São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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Morador tem preocupação com o corpo e com a alma

Pesquisa do Datafolha mostra que o habitante dessa região da cidade dedica atenção especial ao corpo e à saúde, mas também não descuida do lado espiritual. Quando se trata de questões polêmicas, como o aborto ou a descriminalização da maconha, ele defende posições liberais



AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles se preocupam com a saúde e com o corpo. Comem mais salada do que a média dos habitantes da cidade e são os que mais freqüentam academias. Costumam sair de São Paulo nos finais de semana, mas estão satisfeitos em morar na cidade. De acordo com a pesquisa do Datafolha, essas são algumas características comuns aos moradores da região Jardins/centro-sul, que engloba os distritos Campo Belo, Consolação, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Moema, Saúde e Vila Mariana.
De acordo com o levantamento, 25% dos entrevistados fazem caminhadas, 11% são adeptos da ginástica e 10% praticam musculação -no total, 39% deles freqüentam academias.
A tradutora Rosana Alves (idade não-revelada), que mora na Vila Mariana, representa bem o habitante da região. Ela corre diariamente no parque Ibirapuera, onde leva a cadela Dolly para passear. "Eu também jogo vôlei e basquete e faço musculação", diz ela, que mora há quatro anos na região e considera "um privilégio" viver perto do parque. Ela procura comer alimentos saudáveis e, assim como para 6% dos entrevistados, as saladas não podem faltar em seu prato.
Em relação à religião, a tradutora é católica -bem como 58% dos entrevistados. Nessa área, no entanto, o número de espíritas (12%) é bastante superior à média da cidade (6%), e uma parte considerável dos moradores (11%) afirma que não tem religião.

Espiritismo
Entidades religiosas contatadas pela Folha nesse pedaço nobre de São Paulo afirmam que o número de adeptos vem aumentando nos últimos anos. "Começamos a dar passes [no espiritismo, a palavra significa algo como transmissão de energia] em uma única sala. Hoje, já usamos três ambientes e ampliamos os dias de funcionamento", diz Kiyoko Nishikawa, 62, coordenadora do Grupo Noel, de orientação espírita. De acordo com ela, cerca de mil pessoas freqüentam a entidade da Vila Mariana aos sábados.
"Os motivos que trazem as pessoas aqui são muitos. Mas, no geral, elas sempre buscam esperança. Com a vida que se leva hoje em dia, é muito difícil manter o equilíbrio interior", diz a espírita Kiyoko.
A aposentada Maria Lúcia Calafiori, 53, criada em família católica, decidiu seguir o espiritismo há nove anos. "Achei que era hora de começar a cuidar do espírito. Em casa, sou a única que pratica essa religião. Meus filhos não acreditam e meu marido fica em cima do muro", afirma ela, que é voluntária de evangelização infantil.
De acordo com os dados da pesquisa, os moradores dessa região de São Paulo exibem um perfil liberal no que se refere a questões morais. Para 26% dos entrevistados pelo Datafolha na área, o aborto deveria ser permitido em mais situações -hoje, ele é admitido em casos de estupro ou quando a mãe corre risco de morte durante a gestação. No restante da cidade, a média é de 18%.
"Eu acredito que a mãe tem o direito de querer ou não, independentemente da forma como foi gerada a criança. Acho melhor não nascer do que ser uma pessoa problemática", diz a dona-de-casa Silvia Ulmer, 55, moradora do Brooklin, em Moema.
Com relação à maconha, 24% opinam na região que o uso da droga deveria deixar de ser crime -a média, na cidade, é de 15%.
"Não acho a maconha pior do que cigarro ou álcool. E considero o exemplo da Holanda bem-sucedido: li que nesse país os usuários não costumam migrar para outras drogas mais fortes, o que acontece em países onde ela é proibida. Além disso, a criminalidade diminui", afirma o empresário Mario Telles de Menezes Manzoli, 31, morador do Itaim Bibi. Ele acredita que, no futuro, o uso da droga será liberado.
"A cada dia, mais nações dão passos nessa direção", afirma. Como exemplo, ele lembra o caso do Reino Unido, onde foi estabelecida a não-punição do consumo e da posse de pequena quantidade de maconha, em janeiro deste ano.

Lazer e cultura
Além de viajar a lazer nos finais de semana (71%), os moradores da região aproveitam o tempo livre para ir ao cinema -69% freqüentam pelo menos uma vez por semana-, para assistir a peças de teatro (51% vão semanalmente), ir a shows (52%) e alugar DVDs (34%). Para Silvia, o melhor programa é ir a livrarias -tipo de diversão compartilhada por 62%.
E, assim como Rosana, 87% dos entrevistados costumam freqüentar parques. Na região, além do Ibirapuera, existe o Trianon.


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