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EDUCAÇÃO
Número de estudantes na rede privada caiu 37.419 em 98; matrículas variam de acordo com economia
Particulares perdem alunos
CLÁUDIA GURFINKEL
NATHALIA MOLINA
da Equipe de Trainees
A classe média está voltando à rede pública de ensino três décadas
depois de tê-la abandonado. Na escola estadual Ennio Voss (Brooklin), por exemplo, 60% dos novos
alunos vêm de escolas particulares.
A informação é da assistente de
direção Regina Caroni, que se diz
surpresa com o aumento da procura. Em 1998, apenas 20% dos novos
alunos se encaixavam nesse perfil.
Os dados globais do governo estadual mostram que o número de
estudantes da rede privada diminuiu em 37.419 entre 1997 e 1998.
Em 1996 e 1997, foram feitas 26,4
mil novas matrículas, cerca de 128
mil a menos que em 1994 e 1995,
primeiros anos do Plano Real.
"Toda vez que melhorou a economia, cresceu o número de alunos na escola particular", afirma o
diretor-tesoureiro do Sieeesp (sindicato das escolas particulares),
Benjamin Ribeiro da Silva.
Os gastos com educação na capital paulista subiram 5,78% em 98,
enquanto a variação do custo de
vida da classe média foi de 2,17%
negativos, de acordo com a Ordem
dos Economistas de São Paulo.
Além do preço do ensino, a recessão, o desemprego e a falta de
reajustes salariais diminuíram o
orçamento familiar. Com isso, as
negociações por redução da mensalidade deixam de ser suficientes,
e o aluno acaba indo para a rede
pública, segundo Mauro Bueno,
presidente da Associação Intermunicipal de Pais e Alunos (Aipa).
Cortes no orçamento
Foi essa situação que Marli do
Espírito Santo, 42, enfrentou. Com
a aposentadoria pela antiga Telesp,
sua renda mensal caiu de cerca de
R$ 1.300 para R$ 800. O gasto com
a escola particular da filha, Andréia, 15, teve de ser cortado.
Estudante do 2º grau, Andréia se
matriculou na escola estadual Padre Manoel da Nóbrega, na Casa
Verde, no ano passado. "Foi uma
mudança brusca. Eu me vi em contato com a realidade", conta.
Mas nem tudo era novo para ela.
As amigas Ana Pereira Santos, 15, e
Tatiane Lopes, 15, que estudavam
com Andréia desde a 7ª série, foram para a mesma escola pública.
As três estranharam a falta de infra-estrutura e higiene. "Não há
papel no banheiro. Temos que levar o rolo na mochila", diz Tatiane.
O ambiente, o ensino e a perda de
status são as principais preocupações dos pais ao transferir os filhos
para a escola pública. Antes de sair
da rede privada, eles geralmente
tentam um colégio particular com
uma mensalidade mais baixa.
"Há um preconceito de que a escola pública é para pobre, e a particular, para a classe média. As pessoas têm vergonha porque a escola
pública tem um rótulo depreciativo", diz o presidente da Aipa.
Preocupação de mãe
A coordenadora pedagógica Renata Terra, 33, sofreu para tirar o
filho Guilherme, 9, do colégio particular. "Só tive coragem de contar
para ele há pouco tempo", diz.
Guilherme vai cursar a 3ª série da
escola estadual Ludovina Credidio
Peixoto, no Itaim Bibi. Renata teme que o ensino seja fraco, e o filho, que tirava notas altas, fique
desestimulado. Assim que puder,
ela quer voltar para a rede privada.
O consultor de sistemas Edson
Luiz Santos, 45, está desempregado e teve de escolher entre a mensalidade da escola e a prestação do
apartamento. Seus filhos acabaram se juntando aos 7.252.420 alunos da rede pública em 1998.
A recente queda de matrículas na
rede privada, entretanto, não é a
primeira da década. Na época do
Plano Collor, de 1991 a 1993, o número de alunos na rede particular
diminuiu quase 95 mil.
"Mas esta não chega a ser a (crise) de 92", afirma o diretor-tesoureiro do Sieeesp. Na sua opinião, as
matrículas não atingirão a queda
ocorrida no início da década.
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