São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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ESTADOS/SÃO PAULO

Mercadante culpa dossiê por sua derrota

Candidato parabeniza Serra pela vitória e diz que o envolvimento de petistas no escândalo prejudicou sua campanha

O senador é hostilizado quando chega para votar por um grupo de eleitores que grita: "tira o dinheiro da cueca" e "mensaleiro

ROGÉRIO PAGNAN
MATHEUS PICHONELLI

DA REPORTAGEM LOCAL

Ainda faltavam mais de 40% dos votos para serem apurados, às 21h55 de ontem, quando o candidato petista ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, reconheceu a vitória do tucano José Serra e culpou a crise provocada pelo escândalo do dossiê pela sua derrota nas urnas.
"A campanha não evoluiu como eu tinha imaginado. O envolvimento de alguns petistas nesse lamentável episódio do dossiê prejudicou de forma decisiva a campanha. Seguramente, se não tivesse ocorrido esse episódio, eu estaria aqui me preparando para o segundo turno", afirmou o petista que naquele momento tinha 3,9 milhões de votos, ou 31% dos votos válidos -percentual semelhante ao divulgado à 0h (31,7%), quando Serra já aparecia com 12,4 milhões de votos (ou 57,9% dos votos apurados).
"Ainda que a apuração não tenha encerrado, acho que não há elementos que possam reverter o resultado das eleições. Portanto eu cumprimento publicamente o novo governador, que foi eleito democraticamente pelo povo do nosso Estado", disse o petista que, visivelmente abatido, não quis responder a perguntas dos jornalistas nem comentar os números da disputa presidencial.
Apesar de parabenizar o vencedor, o senador disse que terá "um olhar muito atento" para fiscalizar o cumprimento das promessas feitas por Serra durante a campanha. Ele citou os dois professores na sala de aula, a ampliação do metrô, renovação dos trens da CPTM, a duplicação da rodovia dos Tamoios, acabar com as filas na saúde e, o que chamou de maior desafio, de "ser o comandante" da política de segurança pública. "São Paulo não pode continuar como está", afirmou.
Ao lado da candidata a vice, Nádia Campeão (PC do B), e do presidente do PT estadual, Paulo Frateschi, Mercadante fez agradecimentos aos militantes, à família, à ex-prefeita Marta Suplicy, ao senador Eduardo Suplicy, ao presidente Lula e "ao povo de São Paulo" pela "expressiva votação".
"É um voto que nos enche de energia e vontade de continuar defendendo este Estado, este povo", disse. "A gente aprende não só com as vitórias mas também com as derrotas e tenho certeza de que esse capítulo da história brasileira também vai pesar uma série de aprendizados a todas as instituições democráticas do Brasil."

Hostilidade
À tarde, quando chegou para votar no colégio Santa Clara, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), Mercadante se deparou com com um grupo de manifestantes que distribuía nariz de palhaço e passou a hostilizar o candidato com palavras como "mensaleiro" e "dinheiro na cueca". "Tira o dinheiro da cueca", gritava o fotógrafo Dedê Febrizzi, 45, um dos manifestantes.
O candidato estava acompanhado da mulher Regina, dos filhos Pedro e Mariana, além da sua candidata a vice Nádia Campeão (PC do B) e do senador Eduardo Suplicy.
Petistas e manifestantes chegaram a trocar empurrões e ofensas, mas não houve agressão. Pela manhã, Mercadante esteve com Lula, no local de votação do presidente em São Bernardo do Campo (SP). Sempre em desvantagem nas pesquisas eleitorais durante toda a campanha, o senador viu suas chances de chegar ao segundo turno implodirem após o envolvimento de seu coordenador de campanha, Hamilton Lacerda, na compra do dossiê contra seu adversário José Serra. Mercadante sempre negou envolvimento no episódio.
Segundo petistas, o senador permaneceu na disputa mais para tentar minimizar o estrago em sua imagem pública do que tentar chegar ao segundo turno. Seu papel também era trabalhar numa vitória de Lula no primeiro turno, defendendo o presidente de participação na compra do dossiê.


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