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Wadowice se cala após silêncio do "filho"
ROZANE MONTEIRO
ENVIADA ESPECIAL A WADOWICE
Em sua cidade natal, Wadowice,
sul da Polônia, João Paulo 2º sempre será Jan Pawel 2º, nome da
praça onde, na última semana, foram realizadas missas a cada hora
na basílica de Nossa Senhora.
Foi nessa praça que a cidade
soube da morte de João Paulo 2º,
anunciada ao microfone pelo padre que celebrava mais uma daquelas missas por volta das 22h.
Ontem à noite, primavera fria
na Polônia, ninguém falou uma
palavra. De fora da igreja, o que se
ouvia eram os sinos, que soaram
por quase meia hora, e o soluço de
uma gente que acha muito difícil a
Igreja Católica achar um sucessor
à altura de Karol Wojtyla.
"Para nós, ele sempre foi parte
das nossas vidas", explicou Marta
Walczak, 23, que trabalha numa
empresa de exportação em Wadowice. Marta lamentava o destino de João Paulo como quem sofre por alguém muito próximo:
"Ele sempre esteve em nosso coração, como um amigo mesmo".
Marta traduzia o que estava escrito no rosto de cada polonês na
praça ontem, quando João Paulo
2º morreu. Choraram todos. Os
mais velhos, que, com certeza, se
lembram de quando foi eleito o
primeiro papa não-italiano desde
1523; as crianças, que não pareciam entender muito o que se passava, e os adolescentes, que pouco
antes do anúncio da morte do papa se divertiam nos pontos da
moda das redondezas. Os jornalistas poloneses não pararam seu
trabalho, mas o fizeram com lágrimas no rosto, e alguns se ajoelharam por alguns minutos.
Inglês fluente, Marta serviu de
intérprete para a família de
Grajny Lessek, 45, mecânico, que
também estava ontem na praça.
Grajny tem certeza de que o período em que João Paulo 2º comandou a igreja foi decisivo para
o destino da humanidade, especialmente por ele ter promovido,
segundo o mecânico, uma maior
harmonia entre os seguidores das
diversas religiões do mundo.
Sua mulher, Barbara Grajna, 44,
contadora, concordou, mas fez
questão de mencionar que o marco de João Paulo 2º foi seu empenho contra o comunismo em seu
país -ele se referia ao apoio que
o papa deu ao então sindicalista
Lech Walesa em sua luta contra a
ditadura comunista na Polônia.
"Naquele tempo, a gente não podia nem rezar, era proibido."
Grajny, Marta e ainda a amiga
Barbara Becker, 48, funcionária
de uma fábrica de doces na cidade, concordaram que não vai ser
fácil encontrar alguém para dar
continuidade à "obra de João
Paulo 2º".
A mulher do mecânico foi a única que nem respondeu à pergunta. Riu de lado, triste, baixou os
olhos e disse que simplesmente
não vai ser possível achar um homem como "Jan Pawel".
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