São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2004 / SÃO PAULO

Para governador, PT ameaça trocar "paz e amor" por "rancor"

Alvo potencial do PT, Alckmin afirma não ter "medo de cara feia"

ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO

"Nós não temos medo de cara feia", disse ontem o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), considerado o principal cabo eleitoral da eleição paulistana e candidato a apanhar nos programas do PT no segundo turno.
"O PT está ameaçando trocar "paz e amor" por rancor. Não é um bom caminho. Jamais vi alguém crescer falando mal dos outros", disse em entrevista à Folha, no Palácio dos Bandeirantes.
Na sua opinião, o PSDB disputa capitais antes nunca sonhadas, cresce nos grandes centros e sai mais forte destas eleições.

 

Folha - O sr. é o anti-Lula?
Geraldo Alckmin -
Não. O povo, com a sua sabedoria, não mistura os diferentes níveis de governo. O que está em disputa é a gestão da cidade, importante em si só.

Folha - As pesquisas o indicam como o principal cabo eleitoral.
Alckmin -
O Serra é excelente candidato, eu o apóio com alegria, porque entendo que é importante para a população saber quem são as companhias. Não se governa sozinho, não se faz política sozinho. É como se fala: "Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Meu apoio é por convicção. Podemos dar um salto de qualidade na gestão da cidade. Sempre houve uma polarização entre PT e Maluf, pela primeira vez o PSDB chega ao segundo turno com boas chances de vitória.

Folha - Qual vai ser a sua participação no segundo turno?
Alckmin -
Como no primeiro. Havendo necessidade, gravo para programas de televisão e, aos finais de semana, fora do horário do governo, posso participar de atividades de campanha. Mas nós não misturamos público e privado. Não há nenhuma hipótese de o governo do Estado se envolver em campanha, nem de nenhum ato da administração pública se transformar em ato de campanha. É importante para fortalecer a democracia e o espírito republicano.

Folha - No segundo turno, o PT tem mais chance de obter apoio do PP, do PSB e do PMDB? E o PSDB?
Alckmin -
As lideranças são importantes, mas o eleitor é totalmente livre, não há comando de voto no segundo turno. As eleições anteriores já mostraram isso.

Folha - Manifestações de voto de Paulo Maluf, Luiza Erundina e Paulinho não têm importância?
Alckmin -
É como já coloquei: é importante que lideranças se manifestem, é uma referência, mas o eleitorado é totalmente livre. Na minha própria campanha a governador, o candidato do PP [Maluf] declarou apoio ao meu adversário [José Genoino, do PT], e eu tive 70% dos eleitores que votaram nele no primeiro turno.

Folha - Apoio do Maluf é igual ao da Erundina?
Alckmin -
Nós temos uma afinidade, um afeto e um respeito muito grandes pela prefeita Erundina desde a época do governador Mário Covas, mas as conversas devem ser partidárias, feitas pelo diretório regional do partido.

Folha - O PT promete uma campanha dura no segundo turno, inclusive com acusações. Vai ter revide?
Alckmin -
O PT está ameaçando trocar "paz e amor" por rancor. Não é um bom caminho. Jamais vi alguém crescer falando mal dos outros. Não nos preocupa. Se atacarem o governo do Estado, será uma boa oportunidade para mostrar o que estamos fazendo.
No primeiro turno, atacaram a ação do Estado na saúde, e nós mostramos que fizemos 16 hospitais novos, mais ampliações de outros e 5.000 leitos a mais, só em regiões mais carentes da capital e da região metropolitana. O PT não criou um só leito.

Folha - Isso já é o estrato do programa de TV do segundo turno, com prefeitura versus governo do Estado? E o governo federal?
Alckmin -
Não faremos nenhuma espécie de ataque, nem temos receio dos ataques que vierem. Mais: o PSDB defende campanha limpa, abordando temas, teses. Limpa, inclusive no visual, sem sujar a cidade toda.

Folha - Lula gravará para Marta no segundo turno. A disputa nacional PT-PSDB virá para São Paulo?
Alckmin -
Nós não vemos nenhum problema, porque faz parte do processo democrático que as principais lideranças exponham suas idéias.

Folha - E por que FHC foi o grande ausente da campanha?
Alckmin -
Ele declarou apoio ao Serra em várias oportunidades.

Folha - Mas foi o grande ausente nos programas. As pesquisas desaconselhavam a presença dele?
Alckmin -
Não. Ele é ex-presidente da República, acho que prestou sua colaboração, não seria o caso de se envolver mais.

Folha - Com uma polarização tão clara e com esse virtual empate no primeiro turno entre PT e PSDB, que projeção se faz para 2006?
Alckmin -
O PSDB cresce nestas eleições. Terá o seu melhor resultado em São Paulo e eu diria no país, porque ele se enraíza nos grandes centros urbanos. Aliás, obtém um resultado melhor fora do governo do que quando estava no governo. Acho bom para a democracia ter dois partidos que se consolidam, o PT, que é governo, e o PSDB, que é oposição. O PSDB, sem recursos, com uma campanha franciscana e sem governo em termos federais. Nasceu como partido de quadros, passa a ser um partido orgânico.

Folha - De qualquer forma, o PT tinha mais chances em 11 capitais, e o PSDB, em oito.
Alckmin -
Nós tínhamos três capitais, Vitória, Teresina e João Pessoa, e estamos disputando em oito, caso de Curitiba, Florianópolis e Fortaleza, em que nunca tivemos possibilidade maior. Além de São Paulo, onde nunca fomos ao segundo turno.

Folha - Caso Serra vença, será uma boa alavanca para a sua candidatura presidencial?
Alckmin -
Não, Não há relação direta entre eleição municipal e eleição presidencial e, de mais a mais, sou contra, seja quem for o candidato do meu partido, antecipar processos sucessórios.


Texto Anterior: Foras da lei: Boca-de-urna acontece livre em SP
Próximo Texto: Resultados mostram que PT e PSDB são os 2 eixos, diz Mercadante
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.