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COMPORTAMENTO
Melancolia crônica não é
normal e deve ser tratada
Diagnóstico de
depressão e de
distimia, males
comuns na
terceira idade,
não são feitos
devido à
imagem da
velhice como a
fase da tristeza
Tristeza não é uma consequência da velhice. O idoso que apresenta um quadro persistente de
apatia em relação à vida está doente. Ele pode estar com distimia ou
depressão, doenças que têm cura.
Distimia é uma tristeza prolongada. Os sintomas são semelhantes aos da depressão: o paciente está sempre melancólico, sem interesse por nada, não tem prazer em
comer, passear ou se divertir. As
atividades rotineiras passam a ser
um estorvo.
Perda ou excesso de sono, mudança na alimentação, redução da
capacidade de raciocinar e idéias
suicidas são situações recorrentes.
A postura corporal também pode
se tornar mais arqueada.
Na depressão, um quadro mais
grave, predominam queixas físicas, sem que exista nenhuma
doença específica.
Segundo estimativas de especialistas, tanto a depressão quanto a
distimia atingem de 10% a 15% da
população em todas as idades.
No entanto, João Toniolo, 39,
diretor-clínico do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo,
acredita que a distimia aumenta a
partir da terceira idade.
Baseado na sua experiência clínica, Toniolo estima que a ocorrência seja pelo menos o dobro do
registrado, podendo chegar a 40%.
Essa subavaliação entre os mais
velhos, de acordo com Toniolo, se
deve à dificuldade de diagnóstico e
à intensidade dos sintomas.
Enquanto na depressão as evidências são mais claras, a gradual
evolução do desânimo do distímico mascara a enfermidade.
Num primeiro momento, ele fica mais abatido devido, por exemplo, à aposentadoria. Em seguida,
sofre novos estímulos negativos,
como a perda de amigos e parentes próximos. Cresce sua debilidade emocional.
Nesse ponto, ele pode atingir um
patamar do qual dificilmente retornará sem ajuda médica.
Outra dificuldade em determinar a doença está no preconceito
de que a velhice é triste. As pessoas
não imaginam que o avô que se
queixa o tempo todo ou passa o
dia em casa pode estar doente. É
comum culpar a idade.
Segundo Toniolo, a depressão e
a distimia dependem também de
uma propensão genética. Históricos depressivos e casos de suicídio
na família aumentam as chances
de a doença se manifestar.
Os homens de classe média e alta
são as principais vítimas da depressão. Ao perderem status profissional e financeiro, deixam de
ser os provedores da casa. A falta
de um papel social os leva à depressão.
As mulheres que vivem na casa
dos filhos também são mais vulneráveis. Ao se mudar, a idosa em
geral entra em atrito com a pessoa
responsável pela casa e perde seu
papel de "matriarca". A sensação de inutilidade a deixa deprimida.
A psicóloga Elvira Wagner usa
um ideograma chinês para explicar a situação: para representar a
paz, os chineses desenham uma
mulher embaixo de um teto; para
simbolizar a guerra, colocam duas
mulheres sob esse mesmo teto.
Prevenção e tratamento
O uso de antidepressivos associado à orientação psicológica é
necessário na maioria das vezes.
Em casos graves de depressão, pode ser indicado tratamento com
eletrochoques.
A prevenção é mais simples. Estar ocupado, fazer exercício, ter
uma atividade intelectual e manter
um círculo de amigos ajudam a
evitar a depressão e a distimia.
João dos Santos, 92, viúvo, e Angelina Pires, 68, divorciada, por
exemplo, namoram há seis anos e
dançam todo dia em matinês de
vários salões da cidade.
Desde que aprendeu a dançar,
aos 60 anos, Pires não perde um
baile. "Já fizemos muitos amigos
e até fomos viajar juntos", conta.
Mas receitar atividades para
quem já está deprimido ou distímico não funciona. Com a perda
do interesse pela vida, o doente sequer sai de casa.
(ANDRÉ SOLIANI)
(LÚCIA RODRIGUES)
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