dilma: "Ô mulher, cadê você que não vem?". E emendou: "Se fosse o Lula, já tava lá no palácio, tomando umas".

DESFILE
Estiou e Dilma, enfim, desfilou em carro aberto entre o Congresso e o Palácio do Planalto, depois do seu primeiro discurso. Acenou para a multidão, sorriu, foi retribuída com gritos, faixas, bandeiras, clima de festa. Nada como a catarse que se viu em 2003, mas, sim -festa.
Dilma tenta se habituar ao contato popular; os petistas tentam se habituar a ela.
Quando Lula apareceu na porta do palácio, os convidados sob a rampa logo cantaram o famoso Lulááá"-Lulááá". Ouviram-se alguns "eu te amo" (vozes de homens também) e até um "Corinthians", que arrancou um sorriso do presidente.
O momento de maior comoção ocorreu, como era esperado, quando Dilma e Lula se encontraram.
Sob a rampa, várias pessoas choravam, outras tantas filmavam a transmissão da faixa com o celular.
Com exceção da chuva, que ameaçou atrapalhar a festa, tudo ocorreu conforme o figurino, do discurso ponderado da presidente às emoções suscitadas pela cerimônia, espontâneas, mas certamente menos intensas (ou menos épicas) do que se viu oito anos atrás.
Agora, o país está sob nova direção.


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