São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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Homem da mala com R$ 1,7 mi enterra candidatura do PT

MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT paulista já andava manco depois da crise do mensalão, que envolveu não só as figuras ilustres que fundaram o partido, como José Dirceu e José Genoino, mas também lideranças expressivas do ABC, como João Paulo Cunha, Professor Luizinho e José Mentor.
A crise do dossiê foi o solavanco mortal que minou as pretensões futuras do senador Aloizio Mercadante. O líder do governo no Senado sai da eleição bem menor do que entrou.
A derrota no Estado seria uma fatura já esperada, mas Mercadante não contava com o abalo de sua relação com o presidente Lula.
Hamilton Lacerda, o homem apontado pela Polícia Federal como o portador da mala de dinheiro (R$ 1,7 milhão) que pagaria o dossiê dos Vedoin contra políticos do PSDB, não era apenas um dos coordenadores da campanha de Mercadante. Foi contratado como assessor parlamentar do senador em março deste ano.
"Ninguém aqui no ABC sabia que ele era assessor do Mercadante", contou um petista da região. Antes mesmo do dia da eleição, políticos do ABC já diziam em reuniões privadas que foi um equívoco ter avalizado a candidatura de Mercadante. "Marta teria mais chances", arrependiam-se petistas.
No raciocínio pós-eleitoral feito no PT paulista, o pleito de 2006 credenciou, internamente, a ex-prefeita Marta Suplicy para a disputa da prefeitura de São Paulo em 2008.
Marta cumpriu uma missão partidária, dizem. Perdeu a prévia para Mercadante. Assimilou. Foi a todos os comícios no Estado com a presença de Lula e Mercadante.
Apostar que ela já é a escolhida para disputar a prefeitura, porém, é bastante temerário.
A lição das duas crises, para os petistas, é que novas lideranças e interlocutores precisam ser formados. "Acabou a fase de celebridades", avisa um integrante da cúpula. Isso significa que Marta precisará conquistar outras correntes petistas.
"A militância vai querer entrar no jogo. Não dá mais para ninguém ter poder absoluto. Eu defendo a requalificação do PT", afirma o líder do governo na Câmara, o paulista Arlindo Chinaglia. Apesar de admitir o desgaste da legenda no Estado, Chinaglia ressalva: "Não analiso o PT paulista apenas pelos episódios ruins. Ele tem uma história. O PT, primeiro, tem que recuperar a sua autoridade na sociedade", explica.
É consenso que começa uma disputa por hegemonia no PT. Mas os petistas sabem que a guerra fratricida será, novamente, mortal. Toda briga interna do PT que se torna pública, por inabilidade de seus políticos, fragiliza a legenda. A história já se repetiu bastante.

Novas promessas
Outro consenso é que, se Lula for eleito e não fizer um bom governo, o projeto de 2008 em São Paulo está automaticamente ameaçado.
O grupo da ex-prefeita também engajou-se na eleição do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Se eleito, Palocci volta para a Câmara credenciado para a chamada operação de bastidores. Ele não ocuparia nenhum posto chave num eventual governo Lula. Mas jamais deixará de ser interlocutor respeitado.
João Paulo Cunha também pode voltar. Mas nenhum deles ousará disputar poder no PT, pelo menos por enquanto. Há novas promessas do PT paulista na Câmara: José Eduardo Cardozo, Arlindo Chinaglia e Vicentinho. Nomes que podem entrar na disputa pela presidência da Casa. Uma briga que antecede 2008, mas também crucial para a hegemonia dos paulistas, que vão disputar com os petistas do resto do país.


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