São Paulo, Quinta-feira, 04 de Fevereiro de 1999
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TRABALHO
Diminui espaço de salários maiores; outros setores ainda sofrem mais com desemprego
Classe média perde emprego

RODRIGO UCHÔA
da Equipe de Trainees

O desemprego na classe média teve aumento significativo em 1998. Depois de uma estabilização em torno de 8% no período 1996-97, passou para 9,7% no ano passado, aumentando 16,9%.
Os desempregados com 3º grau completo cresceram de 3% do segmento em 1997 para 3,7% em 1998. Um expressivo aumento de 23,3% no nível de desemprego dessa categoria bem qualificada dos trabalhadores urbanos.
Para os menos qualificados a situação é pior: houve crescimento de 34,6% no desemprego para aqueles com 3º grau incompleto.
Além disso, a classe média, que tem as maiores rendas (leia texto ao lado), perdeu 5% de seu poder de compra entre 1996 e 1998. Na população economicamente ativa, essa perda foi de 3,2% .
Os dados são da última pesquisa de emprego e desemprego do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) sobre a PEA (População Economicamente Ativa) da região metropolitana de São Paulo.

Desemprego e renda
Apesar do aumento dos índices, a classe média brasileira sofreu relativamente menos nos últimos três anos com o desemprego.
Os dados indicam que o desemprego geral cresceu em São Paulo nesse período. Em 1996, havia 15,3% de desempregados. Em 97, eram 16,2%, e em 98, 18,5%. No total, o número de desempregados aumentou 20,9%.
Levando-se em conta apenas o estrato em que está a classe média (veja a classificação usada pelo Dieese no texto ao lado), o aumento foi de 16,9% em três anos.
Os dados são favoráveis para essa classe, em relação à média geral, em todos os cortes feitos na pesquisa: sexo, faixa etária, grau de instrução, tempo de permanência no emprego e participação em indústria, comércio e serviços. Sempre considerado o intervalo 96-98.
Na faixa etária acima de 40 anos, os efeitos do desemprego foram menos sentidos pela classe média. Os percentuais dos empregados são de 63,2% em 96 e 63,6% em 97. Em 1998 abaixou para 62,7%. Havia, em 98, 54,9% de empregados no total da população.
Outra tendência a ser considerada na pesquisa é a de que o jovem da classe média demora mais para entrar no mercado de trabalho, analisa o economista Sérgio Mendonça, diretor técnico do Dieese.
Ele identifica uma grande quantidade de jovens na faixa etária de 15 a 17 anos e na de 18 a 24 que só estuda, fenômeno muito menor que no total da população. "Isso pode indicar que os jovens de classe média estão se preparando mais", completa.
Marcelo Mariaca, consultor e sócio-diretor da empresa de recolocação de executivos Mariaca & Associates, diz que essa tendência não é necessariamente uma vantagem. "Metade das pessoas de sucesso teve de lutar muito, desde muito cedo", diz.
Mariaca enfatiza que a demora para entrar no mercado só é uma vantagem se o tempo for "usado muito bem" para uma formação acadêmica melhor. "Se não, a vantagem seria daqueles que já têm uma cancha maior, uma maior experiência por terem começado mais cedo", resume.

Perda de renda
No período 1996-98 a classe média sofreu um achatamento de renda de 5% (do salário médio de R$ 1.470,00, em 1996, para R$ 1.396,00, em 1998). Na média geral da população, o achatamento foi de 3,2% (de R$ 882,00, em 1996, para R$ 854,00, em 1998).
Sérgio Mendonça aponta vários fatores para isso. Um deles é a maior participação do funcionalismo público no segmento médio. Outro é a inclusão de pequenos e médios empregadores.
"O funcionalismo público não vem recebendo reajuste de salários e os donos de negócios têm de enfrentar uma diminuição das vendas, o que explicaria esse achatamento", diz Mendonça.
O economista lembra também que o peso do setor privado é maior na região de São Paulo, onde a pesquisa foi feita. Ele ressalta que "o dinamismo desse setor já vem diminuindo desde 1996", em consequência da crise.
Apenas os que têm 3º grau completo não sofreram queda nos rendimentos no ano de 1998. O dado é confirmado pelo balanço do ano, divulgado pelo Dieese no último dia 27 de janeiro.

Projeções
Mesmo antes da desvalorização do real, a perspectiva era de recessão e de aumento do desemprego em todas as faixas da população.
Mendonça afirma que o desemprego tende a se agravar e vê dificuldades na manutenção dos atuais níveis de emprego.
Ele diz que "os próprios bancos já vêem uma diminuição de 5% no PIB (Produto Interno Bruto); o melhor dos mundos, hoje, seria a conservação dos índices nos patamares em que já estão", pois as últimas projeções não são boas.


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