São Paulo, Quinta-feira, 04 de Fevereiro de 1999
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Últimos 20 anos foram montanha-russa

Antônio Gaudério/Folha Imagem
César Gola, vendedor da loja Colombo do Shopping Market Place, brinca na montanha-russa


da Equipe de Trainees

Não foi desta vez que a classe média ganhou o "greencard" para o paraíso. Desde os anos 80, seus tombos têm sido tão frequentes quanto as crises recessivas ou inflacionárias do país.
Quanto maior a altura, maior a queda. Foi assim na ressaca do milagre econômico dos anos 70, anunciada pela crise do petróleo do início da década e consumada na recessão de 81-83.
À inflação, somava-se a indexação salarial pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). O INPC refletia o aumento do custo de vida da classe baixa, inferior ao da classe média, cuja perda de poder aquisitivo não era reposta. Daí o bordão da época ser o "achatamento da classe média".
Depois da recessão, um princípio de bonança. No fim de 83, segundo o IBGE, a quantidade de pessoas ganhando entre cinco e dez salários mínimos havia aumentado de 9,98% para 12,52% da População Economicamente Ativa (PEA) do Estado de São Paulo; na faixa acima de dez salários, passara de 5,33% a 6,88%.
A PEA crescia à taxa de 3,5% ao ano -mais de um ponto percentual acima do crescimento demográfico (2,48%).

Hiato otimista
Tudo isso combinou-se, no primeiro semestre de 85, à mudança política, com o início do governo Sarney engrossando a confiança no fim da "estagflação".
Acreditava-se que a inflação seria superada e o crescimento, retomado. Segundo a imprensa, a "classe média começava a sair da crise" e "voltava a ter esperança".
Em dezembro de 85, porém, a inflação anual atingia 228,22% -índice mais alto registrado até então. Desfiava-se o mesmo rosário de hoje: diploma que não garantia emprego, cortes nas compras de supermercado, planos adiados.
Veio o hiato otimista do Plano Cruzado, em fevereiro de 86. O congelamento de preços impulsionou as compras e o país chegou a ter escassez de alguns produtos.
De toda maneira, adotou-se o "retorno ao paraíso" como uma das analogias preferidas para descrever o incremento nos padrões de vida e consumo -quase sinônimos, por sinal.
Um ano após a gritaria dos "fiscais do Sarney", que vigiavam o congelamento de preços decretado pelo governo, a inflação anual voltava aos três dígitos: 110,79%.
Foi o bastante para a imprensa alardear, com o velho jargão, um novo drama da "pobre classe média" que "não ia mais ao paraíso".
No fim da década perdida -como seriam conhecidos os anos 80-, a inflação anual, em abril de 90, atingiu 6.238,56%. Nem se falava mais em paraíso: a classe média já estava "no purgatório".

Planos econômicos
No mesmo ano, o Plano Collor penalizou quem tinha dinheiro suficiente para ser confiscado, mas não posses ou renda o bastante para compensar o confisco.
Em 94, a estabilidade trazida pelo Plano Real fez diferença na mesa dos pobres -onde, diz-se, aportaram frango e iogurte. Nova chance para títulos de impacto nos jornais: "A classe média ficou com a conta do Real". (DS)


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