São Paulo, Quinta-feira, 04 de Fevereiro de 1999
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EDUCAÇÃO
Número de estudantes na rede privada caiu 37.419 em 98; matrículas variam de acordo com economia
Particulares perdem alunos

CLÁUDIA GURFINKEL
NATHALIA MOLINA
da Equipe de Trainees

A classe média está voltando à rede pública de ensino três décadas depois de tê-la abandonado. Na escola estadual Ennio Voss (Brooklin), por exemplo, 60% dos novos alunos vêm de escolas particulares.
A informação é da assistente de direção Regina Caroni, que se diz surpresa com o aumento da procura. Em 1998, apenas 20% dos novos alunos se encaixavam nesse perfil.
Os dados globais do governo estadual mostram que o número de estudantes da rede privada diminuiu em 37.419 entre 1997 e 1998.
Em 1996 e 1997, foram feitas 26,4 mil novas matrículas, cerca de 128 mil a menos que em 1994 e 1995, primeiros anos do Plano Real.
"Toda vez que melhorou a economia, cresceu o número de alunos na escola particular", afirma o diretor-tesoureiro do Sieeesp (sindicato das escolas particulares), Benjamin Ribeiro da Silva.
Os gastos com educação na capital paulista subiram 5,78% em 98, enquanto a variação do custo de vida da classe média foi de 2,17% negativos, de acordo com a Ordem dos Economistas de São Paulo.
Além do preço do ensino, a recessão, o desemprego e a falta de reajustes salariais diminuíram o orçamento familiar. Com isso, as negociações por redução da mensalidade deixam de ser suficientes, e o aluno acaba indo para a rede pública, segundo Mauro Bueno, presidente da Associação Intermunicipal de Pais e Alunos (Aipa).

Cortes no orçamento
Foi essa situação que Marli do Espírito Santo, 42, enfrentou. Com a aposentadoria pela antiga Telesp, sua renda mensal caiu de cerca de R$ 1.300 para R$ 800. O gasto com a escola particular da filha, Andréia, 15, teve de ser cortado.
Estudante do 2º grau, Andréia se matriculou na escola estadual Padre Manoel da Nóbrega, na Casa Verde, no ano passado. "Foi uma mudança brusca. Eu me vi em contato com a realidade", conta.
Mas nem tudo era novo para ela. As amigas Ana Pereira Santos, 15, e Tatiane Lopes, 15, que estudavam com Andréia desde a 7ª série, foram para a mesma escola pública.
As três estranharam a falta de infra-estrutura e higiene. "Não há papel no banheiro. Temos que levar o rolo na mochila", diz Tatiane.
O ambiente, o ensino e a perda de status são as principais preocupações dos pais ao transferir os filhos para a escola pública. Antes de sair da rede privada, eles geralmente tentam um colégio particular com uma mensalidade mais baixa.
"Há um preconceito de que a escola pública é para pobre, e a particular, para a classe média. As pessoas têm vergonha porque a escola pública tem um rótulo depreciativo", diz o presidente da Aipa.

Preocupação de mãe
A coordenadora pedagógica Renata Terra, 33, sofreu para tirar o filho Guilherme, 9, do colégio particular. "Só tive coragem de contar para ele há pouco tempo", diz.
Guilherme vai cursar a 3ª série da escola estadual Ludovina Credidio Peixoto, no Itaim Bibi. Renata teme que o ensino seja fraco, e o filho, que tirava notas altas, fique desestimulado. Assim que puder, ela quer voltar para a rede privada.
O consultor de sistemas Edson Luiz Santos, 45, está desempregado e teve de escolher entre a mensalidade da escola e a prestação do apartamento. Seus filhos acabaram se juntando aos 7.252.420 alunos da rede pública em 1998.
A recente queda de matrículas na rede privada, entretanto, não é a primeira da década. Na época do Plano Collor, de 1991 a 1993, o número de alunos na rede particular diminuiu quase 95 mil.
"Mas esta não chega a ser a (crise) de 92", afirma o diretor-tesoureiro do Sieeesp. Na sua opinião, as matrículas não atingirão a queda ocorrida no início da década.


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