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ARTIGO
Sozinho, Enem leva a conclusão equivocada
Exame é importante para pais avaliarem escolas, mas não
deve ser o único critério
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O Enem é hoje um precioso
instrumento para ajudar os
pais a avaliarem a escola de
seus filhos, mas, quando analisado isoladamente, pode levar a
conclusões equivocadas.
No ensino privado, por
exemplo, olhar apenas para o
topo do ranking dá a falsa impressão de que o setor é um oásis no meio da mediocridade da
educação pública. De fato, a
média das particulares é muito
melhor do que a do restante -e
não precisamos do Enem para
saber isso. Mas o exame mostra
também que o setor particular
não é homogêneo.
Na cidade de São Paulo, as
notas das escolas privadas variaram de 82 a 51 e 24% delas tiveram médias inferiores a 60.
No Rio, o quadro não é muito
diferente: da melhor para a
pior, vai uma distância de 37
pontos (83 a 46) e 21% estão
abaixo de 60.
Também é preciso considerar que boa parte do desempenho das melhores é explicado
não por milagres pedagógicos,
mas, sim, pelo fato de elas atraírem os alunos das famílias que
mais investem em educação.
Isso acontece, sem dúvida,
também por mérito dessas escolas, mas acaba criando um
círculo virtuoso que tende a colocá-las sempre no topo de avaliações como a do Enem.
No setor público, analisar só
as melhores pode levar a conclusões ainda mais falaciosas.
Os estabelecimentos com melhor avaliação no Enem se parecem muito com a escola do
passado: têm qualidade, mas
são para poucos. Ao selecionarem seus alunos por vestibulinhos ou testes de nivelamento,
esses colégios atraem um perfil
de aluno muito parecido com o
da rede particular.
Nesse sentido, talvez não haja melhor exemplo do que a escola pública melhor avaliada no
Enem nas provas objetiva e de
redação: o Colégio de Aplicação
da UFRJ. A direção da escola
até tem se esforçado para democratizar o acesso, substituindo o vestibulinho por sorteios. A tarefa, no entanto, é difícil, considerando que a escola
está localizada na Lagoa (zona
sul do Rio).
O curioso é que o campus da
UFRJ fica de frente para o complexo de favelas da Maré. Seu
colégio de aplicação, no entanto, está num dos bairros de
maior renda per capita da cidade. É público, mas, infelizmente, ainda elitista.
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