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ELEIÇÕES 2004 / SÃO PAULO
Para governador, PT ameaça trocar "paz e amor" por "rancor"
Alvo potencial do PT, Alckmin afirma não ter "medo de cara feia"
ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO
"Nós não temos medo de cara
feia", disse ontem o governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), considerado o principal
cabo eleitoral da eleição paulistana e candidato a apanhar nos programas do PT no segundo turno.
"O PT está ameaçando trocar
"paz e amor" por rancor. Não é
um bom caminho. Jamais vi alguém crescer falando mal dos outros", disse em entrevista à Folha,
no Palácio dos Bandeirantes.
Na sua opinião, o PSDB disputa
capitais antes nunca sonhadas,
cresce nos grandes centros e sai
mais forte destas eleições.
Folha - O sr. é o anti-Lula?
Geraldo Alckmin - Não. O povo,
com a sua sabedoria, não mistura
os diferentes níveis de governo. O
que está em disputa é a gestão da
cidade, importante em si só.
Folha - As pesquisas o indicam como o principal cabo eleitoral.
Alckmin - O Serra é excelente
candidato, eu o apóio com alegria,
porque entendo que é importante
para a população saber quem são
as companhias. Não se governa
sozinho, não se faz política sozinho. É como se fala: "Dize-me
com quem andas, dir-te-ei quem
és". Meu apoio é por convicção.
Podemos dar um salto de qualidade na gestão da cidade. Sempre
houve uma polarização entre PT e
Maluf, pela primeira vez o PSDB
chega ao segundo turno com boas
chances de vitória.
Folha - Qual vai ser a sua participação no segundo turno?
Alckmin - Como no primeiro.
Havendo necessidade, gravo para
programas de televisão e, aos finais de semana, fora do horário
do governo, posso participar de
atividades de campanha. Mas nós
não misturamos público e privado. Não há nenhuma hipótese de
o governo do Estado se envolver
em campanha, nem de nenhum
ato da administração pública se
transformar em ato de campanha.
É importante para fortalecer a democracia e o espírito republicano.
Folha - No segundo turno, o PT
tem mais chance de obter apoio do
PP, do PSB e do PMDB? E o PSDB?
Alckmin - As lideranças são importantes, mas o eleitor é totalmente livre, não há comando de
voto no segundo turno. As eleições anteriores já mostraram isso.
Folha - Manifestações de voto de
Paulo Maluf, Luiza Erundina e Paulinho não têm importância?
Alckmin - É como já coloquei: é
importante que lideranças se manifestem, é uma referência, mas o
eleitorado é totalmente livre. Na
minha própria campanha a governador, o candidato do PP [Maluf] declarou apoio ao meu adversário [José Genoino, do PT], e eu
tive 70% dos eleitores que votaram nele no primeiro turno.
Folha - Apoio do Maluf é igual ao
da Erundina?
Alckmin - Nós temos uma afinidade, um afeto e um respeito muito grandes pela prefeita Erundina
desde a época do governador Mário Covas, mas as conversas devem ser partidárias, feitas pelo diretório regional do partido.
Folha - O PT promete uma campanha dura no segundo turno, inclusive com acusações. Vai ter revide?
Alckmin - O PT está ameaçando
trocar "paz e amor" por rancor.
Não é um bom caminho. Jamais
vi alguém crescer falando mal dos
outros. Não nos preocupa. Se atacarem o governo do Estado, será
uma boa oportunidade para mostrar o que estamos fazendo.
No primeiro turno, atacaram a
ação do Estado na saúde, e nós
mostramos que fizemos 16 hospitais novos, mais ampliações de
outros e 5.000 leitos a mais, só em
regiões mais carentes da capital e
da região metropolitana. O PT
não criou um só leito.
Folha - Isso já é o estrato do programa de TV do segundo turno,
com prefeitura versus governo do
Estado? E o governo federal?
Alckmin - Não faremos nenhuma espécie de ataque, nem temos
receio dos ataques que vierem.
Mais: o PSDB defende campanha
limpa, abordando temas, teses.
Limpa, inclusive no visual, sem
sujar a cidade toda.
Folha - Lula gravará para Marta
no segundo turno. A disputa nacional PT-PSDB virá para São Paulo?
Alckmin - Nós não vemos nenhum problema, porque faz parte
do processo democrático que as
principais lideranças exponham
suas idéias.
Folha - E por que FHC foi o grande
ausente da campanha?
Alckmin - Ele declarou apoio ao
Serra em várias oportunidades.
Folha - Mas foi o grande ausente
nos programas. As pesquisas desaconselhavam a presença dele?
Alckmin - Não. Ele é ex-presidente da República, acho que
prestou sua colaboração, não seria o caso de se envolver mais.
Folha - Com uma polarização tão
clara e com esse virtual empate no
primeiro turno entre PT e PSDB,
que projeção se faz para 2006?
Alckmin - O PSDB cresce nestas
eleições. Terá o seu melhor resultado em São Paulo e eu diria no
país, porque ele se enraíza nos
grandes centros urbanos. Aliás,
obtém um resultado melhor fora
do governo do que quando estava
no governo. Acho bom para a democracia ter dois partidos que se
consolidam, o PT, que é governo,
e o PSDB, que é oposição. O
PSDB, sem recursos, com uma
campanha franciscana e sem governo em termos federais. Nasceu
como partido de quadros, passa a
ser um partido orgânico.
Folha - De qualquer forma, o PT
tinha mais chances em 11 capitais,
e o PSDB, em oito.
Alckmin -Nós tínhamos três capitais, Vitória, Teresina e João
Pessoa, e estamos disputando em
oito, caso de Curitiba, Florianópolis e Fortaleza, em que nunca tivemos possibilidade maior. Além
de São Paulo, onde nunca fomos
ao segundo turno.
Folha - Caso Serra vença, será
uma boa alavanca para a sua candidatura presidencial?
Alckmin - Não, Não há relação
direta entre eleição municipal e
eleição presidencial e, de mais a
mais, sou contra, seja quem for o
candidato do meu partido, antecipar processos sucessórios.
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