São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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ELEIÇÕES 2004 / SÃO PAULO

Tucano vê ações do governo Lula "arranhando decoro republicano"

Para ele, eventual vitória de Serra acabará com partido único


FHC diz que é preciso quebrar 'hegemonia do PT'

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao declarar o voto dado ao candidato José Serra (PSDB), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a eleição para prefeito de São Paulo pode quebrar a hegemonia do partido único: "Como o PT e seus aliados estão tendo uma atitude muito hegemônica, querendo tomar conta de tudo, é bom que haja um equilíbrio de poder", afirmou.
Ao lado de políticos do PSDB estadual, FHC foi muito aplaudido ao chegar, a pé, para votar no Colégio Nossa Senhora do Sion, no bairro de Higienópolis (região central de São Paulo), onde mora. Estava acompanhado de sua mulher, Ruth Cardoso, dos vereadores tucanos Ricardo Montoro e Roberto Trípoli e do ex-ministro da Justiça José Gregori.
"Eu declarei que votaria no Serra, como votei, porque ele é muito competente, o que demonstrou nos debates. E porque [sua eleição] vai permitir um fortalecimento das oposições."
O ex-presidente evitou relacionar a eleição municipal com a sucessão presidencial. "Eu não acho que a eleição de agora defina 2006. Ela é mais importante por abrir opções do que por definir quem vai ganhar mais adiante", disse.
"Tenho reiterado que não sou candidato a mais nada", afirmou o ex-presidente. FHC disse que vai apoiar o PSDB na criação de "uma frente capaz de restabelecer um equilíbrio de poder".
Ele disse que, se for necessário, participará mais da campanha eleitoral no segundo turno. "Um ex-presidente não deve estar no dia-a-dia da política. O segundo turno depende dos candidatos. O povo vai votar no Serra, não nos que o apóiam."
"Eu não quero fazer críticas ao presidente Lula, mas pela primeira vez um presidente é objeto de interpelação na Justiça. O momento que escolheu para mostrar o seu voto não foi o mais adequado", disse. FHC comentou a avaliação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que considerou o episódio um pecado venial [perdoável]: "Eu não sei se é venial ou mortal, mas é pecado".
FHC publicou ontem, em jornais de São Paulo e do Rio, artigo em que explica os motivos do voto dado a Serra. No texto, fez fortes críticas a práticas do PT no governo que, segundo ele, "começam a arranhar o decoro republicano". Durante a entrevista, o ex-presidente apontou como exemplo dessas práticas no governo de Marta Suplicy, em São Paulo, a licitação para coleta de lixo que recentemente foi contestada judicialmente.
"Não são procedimentos claros. Não são procedimentos republicanos, com transparência, [para] que as pessoas percebam que há limpeza nas ações. Foi feio. Acho isso ruim", disse.

Interferência criticada
O governador Aécio Neves (MG) e o senador Tasso Jereissati (CE) criticaram o comportamento do governo federal e do PT nas eleições. Para Aécio, houve "interferência inédita". "O PT cometeu um equívoco em relação à eleição paulistana, na qual envolveram de forma exagerada a figura do presidente da República".
"Jamais houve um envolvimento, da direção nacional do partido ou mesmo do governo federal, tão forte em eleições municipais como assistimos", afirmou Aécio.
"Houve uma intervenção e uma interferência inéditas nestas eleições municipais. Em Minas Gerais, nós percebemos isso nas pequenas cidades, com volume de atrações, de investimentos inédito na história recente do Brasil."
Sobre o envolvimento "exagerado" de Lula no embate paulistano entre PT e PSDB, Aécio viu um "exemplo" de que "o projeto do PT se sobrepõe ao do governo".
Tasso disse que "nunca o governo se meteu tanto" em uma eleição: "O governo federal não teve nem postura nem compostura. Vieram dez ministros aqui, que interferiram, queriam tirar candidato, botar candidato", disse.


Colaboraram PAULO PEIXOTO e KAMILA FERNANDES, da Agência Folha em Belo Horizonte e em Fortaleza

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