São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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Melhoramento genético eleva a eficiência da pecuária

Caio Esteves/Folha Imagem
Vacas selecionados, doadoras de embriões, da raça nelore




Biotecnologia no campo emprega técnicas de inseminação artificial e transferência de embriões para obter animais com desenvolvimento mais rápido e menor idade de abate


ROBERTO DE OLIVEIRA
do Núcleo de Revistas e Especiais

Com apenas sete anos de idade, a vaca nelore Lili é um exemplo de evolução genética que vem acontecendo na pecuária brasileira. Mãe de quatro filhos naturais, nos últimos dois anos, ela gerou 57 bezerros de elite, através de técnicas de transferência de embrião e fertilização in vitro.
Lili é uma das 120 doadoras da bela fazenda Quilombo, em Indaiatuba (102 km a noroeste de SP). Lá, todo ano, cerca de 250 bezerros são gerados e desenvolvidos em 600 receptoras (barriga de aluguel), seguindo as regras do programa de melhoramento genético da raça nelore, desenvolvido pela USP de Ribeirão Preto.
Na Quilombo, as técnicas de melhoramento genético determinam as opções de acasalamento, sempre de acordo com cinco características da raça: reprodução, habilidade materna, temperamento, musculosidade e desenvolvimento.
É possível gerar, por exemplo, um embrião que tenha melhor ganho de peso ou perímetro escrotal superior, indicativo de fertilidade e precocidade sexual. Para isso, basta cruzar o sêmen de um touro selecionado com o óvulo de uma vaca que reúna essas características genéticas.

Precocidade
A biotecnologia no campo emprega inseminação artificial e transferência de embrião para obter um animal precoce sexualmente, parindo com dois anos de idade em média, além de velocidade no acabamento e qualidade do produto, segundo o professor de melhoramento genético da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) José Aurélio Garcia Bergmann, 46.
Outra importante vantagem obtida com o programa de melhoramento genético é uma maior rapidez no abate. Esses animais vão para o frigorífico entre o 18º e o 24º mês de engorda.
"Hoje, mais do que nunca, a lógica do pasto é a mesma de qualquer outro setor da economia mundial. Rapidez no retorno dos investimentos", explica o zootecnista da fazenda Quilombo, Frederico Moreno, 30.

Investimento
Indispensável, porém, é botar a mão no bolso -toda essa tecnologia custa caro: de R$ 1.700 a R$ 2.500 por prenhez, dependendo das doadoras e dos reprodutores.
Só para ter uma idéia desse selecionado plantel, um mês atrás, uma das filhas de Lili, Regalia, de três anos de idade, foi arrematada num leilão em Uberaba (MG) por cerca R$ 300 mil. Há, porém, animais que chegam a ser vendidos por quase R$ 1 milhão.
Dos 250 bezerros produzidos, 25 vão para leilão de elite, como Regalia, outros cem são vendidos em leilões comerciais, e o restante engorda o rebanho da Quilombo, hoje com 1.200 cabeças, e da outra fazenda do grupo, a Perdizes, em Campo Grande (MS), onde são criados 6.800 animais.
Na opinião de Alice Maria Prado Ferreira, 54, dona das fazendas, o processo de modernização da pecuária brasileira se deve, entre outros fatores, ao número cada vez maior de empresários de outros setores da economia que estão investindo na pecuária.
O segmento vem ganhando espaço e se aperfeiçoando também devido ao crescimento das exportações de carne, afirma Alice, ela mesma uma "migrante" do setor industrial, que resolveu investir em gado a partir de 1986 com apenas cem matrizes.
"Em cinco anos, no máximo, o pecuarista que não se enquadrar às novas técnicas tanto sanitárias como tecnológicas estará fora do mercado", prevê Alice.


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