São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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GUERRA SANTA

Em cultos da Universal, religiosos fizeram referência a eleição, mas não citaram o nome de Crivella

Bispo conclama fiéis a destruir "príncipe do Rio"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

"Vocês sabem o que fazer hoje, não sabem?". A frase do bispo Guaracy Santos, dita pouco depois das 6h, indicava o que seriam os dois cultos realizados ontem no "Templo Maior" da Igreja Universal do Reino de Deus, em Del Castilho (zona norte): nenhuma menção ao nome de Marcelo Crivella (PL), mas várias referências à eleição. Crivella é bispo da igreja e sobrinho de Edir Macedo, líder da organização evangélica.
"Hoje vamos esmagar a cabeça da serpente. Vamos pisar em satanás. Vamos tirar esse exu de violência do Rio de Janeiro", bradou Guaracy. Antecipados em razão da eleição para 6h e 8h -normalmente acontecem às 7h e 10h- os cultos marcaram o evento "Rio ao pé da cruz", anunciado na semana em programas de TV produzidos pela Universal. A prometida distribuição do salmo 22 não ocorreu, proibida pela Justiça Eleitoral, que a considerou propaganda de Crivella (22 é o número do PL).
A TV Record, que pertence à igreja, ficou fora do ar no Rio na sexta por causa das alusões ao salmo feitas no programa "Coisas da Vida", do bispo Clodomir dos Santos. "Estou impedido pela lei de distribuir o salmo. Nem na ditadura acontecia isso. Mas não tem nada não. Amanhã eles vão ver", disse Clodomir no culto das 8h. A platéia, formada por mais de 7.000 pessoas, gritou "Hoje! Hoje!". Pouco antes, ele falara que "até o Judiciário no país se corrompeu".
Aproveitando uma passagem bíblica que cita o príncipe da Pérsia, Clodomir clamou: "Vamos destruir o príncipe do Rio, vamos amarrar o príncipe".
Algumas dessas frases foram ditas enquanto as pessoas iam até o altar depositar suas "ofertas" -quantias em dinheiro determinadas pelos fiéis. Também foram distribuídas maquetes do "Templo Maior", dentro das quais, segundo a orientação dos bispos, devem ser entregues no próximo domingo o dízimo (valor mensal) e a oferta.
Ontem, foi possível ver cabos eleitorais pegando materiais de campanha de Crivella em templos da Universal. Num deles, na Tijuca (zona norte), militantes procuraram esconder o material quando viram o fotógrafo da Folha. Um dos militantes, sem ser agressivo, perguntou ao fotógrafo se ele não queria fazer a reportagem dentro da igreja. Outros quatro militantes observaram.


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