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TRABALHO
Diminui espaço de salários maiores; outros setores ainda sofrem mais com desemprego
Classe média perde emprego
RODRIGO UCHÔA
da Equipe de Trainees
O desemprego na classe média
teve aumento significativo em
1998. Depois de uma estabilização
em torno de 8% no período 1996-97, passou para 9,7% no ano passado, aumentando 16,9%.
Os desempregados com 3º grau
completo cresceram de 3% do segmento em 1997 para 3,7% em 1998.
Um expressivo aumento de 23,3%
no nível de desemprego dessa categoria bem qualificada dos trabalhadores urbanos.
Para os menos qualificados a situação é pior: houve crescimento
de 34,6% no desemprego para
aqueles com 3º grau incompleto.
Além disso, a classe média, que
tem as maiores rendas (leia texto
ao lado), perdeu 5% de seu poder
de compra entre 1996 e 1998. Na
população economicamente ativa,
essa perda foi de 3,2% .
Os dados são da última pesquisa
de emprego e desemprego do
Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) sobre a PEA (População Economicamente Ativa) da região metropolitana de São Paulo.
Desemprego e renda
Apesar do aumento dos índices,
a classe média brasileira sofreu relativamente menos nos últimos
três anos com o desemprego.
Os dados indicam que o desemprego geral cresceu em São Paulo
nesse período. Em 1996, havia
15,3% de desempregados. Em 97,
eram 16,2%, e em 98, 18,5%. No total, o número de desempregados
aumentou 20,9%.
Levando-se em conta apenas o
estrato em que está a classe média
(veja a classificação usada pelo
Dieese no texto ao lado), o aumento foi de 16,9% em três anos.
Os dados são favoráveis para essa
classe, em relação à média geral,
em todos os cortes feitos na pesquisa: sexo, faixa etária, grau de
instrução, tempo de permanência
no emprego e participação em indústria, comércio e serviços. Sempre considerado o intervalo 96-98.
Na faixa etária acima de 40 anos,
os efeitos do desemprego foram
menos sentidos pela classe média.
Os percentuais dos empregados
são de 63,2% em 96 e 63,6% em 97.
Em 1998 abaixou para 62,7%. Havia, em 98, 54,9% de empregados
no total da população.
Outra tendência a ser considerada na pesquisa é a de que o jovem
da classe média demora mais para
entrar no mercado de trabalho,
analisa o economista Sérgio Mendonça, diretor técnico do Dieese.
Ele identifica uma grande quantidade de jovens na faixa etária de
15 a 17 anos e na de 18 a 24 que só
estuda, fenômeno muito menor
que no total da população. "Isso
pode indicar que os jovens de classe média estão se preparando
mais", completa.
Marcelo Mariaca, consultor e sócio-diretor da empresa de recolocação de executivos Mariaca & Associates, diz que essa tendência
não é necessariamente uma vantagem. "Metade das pessoas de sucesso teve de lutar muito, desde
muito cedo", diz.
Mariaca enfatiza que a demora
para entrar no mercado só é uma
vantagem se o tempo for "usado
muito bem" para uma formação
acadêmica melhor. "Se não, a vantagem seria daqueles que já têm
uma cancha maior, uma maior experiência por terem começado
mais cedo", resume.
Perda de renda
No período 1996-98 a classe média sofreu um achatamento de renda de 5% (do salário médio de R$
1.470,00, em 1996, para R$ 1.396,00,
em 1998). Na média geral da população, o achatamento foi de 3,2%
(de R$ 882,00, em 1996, para R$
854,00, em 1998).
Sérgio Mendonça aponta vários
fatores para isso. Um deles é a
maior participação do funcionalismo público no segmento médio.
Outro é a inclusão de pequenos e
médios empregadores.
"O funcionalismo público não
vem recebendo reajuste de salários
e os donos de negócios têm de enfrentar uma diminuição das vendas, o que explicaria esse achatamento", diz Mendonça.
O economista lembra também
que o peso do setor privado é
maior na região de São Paulo, onde a pesquisa foi feita. Ele ressalta
que "o dinamismo desse setor já
vem diminuindo desde 1996", em
consequência da crise.
Apenas os que têm 3º grau completo não sofreram queda nos
rendimentos no ano de 1998. O
dado é confirmado pelo balanço
do ano, divulgado pelo Dieese no
último dia 27 de janeiro.
Projeções
Mesmo antes da desvalorização
do real, a perspectiva era de recessão e de aumento do desemprego
em todas as faixas da população.
Mendonça afirma que o desemprego tende a se agravar e vê dificuldades na manutenção dos
atuais níveis de emprego.
Ele diz que "os próprios bancos
já vêem uma diminuição de 5% no
PIB (Produto Interno Bruto); o
melhor dos mundos, hoje, seria a
conservação dos índices nos patamares em que já estão", pois as últimas projeções não são boas.
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