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"Chorão", Lula troca tensão por lágrimas
Presidente diz que viveu um
dia dos mais emocionantes
DOS ENVIADOS A COPENHAGUE
O lenço levado ao rosto diversas vezes durante a entrevista coletiva da candidatura vitoriosa, o rosto inchado e os
olhos muitos vermelhos delataram o que seria colocado em
palavras minutos depois.
A escolha do Rio para sediar
os Jogos de 2016 foi, "talvez", o
dia mais emocionante da vida
do presidente Lula.
"E eu, que achava que não tinha mais motivo para emoção,
porque já fiz tanta coisa na minha vida, conheci tanta gente,
pensei que não ia mais me emocionar", disse Lula. "Mas [ao
ouvir o anúncio] eu era o mais
emocionado e o mais chorão."
O presidente disse que não
aguentava olhar para o lado e
ver Bárbara Leôncio, 17, campeã mundial juvenil de atletismo, em prantos a toda hora. E
que chorou na coletiva porque
não teve "coragem de chorar
durante a apresentação".
Logo Lula começaria a desfilar agradecimentos. Primeiro,
pelo "carinho do Jacques Rogge", o presidente do COI. Depois, elogiaria as apresentações
do governador Sérgio Cabral e
do prefeito Eduardo Paes.
Na ponta da bancada, Paes
não se continha. Antes de assinar o contrato do Rio como sede, erguia a caneta como um
troféu ou uma tocha olímpica.
No fim da entrevista, abordado no palco pela reportagem
mais uma vez, o presidente respondeu com um tapinha na cabeça. "Vamos dar um tempo
para a emoção hoje", afirmou,
agarrado à bandeira brasileira,
abraçado aos demais membros
da delegação brasileira, os
olhos mais uma vez marejados.
As lágrimas eram a catarse de
três anos de campanha concentrados em dois dias de intensa
tensão. Lula passou a véspera e
o dia do anúncio da sede ansioso entre reuniões, recepções e
apresentações por votos.
Antes falando pouco e evitando entrevistas, ontem não
se conteve ao chegar da apresentação no Bella Center, o pavilhão onde o Comitê Olímpico
Internacional promoveu os
eventos de escolha da sede.
Animado e visivelmente tenso -na entrevista coletiva, ele
diria que estava "quase chorando de nervoso"- disse, primeiro, que esperaria o resultado.
Em seguida, já com a fala acelerada, animou-se com a ideia
de assistir ao anúncio com os
jornalistas, em vez de ficar no
hotel, como planejara.
Empolgado, chegou a abraçar a repórter da Folha. Elogiou o filme da apresentação.
Segundos depois, seria a vez do
repórter de "O Globo". Tudo
em um intervalo de minutos.
Mas o presidente assistiria
ao anúncio no auditório do Bella Center, e a mídia teria de se
contentar em vê-lo pelo telão.
Quando o envelope aberto
por Rogge mostrou o nome do
Rio de Janeiro, foi uma explosão do lado brasileiro da plateia. Do lado de fora do auditório, a gritaria foi semelhante.
As mulheres dos membros
da delegação subiam em cadeiras. Jornalistas invadiam a área
interditada. Relatando à reportagem o que acontecia no auditório, um dos presentes disse à
Folha que a situação era "indescritível" e de "muita, muita
emoção" entre os ministros,
políticos, diplomatas, assessores. "É só choro."
Ao fundo, um grito vindo de
uma voz grave e embargada tomou o ambiente. "Nós ganhamos, porra!"
(LUCIANA COELHO, RODRIGO MATTOS E SÉRGIO RANGEL)
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