São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Chorão", Lula troca tensão por lágrimas

Presidente diz que viveu um dia dos mais emocionantes

DOS ENVIADOS A COPENHAGUE

O lenço levado ao rosto diversas vezes durante a entrevista coletiva da candidatura vitoriosa, o rosto inchado e os olhos muitos vermelhos delataram o que seria colocado em palavras minutos depois.
A escolha do Rio para sediar os Jogos de 2016 foi, "talvez", o dia mais emocionante da vida do presidente Lula.
"E eu, que achava que não tinha mais motivo para emoção, porque já fiz tanta coisa na minha vida, conheci tanta gente, pensei que não ia mais me emocionar", disse Lula. "Mas [ao ouvir o anúncio] eu era o mais emocionado e o mais chorão."
O presidente disse que não aguentava olhar para o lado e ver Bárbara Leôncio, 17, campeã mundial juvenil de atletismo, em prantos a toda hora. E que chorou na coletiva porque não teve "coragem de chorar durante a apresentação".
Logo Lula começaria a desfilar agradecimentos. Primeiro, pelo "carinho do Jacques Rogge", o presidente do COI. Depois, elogiaria as apresentações do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes.
Na ponta da bancada, Paes não se continha. Antes de assinar o contrato do Rio como sede, erguia a caneta como um troféu ou uma tocha olímpica.
No fim da entrevista, abordado no palco pela reportagem mais uma vez, o presidente respondeu com um tapinha na cabeça. "Vamos dar um tempo para a emoção hoje", afirmou, agarrado à bandeira brasileira, abraçado aos demais membros da delegação brasileira, os olhos mais uma vez marejados.
As lágrimas eram a catarse de três anos de campanha concentrados em dois dias de intensa tensão. Lula passou a véspera e o dia do anúncio da sede ansioso entre reuniões, recepções e apresentações por votos.
Antes falando pouco e evitando entrevistas, ontem não se conteve ao chegar da apresentação no Bella Center, o pavilhão onde o Comitê Olímpico Internacional promoveu os eventos de escolha da sede.
Animado e visivelmente tenso -na entrevista coletiva, ele diria que estava "quase chorando de nervoso"- disse, primeiro, que esperaria o resultado.
Em seguida, já com a fala acelerada, animou-se com a ideia de assistir ao anúncio com os jornalistas, em vez de ficar no hotel, como planejara.
Empolgado, chegou a abraçar a repórter da Folha. Elogiou o filme da apresentação. Segundos depois, seria a vez do repórter de "O Globo". Tudo em um intervalo de minutos.
Mas o presidente assistiria ao anúncio no auditório do Bella Center, e a mídia teria de se contentar em vê-lo pelo telão.
Quando o envelope aberto por Rogge mostrou o nome do Rio de Janeiro, foi uma explosão do lado brasileiro da plateia. Do lado de fora do auditório, a gritaria foi semelhante.
As mulheres dos membros da delegação subiam em cadeiras. Jornalistas invadiam a área interditada. Relatando à reportagem o que acontecia no auditório, um dos presentes disse à Folha que a situação era "indescritível" e de "muita, muita emoção" entre os ministros, políticos, diplomatas, assessores. "É só choro."
Ao fundo, um grito vindo de uma voz grave e embargada tomou o ambiente. "Nós ganhamos, porra!" (LUCIANA COELHO, RODRIGO MATTOS E SÉRGIO RANGEL)


Texto Anterior: Gente GRANDE
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.