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Eleito quer aliança contra Garotinho
PLÍNIO FRAGA
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Reeleito prefeito do Rio em primeiro turno, Cesar Maia obteve
seu terceiro mandato à frente da
segunda maior capital brasileira,
superando o que ele próprio considera um "ciclo de exaustão".
"Depois de tanto tempo, você
não é capaz mais de produzir
emoção no eleitor, criar expectativa. Passa a ser algo que não gera
futuro na cabeça dele", afirma
Maia sobre os dois mandatos que
já cumpriu à frente da prefeitura.
Maia busca agora se viabilizar
como candidato a vice-presidente
da República pelo PFL, numa
chapa liderada, de preferência, na
sua visão, pelo tucano Geraldo
Alckmin. Apesar disso, quer que
o PFL e o PT se aliem formalmente em cidades da região metropolitana do Rio para enfrentar o
PMDB de Anthony Garotinho.
A prioridade da sua terceira gestão será "a reconversão do Rio como cidade de serviços de entretenimento e cultura". Diz ainda que
o prefeito é "impotente" para cuidar da questão da segurança.
Folha - A vitória em primeiro turno permite ao sr. capitalizar-se nacionalmente?
Cesar Maia - Sem dúvida, na hora em que se ganha em primeiro
turno, por maioria absoluta, numa cidade como o Rio de Janeiro,
para um quarto mandato. O eleitor votou em mim em 1992, votou
em mim em 1996 [quando conseguiu eleger Luiz Paulo Conde, seu
vice-prefeito], em 2000 e em 2004.
Isso num ponto em que os politicólogos chamam de ciclo de
exaustão, que são decenais. Políticos raramente sobrevivem a dez
anos de exposição. A idéia é que
você exaure. Não é capaz mais de
produzir emoção no eleitor, criar
expectativa. Passa a ser algo que
não gera futuro na cabeça dele.
Folha - Qual a fórmula para fugir
desse ciclo de exaustão?
Maia - O Dick Morris [marqueteiro de Bill Clinton e do primeiro-ministro da Rússia, Vladimir
Putin] esteve aqui, seis meses
atrás, querendo me assessorar.
Quase o contratei. Ele queria porque queria fazer a campanha.
Sentiu que seria vitoriosa. Resolvi
não contratar, porque ninguém
iria acreditar o que pagaria a ele.
Iam dizer que estava gastando milhões de dólares. O desgaste seria
muito alto. Mas ele me disse: a armadilha dos candidatos à reeleição bem avaliados é querer que o
eleitor vote neles pelo que fizeram. Essa é a fórmula da derrota.
Ele quer mais, quer futuro. Precisa desenvolver pesquisas para
descobrir os temas para o futuro.
Folha - O que mudou na agenda
da eleição do Rio?
Maia - Pouca coisa. Diariamente
um candidato [André Corrêa, do
PPS] abordou o tema segurança,
com a participação da Denise
Frossard e do Ciro Gomes e só
atingiu 0,8% das intenções de votos. Uma coisa importante. Ciro
Gomes e José Serra (PSDB) juntos, na eleição presidencial passada, somaram mais votos na zona
sul do que Lula e Garotinho. E a
candidatura não sensibilizou.
Folha - Esse resultado torna inviável uma candidatura de Ciro ao
governo do Estado do Rio em 2006?
Maia - Antes, eu achava que era
viável, mas passei a acreditar que
não. Botou a cara na campanha e
não aconteceu nada. Nós é que
vamos ter de transferir para ele
máquina, voto, presença, representação para fazê-lo candidato?
Acho que ele se inviabilizou. Se
mudar de partido, pode ser.
Folha - Suas alianças regionais
com o PT para combater Garotinho
não são contraditórias com seu
projeto nacional de unir PFL e
PSDB?
Maia - Depende. Você pode se
fortalecer localmente. O segundo
turno tem outras características.
Exige que as direções dos partidos
o discutam. Não queremos espaço no governo. Queremos um entendimento político de diretório a
diretório, com formalização de
aliança.
Folha - Qual será a marca da sua
nova gestão?
Maia - O trabalho de renovação
da cidade deu certo. Terá seqüência. As grandes cidades dos séculos 19 e 20 passaram por processos de desindustrialização que foram vistos como processo de decadência. Essas cidades iniciaram
processos de conversão para se
tornarem cidades de serviços. Essa conversão do Rio devia ter se
iniciado nos anos 60. O que lanço
para o terceiro mandato é a reconversão para serviços de entretenimento e cultura.
Folha - O que um prefeito pode
fazer para evitar casos como o arrastão da semana passada?
Maia - Segurança é uma questão
estadual. Há a delinqüência de
rua, que tem associação mais ou
menos remota com a questão social. Mas não há relação remota
de quem está no tráfico de drogas
e causas sociais. Os elementos de
lei e ordem desapareceram das
cabeças deles.
Só há uma estratégia: desmontagem por repressão. As ações sociais são para reduzir oferta para o
crime.
Folha - Prefeito é impotente para
atuar na segurança?
Maia - Completamente. Não tem
instrumento para isso.
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