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ELEIÇÕES 2004 / SÃO PAULO
Tucano vê ações do governo Lula "arranhando decoro republicano"
Para ele, eventual vitória de Serra acabará com partido único
FHC diz que é preciso quebrar 'hegemonia do PT'
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao declarar o voto dado ao candidato José Serra (PSDB), o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso disse que a eleição para
prefeito de São Paulo pode quebrar a hegemonia do partido único: "Como o PT e seus aliados estão tendo uma atitude muito hegemônica, querendo tomar conta
de tudo, é bom que haja um equilíbrio de poder", afirmou.
Ao lado de políticos do PSDB
estadual, FHC foi muito aplaudido ao chegar, a pé, para votar no
Colégio Nossa Senhora do Sion,
no bairro de Higienópolis (região
central de São Paulo), onde mora.
Estava acompanhado de sua mulher, Ruth Cardoso, dos vereadores tucanos Ricardo Montoro e
Roberto Trípoli e do ex-ministro
da Justiça José Gregori.
"Eu declarei que votaria no Serra, como votei, porque ele é muito
competente, o que demonstrou
nos debates. E porque [sua eleição] vai permitir um fortalecimento das oposições."
O ex-presidente evitou relacionar a eleição municipal com a sucessão presidencial. "Eu não acho
que a eleição de agora defina 2006.
Ela é mais importante por abrir
opções do que por definir quem
vai ganhar mais adiante", disse.
"Tenho reiterado que não sou
candidato a mais nada", afirmou
o ex-presidente. FHC disse que
vai apoiar o PSDB na criação de
"uma frente capaz de restabelecer
um equilíbrio de poder".
Ele disse que, se for necessário,
participará mais da campanha
eleitoral no segundo turno. "Um
ex-presidente não deve estar no
dia-a-dia da política. O segundo
turno depende dos candidatos. O
povo vai votar no Serra, não nos
que o apóiam."
"Eu não quero fazer críticas ao
presidente Lula, mas pela primeira vez um presidente é objeto de
interpelação na Justiça. O momento que escolheu para mostrar
o seu voto não foi o mais adequado", disse. FHC comentou a avaliação do ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, que considerou o episódio um pecado venial [perdoável]: "Eu não sei se é
venial ou mortal, mas é pecado".
FHC publicou ontem, em jornais de São Paulo e do Rio, artigo
em que explica os motivos do voto dado a Serra. No texto, fez fortes críticas a práticas do PT no governo que, segundo ele, "começam a arranhar o decoro republicano". Durante a entrevista, o ex-presidente apontou como exemplo dessas práticas no governo de
Marta Suplicy, em São Paulo, a licitação para coleta de lixo que recentemente foi contestada judicialmente.
"Não são procedimentos claros.
Não são procedimentos republicanos, com transparência, [para]
que as pessoas percebam que há
limpeza nas ações. Foi feio. Acho
isso ruim", disse.
Interferência criticada
O governador Aécio Neves
(MG) e o senador Tasso Jereissati
(CE) criticaram o comportamento do governo federal e do PT nas
eleições. Para Aécio, houve "interferência inédita". "O PT cometeu
um equívoco em relação à eleição
paulistana, na qual envolveram
de forma exagerada a figura do
presidente da República".
"Jamais houve um envolvimento, da direção nacional do partido
ou mesmo do governo federal, tão
forte em eleições municipais como assistimos", afirmou Aécio.
"Houve uma intervenção e uma
interferência inéditas nestas eleições municipais. Em Minas Gerais, nós percebemos isso nas pequenas cidades, com volume de
atrações, de investimentos inédito na história recente do Brasil."
Sobre o envolvimento "exagerado" de Lula no embate paulistano
entre PT e PSDB, Aécio viu um
"exemplo" de que "o projeto do
PT se sobrepõe ao do governo".
Tasso disse que "nunca o governo se meteu tanto" em uma eleição: "O governo federal não teve
nem postura nem compostura.
Vieram dez ministros aqui, que
interferiram, queriam tirar candidato, botar candidato", disse.
Colaboraram PAULO PEIXOTO e KAMILA FERNANDES, da Agência Folha em
Belo Horizonte e em Fortaleza
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