São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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Wadowice se cala após silêncio do "filho"

ROZANE MONTEIRO
ENVIADA ESPECIAL A WADOWICE

Em sua cidade natal, Wadowice, sul da Polônia, João Paulo 2º sempre será Jan Pawel 2º, nome da praça onde, na última semana, foram realizadas missas a cada hora na basílica de Nossa Senhora.
Foi nessa praça que a cidade soube da morte de João Paulo 2º, anunciada ao microfone pelo padre que celebrava mais uma daquelas missas por volta das 22h.
Ontem à noite, primavera fria na Polônia, ninguém falou uma palavra. De fora da igreja, o que se ouvia eram os sinos, que soaram por quase meia hora, e o soluço de uma gente que acha muito difícil a Igreja Católica achar um sucessor à altura de Karol Wojtyla.
"Para nós, ele sempre foi parte das nossas vidas", explicou Marta Walczak, 23, que trabalha numa empresa de exportação em Wadowice. Marta lamentava o destino de João Paulo como quem sofre por alguém muito próximo: "Ele sempre esteve em nosso coração, como um amigo mesmo".
Marta traduzia o que estava escrito no rosto de cada polonês na praça ontem, quando João Paulo 2º morreu. Choraram todos. Os mais velhos, que, com certeza, se lembram de quando foi eleito o primeiro papa não-italiano desde 1523; as crianças, que não pareciam entender muito o que se passava, e os adolescentes, que pouco antes do anúncio da morte do papa se divertiam nos pontos da moda das redondezas. Os jornalistas poloneses não pararam seu trabalho, mas o fizeram com lágrimas no rosto, e alguns se ajoelharam por alguns minutos.
Inglês fluente, Marta serviu de intérprete para a família de Grajny Lessek, 45, mecânico, que também estava ontem na praça.
Grajny tem certeza de que o período em que João Paulo 2º comandou a igreja foi decisivo para o destino da humanidade, especialmente por ele ter promovido, segundo o mecânico, uma maior harmonia entre os seguidores das diversas religiões do mundo.
Sua mulher, Barbara Grajna, 44, contadora, concordou, mas fez questão de mencionar que o marco de João Paulo 2º foi seu empenho contra o comunismo em seu país -ele se referia ao apoio que o papa deu ao então sindicalista Lech Walesa em sua luta contra a ditadura comunista na Polônia. "Naquele tempo, a gente não podia nem rezar, era proibido."
Grajny, Marta e ainda a amiga Barbara Becker, 48, funcionária de uma fábrica de doces na cidade, concordaram que não vai ser fácil encontrar alguém para dar continuidade à "obra de João Paulo 2º".
A mulher do mecânico foi a única que nem respondeu à pergunta. Riu de lado, triste, baixou os olhos e disse que simplesmente não vai ser possível achar um homem como "Jan Pawel".


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