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Importados e viagens encarecem; fantasma da inflação remete ao passado
Cultura nos tempos da crise
DANIELA SANDLER
da Equipe de Trainees
Ao volante de carros estrangeiros e empunhando telefones celulares, maníaca por grifes importadas e assídua nos vôos para Miami.
Essa classe média vai sofrer com
a flutuação cambial, que deixa seus
sonhos de consumo mais caros
-e mais distantes.
Mas dois motivos fazem prever
um drama menor:
1) há opções de lazer e consumo
que custam pouco ou nada;
2) definir a classe média pelos
parâmetros do início deste texto
pode ser um equívoco.
"A cultura, associada a essa idéia,
se reduz ao mercado", diz Nicolau
Sevcenko, professor de história da
cultura da USP.
Para ele, limitar classe média aos
carrinhos de free-shop e à passividade televisiva é ignorar nuances
importantes de sua mentalidade.
"Como grupo que aspira à promoção social e à distribuição das
oportunidades, ela tende à multiplicidade e à consolidação dos valores democráticos."
A definição estereotipada da
classe média é útil para lidar de
forma objetiva -ou seja, estatística- com o mercado consumidor,
segundo o professor.
Além disso, passar férias em
Cancún e tomar uísque importado
não são desejos exclusivos de uma
única classe social, observa o ensaísta Teixeira Coelho, diretor do
MAC e autor do livro "O que É Indústria Cultural".
"A cultura da classe média é, em
grande parte, universal", diz ele.
Ou, nas palavras do publicitário
Júlio Ribeiro, dono da Talent: "O
Brasil é a classe média".
Vacas magras
De qualquer modo, será mais difícil, agora, dizer que temporadas
nos EUA e importados na prateleira identificam a classe média.
A desvalorização do real encarece, de imediato, viagens para o exterior e produtos importados. Supérfluos, eles encabeçam a lista de
cortes no orçamento.
O número de pacotes turísticos
vendidos pela Stella Barros para o
feriado de Carnaval é 50% inferior
ao de 98, quando cerca de 500 passageiros embarcaram para os Estados Unidos e para o Caribe na mesma época.
Ana Maria Berto, gerente-geral
da Dimensão Turismo, afirma que
"as vendas praticamente pararam". Na CVC, as viagens para o
exterior caíram pela metade.
A incerteza também paralisa os
negócios de importadores. Manuel
Teixeira, diretor da importadora
de livros Freebook, lembra que,
quando o governo promovia maxidesvalorizações, podiam-se fixar
os preços dos produtos.
"Agora ninguém sabe o quanto a
moeda vai oscilar." Sem vender
desde a liberação do câmbio, ele
negocia prazos de pagamento com
os fornecedores estrangeiros.
Teatro sem drama
Para cortar gastos sem cortar o
humor, veja nesta página sugestões de lazer e arte a preços baixos,
promovidas por instituições públicas e privadas.
O circuito "barato" inclui eventos de destaque: o teatro municipal
João Caetano, por exemplo, mostrou no ano passado a montagem
"Sinfonia de uma Noite Inquieta",
indicada para o prêmio dado pelos
produtores teatrais à melhor peça
do ano. O ingresso custava R$ 10.
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