São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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PRESIDÊNCIA / ESTRATÉGIA PARA O 2º TURNO

Lula quer usar Aécio e Serra em "guerra"

Presidente tenta se aproximar de tucanos, que estão de olho em 2010, e deve telefonar para os dois hoje para congratulá-los

Além da disputa política, presidente espera enfrentar também batalha jurídica no TSE por conta da compra de dossiê contra tucanos


KENNEDY ALENCAR
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Avaliando que é "imponderável" o resultado do segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se prepara para uma "guerra" contra os que chama de "radicais da oposição", segundo expressão de um auxiliar direto que integrava o grupo que acompanhou a apuração ontem à noite no Palácio da Alvorada.
O presidente dará especial atenção a dois tucanos que coloca no time de oposicionistas moderados: Aécio Neves, reeleito governador de Minas, e José Serra, que venceu a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Deve telefonar para os dois hoje a fim de congratulá-los. Também ligará para os demais eleitos em primeiro turno.
Na visão do presidente, Serra e Aécio, potenciais candidatos à Presidência em 2010, podem trazer equilíbrio e moderação ao segundo turno. Aécio já pregou ontem pacificação. E Serra disse que não vê ação eleitoral nas operações da Polícia Federal, como na investigação da compra do dossiê contra tucanos por petistas.
De acordo com auxiliares, Lula pretende derrotar Alckmin e criar um "triunvirato" com Aécio e Serra para tentar dar as cartas na política brasileira nos próximos anos. Sabe que terá de descer do pedestal (evitou debates no primeiro turno, cantou vitória) e entrar no ringue contra Alckmin.
Uma eventual vitória de Alckmin não interessa a Serra e a Aécio, que, pela votação expressiva, se tornariam as principais figuras da oposição na hipótese de reeleição do petista.
Na lista de Lula, os "radicais" são o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os presidentes do PSDB e do PFL, pela ordem, os senadores Tasso Jereissati (CE) e Jorge Bornhausen (SC), e o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL).

"Na marra, não"
Lula e ministros acompanharam a apuração ontem à noite no Alvorada. Às 21h15, auxiliares do presidente tinham esperança de vitória no primeiro turno. Estrategistas da campanha fizeram projeção de vitória com 1 milhão de votos de folga.
Presente, Dilma Rousseff (Casa Civil) dizia "não vai ter segundo turno, não vai ter". Na conversas reservadas, Lula tem dito que só admitirá deixar o poder pelo voto -numa referência a um eventual processo de impeachment ou impugnação da candidatura pelas denúncias recentes.
"Não vão me tirar na marra", disse o presidente a um ministro na sexta-feira, dia em que foram divulgadas as fotos dos reais e dólares da compra do dossiê. Lula repetiu o mesmo raciocínio ontem no Alvorada.
O presidente sustenta que não teve participação na tentativa de petistas de comprar o dossiê contra o PSDB.

Justiça
Lula acredita que terá de enfrentar uma batalha jurídica, além da política. Ele e auxiliares crêem que o pedido de impugnação de candidatura ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), feito pela oposição após o caso dossiê, criará dificuldades de governabilidade.
Daí avaliar ser preciso manter canais com oposicionistas moderados. Assim, sinalizará desde o início de uma eventual segunda fase que faz distinção entre os líderes da oposição.
O presidente Lula acredita que um segundo turno seria muito duro, com contundência ainda maior dos setores que atacam frontalmente ele e o governo.


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