São Paulo, Quinta-feira, 04 de Fevereiro de 1999
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Importados e viagens encarecem; fantasma da inflação remete ao passado
Cultura nos tempos da crise

DANIELA SANDLER
da Equipe de Trainees

Ao volante de carros estrangeiros e empunhando telefones celulares, maníaca por grifes importadas e assídua nos vôos para Miami.
Essa classe média vai sofrer com a flutuação cambial, que deixa seus sonhos de consumo mais caros -e mais distantes.
Mas dois motivos fazem prever um drama menor:
1) há opções de lazer e consumo que custam pouco ou nada;
2) definir a classe média pelos parâmetros do início deste texto pode ser um equívoco.
"A cultura, associada a essa idéia, se reduz ao mercado", diz Nicolau Sevcenko, professor de história da cultura da USP.
Para ele, limitar classe média aos carrinhos de free-shop e à passividade televisiva é ignorar nuances importantes de sua mentalidade.
"Como grupo que aspira à promoção social e à distribuição das oportunidades, ela tende à multiplicidade e à consolidação dos valores democráticos."
A definição estereotipada da classe média é útil para lidar de forma objetiva -ou seja, estatística- com o mercado consumidor, segundo o professor.
Além disso, passar férias em Cancún e tomar uísque importado não são desejos exclusivos de uma única classe social, observa o ensaísta Teixeira Coelho, diretor do MAC e autor do livro "O que É Indústria Cultural".
"A cultura da classe média é, em grande parte, universal", diz ele. Ou, nas palavras do publicitário Júlio Ribeiro, dono da Talent: "O Brasil é a classe média".

Vacas magras
De qualquer modo, será mais difícil, agora, dizer que temporadas nos EUA e importados na prateleira identificam a classe média.
A desvalorização do real encarece, de imediato, viagens para o exterior e produtos importados. Supérfluos, eles encabeçam a lista de cortes no orçamento.
O número de pacotes turísticos vendidos pela Stella Barros para o feriado de Carnaval é 50% inferior ao de 98, quando cerca de 500 passageiros embarcaram para os Estados Unidos e para o Caribe na mesma época.
Ana Maria Berto, gerente-geral da Dimensão Turismo, afirma que "as vendas praticamente pararam". Na CVC, as viagens para o exterior caíram pela metade.
A incerteza também paralisa os negócios de importadores. Manuel Teixeira, diretor da importadora de livros Freebook, lembra que, quando o governo promovia maxidesvalorizações, podiam-se fixar os preços dos produtos.
"Agora ninguém sabe o quanto a moeda vai oscilar." Sem vender desde a liberação do câmbio, ele negocia prazos de pagamento com os fornecedores estrangeiros.

Teatro sem drama
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O circuito "barato" inclui eventos de destaque: o teatro municipal João Caetano, por exemplo, mostrou no ano passado a montagem "Sinfonia de uma Noite Inquieta", indicada para o prêmio dado pelos produtores teatrais à melhor peça do ano. O ingresso custava R$ 10.


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