São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTIGO

Sozinho, Enem leva a conclusão equivocada

Exame é importante para pais avaliarem escolas, mas não deve ser o único critério

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O Enem é hoje um precioso instrumento para ajudar os pais a avaliarem a escola de seus filhos, mas, quando analisado isoladamente, pode levar a conclusões equivocadas.
No ensino privado, por exemplo, olhar apenas para o topo do ranking dá a falsa impressão de que o setor é um oásis no meio da mediocridade da educação pública. De fato, a média das particulares é muito melhor do que a do restante -e não precisamos do Enem para saber isso. Mas o exame mostra também que o setor particular não é homogêneo.
Na cidade de São Paulo, as notas das escolas privadas variaram de 82 a 51 e 24% delas tiveram médias inferiores a 60. No Rio, o quadro não é muito diferente: da melhor para a pior, vai uma distância de 37 pontos (83 a 46) e 21% estão abaixo de 60.
Também é preciso considerar que boa parte do desempenho das melhores é explicado não por milagres pedagógicos, mas, sim, pelo fato de elas atraírem os alunos das famílias que mais investem em educação. Isso acontece, sem dúvida, também por mérito dessas escolas, mas acaba criando um círculo virtuoso que tende a colocá-las sempre no topo de avaliações como a do Enem.
No setor público, analisar só as melhores pode levar a conclusões ainda mais falaciosas. Os estabelecimentos com melhor avaliação no Enem se parecem muito com a escola do passado: têm qualidade, mas são para poucos. Ao selecionarem seus alunos por vestibulinhos ou testes de nivelamento, esses colégios atraem um perfil de aluno muito parecido com o da rede particular.
Nesse sentido, talvez não haja melhor exemplo do que a escola pública melhor avaliada no Enem nas provas objetiva e de redação: o Colégio de Aplicação da UFRJ. A direção da escola até tem se esforçado para democratizar o acesso, substituindo o vestibulinho por sorteios. A tarefa, no entanto, é difícil, considerando que a escola está localizada na Lagoa (zona sul do Rio).
O curioso é que o campus da UFRJ fica de frente para o complexo de favelas da Maré. Seu colégio de aplicação, no entanto, está num dos bairros de maior renda per capita da cidade. É público, mas, infelizmente, ainda elitista.


Texto Anterior: Na internet
Próximo Texto: Ensino técnico se destaca entre as públicas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.