São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

1998


Zinedine Zidane transforma em pó os preconceitos xenófobos de seu país, esmaga as críticas ao seu futebol e diante de sua torcida dá à França a maior vitória de sua história


O ‘argelino’ que ergueu uma pátria

Allsport - 12.jun.98
Zinedine Zidane ajuda a seleção da França a fazer 3 a 0 sobre a África do Sul na Copa do Mundo de 1998


A história parece saída dos contos de fadas. Mas só poderia mesmo acontecer no futebol.
Um marselhês filho de argelinos, o pai, guarda noturno de supermercado, a mãe, dona de casa. Seu caminho, traçado para ser o de mais um imigrante sujeito às pressões xenófobas na França.
Zinedine Zidane, porém, virou o maior ídolo do país ao comandar a seleção rumo a um título inédito _e, ainda por cima, conquistado diante dos franceses.
Seu sucesso no futebol demorou para parecer plausível. Quando criança, gostava mesmo era de andar de bicicleta e de lutar judô.
Só depois a bola chamou sua atenção. "Quando vi que a escola não o prendia e que ele se inclinava para o futebol, deixei-o ir. Ele fazia judô e futebol, mas achei que era demais", diz Smail, seu pai.
O garoto que tinha cabelos longos até os ombros e que se divertia vendo os jogos de Michel Platini começou no Poussino de Saint-Henri e passou ao Septèmes-les-Vallons. Foi descoberto por Jean Varraud, um olheiro do Cannes, que indicou-o mesmo não o tendo achado brilhante.
Zidane foi a Cannes para uma semana de testes. Ficaria por lá seis anos. Em 1989, aos 16, estreou na primeira divisão. Depois, negociado com o Bordeaux, ganhou o apelido de "Zizou". Mas, enquanto subia nos campos, Zidane via o futebol de seu país afundar.
Barrada da Copa de 1990, a seleção francesa naufragou ainda na Eurocopa de 1992 e, como se não bastasse, acabou ficando fora também do Mundial dos EUA.
Depois de ver uma geração talentosa, de Platini e Giresse, fracassar nas Copas, e outra, de Cantona e Papin, nem chegar à competição, a França abriu o vácuo que transformaria Zidane, um fã obstinado de F-1 e de tênis (sobretudo de Andre Agassi), no novo grande ídolo de seu futebol.
Já na estréia na seleção, marcou duas vezes para empatar um jogo com a República Tcheca.
Logo a Juventus desembolsaria US$ 8,25 milhões ao Bordeaux para levá-lo à Itália. E, no "calcio", acabaria tomando o espaço que fora de Platini.
Com a fama, o meia de drible e toque de bola refinados chegou à Copa de 1998 como o maior nome de sua seleção.
Logo no segundo jogo, porém, Zidane frustrou o país ao ser expulso, após pisar na nádega de um saudita. Passou de herói a nada.
Do lado de fora, viu sua seleção passar sufoco nas oitavas-de-final contra o Paraguai, numa prorrogação com morte súbita.
Mas a equipe sobreviveu, e o camisa 10 retornou a campo para ser herói. Em um Stade de France lotado, o garoto tímido e ruim no jogo aéreo foi coroado com duas cabeçadas certeiras contra o Brasil, formalizando o título. "Melhor que um sonho", definiu.



Texto Anterior: Dinheiro: Inflação leva a bola ao bilhão
Próximo Texto: Mídia: Evento vira show televisivo
Índice


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.