São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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Eleito quer aliança contra Garotinho

PLÍNIO FRAGA
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Reeleito prefeito do Rio em primeiro turno, Cesar Maia obteve seu terceiro mandato à frente da segunda maior capital brasileira, superando o que ele próprio considera um "ciclo de exaustão".
"Depois de tanto tempo, você não é capaz mais de produzir emoção no eleitor, criar expectativa. Passa a ser algo que não gera futuro na cabeça dele", afirma Maia sobre os dois mandatos que já cumpriu à frente da prefeitura.
Maia busca agora se viabilizar como candidato a vice-presidente da República pelo PFL, numa chapa liderada, de preferência, na sua visão, pelo tucano Geraldo Alckmin. Apesar disso, quer que o PFL e o PT se aliem formalmente em cidades da região metropolitana do Rio para enfrentar o PMDB de Anthony Garotinho.
A prioridade da sua terceira gestão será "a reconversão do Rio como cidade de serviços de entretenimento e cultura". Diz ainda que o prefeito é "impotente" para cuidar da questão da segurança.

 

Folha - A vitória em primeiro turno permite ao sr. capitalizar-se nacionalmente?
Cesar Maia -
Sem dúvida, na hora em que se ganha em primeiro turno, por maioria absoluta, numa cidade como o Rio de Janeiro, para um quarto mandato. O eleitor votou em mim em 1992, votou em mim em 1996 [quando conseguiu eleger Luiz Paulo Conde, seu vice-prefeito], em 2000 e em 2004. Isso num ponto em que os politicólogos chamam de ciclo de exaustão, que são decenais. Políticos raramente sobrevivem a dez anos de exposição. A idéia é que você exaure. Não é capaz mais de produzir emoção no eleitor, criar expectativa. Passa a ser algo que não gera futuro na cabeça dele.

Folha - Qual a fórmula para fugir desse ciclo de exaustão?
Maia -
O Dick Morris [marqueteiro de Bill Clinton e do primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin] esteve aqui, seis meses atrás, querendo me assessorar. Quase o contratei. Ele queria porque queria fazer a campanha. Sentiu que seria vitoriosa. Resolvi não contratar, porque ninguém iria acreditar o que pagaria a ele. Iam dizer que estava gastando milhões de dólares. O desgaste seria muito alto. Mas ele me disse: a armadilha dos candidatos à reeleição bem avaliados é querer que o eleitor vote neles pelo que fizeram. Essa é a fórmula da derrota. Ele quer mais, quer futuro. Precisa desenvolver pesquisas para descobrir os temas para o futuro.

Folha - O que mudou na agenda da eleição do Rio?
Maia
- Pouca coisa. Diariamente um candidato [André Corrêa, do PPS] abordou o tema segurança, com a participação da Denise Frossard e do Ciro Gomes e só atingiu 0,8% das intenções de votos. Uma coisa importante. Ciro Gomes e José Serra (PSDB) juntos, na eleição presidencial passada, somaram mais votos na zona sul do que Lula e Garotinho. E a candidatura não sensibilizou.

Folha - Esse resultado torna inviável uma candidatura de Ciro ao governo do Estado do Rio em 2006?
Maia
- Antes, eu achava que era viável, mas passei a acreditar que não. Botou a cara na campanha e não aconteceu nada. Nós é que vamos ter de transferir para ele máquina, voto, presença, representação para fazê-lo candidato? Acho que ele se inviabilizou. Se mudar de partido, pode ser.

Folha - Suas alianças regionais com o PT para combater Garotinho não são contraditórias com seu projeto nacional de unir PFL e PSDB?
Maia
- Depende. Você pode se fortalecer localmente. O segundo turno tem outras características. Exige que as direções dos partidos o discutam. Não queremos espaço no governo. Queremos um entendimento político de diretório a diretório, com formalização de aliança.

Folha - Qual será a marca da sua nova gestão?
Maia
- O trabalho de renovação da cidade deu certo. Terá seqüência. As grandes cidades dos séculos 19 e 20 passaram por processos de desindustrialização que foram vistos como processo de decadência. Essas cidades iniciaram processos de conversão para se tornarem cidades de serviços. Essa conversão do Rio devia ter se iniciado nos anos 60. O que lanço para o terceiro mandato é a reconversão para serviços de entretenimento e cultura.

Folha - O que um prefeito pode fazer para evitar casos como o arrastão da semana passada?
Maia -
Segurança é uma questão estadual. Há a delinqüência de rua, que tem associação mais ou menos remota com a questão social. Mas não há relação remota de quem está no tráfico de drogas e causas sociais. Os elementos de lei e ordem desapareceram das cabeças deles.
Só há uma estratégia: desmontagem por repressão. As ações sociais são para reduzir oferta para o crime.

Folha - Prefeito é impotente para atuar na segurança?
Maia -
Completamente. Não tem instrumento para isso.


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