São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

O peixe de hoje, o peixe de amanhã

CERTIFICAÇÕES E LISTAS DISPONÍVEIS NA INTERNET AVALIAM O IMPACTO DA PESCA NAS ESPÉCIES; CONSULTAS GARANTEM QUE A COMIDA COMPRADA AGORA NÃO MATE A DO FUTURO

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA

Não é das mais fáceis a vida do sujeito que deseja manter peixes saborosos no cardápio e, ao mesmo tempo, continuar em paz com a sua consciência ambiental.
O consenso entre os biólogos marinhos é que as espécies mais apreciadas e incorporadas há séculos à mesa, do atum ao salmão, passando pelo bacalhau, andam com a corda no pescoço devido à chamada sobrepesca.
Isso quer dizer que, na natureza, boa parte das populações dos bichos andam sendo destroçadas mais rápido do que os coitados conseguem se reproduzir. Resultado: colapso populacional.
Diante disso, as opções do amante do pescado ambientalmente consciente são duas: preferir os peixes cujas populações andam comprovadamente bem das pernas ou os criados em cativeiro. Ambas as escolhas comportam seus próprios problemas.
Uma ideia simples que parecia estar indo bem envolveu a criação de um selo que pudesse dizer aos consumidores que dá para comer certo peixe sem medo de extingui-lo. Assim nasceu o MSC (sigla inglesa para Conselho de Boa Gestão dos Mares).
O MSC, com sede em Londres, nasceu em 1997. Receberia a certificação dele empresas cuja atividade garantisse a sobrevivência e a saúde de seus estoques pesqueiros por tempo indeterminado, mantendo também a saúde do ecossistema todo.
No entanto, o biólogo Daniel Pauly, especialista da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) que foi consultor do MSC em seus inícios, o papel do conselho não anda sendo cumprido.
No ano passado, Pauly e outros colegas assinaram um manifesto na revista científica ªNatureº listando o que consideram ser as mazelas do MSC. A principal: o selo recentemente aprovou a captura de peixes cuja população caiu até 90%.
O MSC se defende. ªTodas as companhias certificadas são sustentáveis e bem administradasº, diz o conselho.
O único produto no Brasil recomendado pelo MSC, segundo o site do órgão, é o arenque da empresa alemã Stührk Delikatessen.
Uma alternativa mais barata e talvez mais confiável para um guia rápido é o site Seafood Watch, do Aquário da Baía de Monterey (Califórnia). O endereço é www.montereybayaquarium.org/cr/seafoodwatch.aspx e nele é possível descobrir que o único cação considerado ambientalmente aceitável é o da Colúmbia Britânica.

YES, NÓS TEMOS TILÁPIA
Também aparece como "boa alternativa" a tilápia criada em cativeiro no Brasil, embora a produzida nos EUA receba a classificação de "melhor escolha".
"Consideramos que a nossa produção é de baixo impacto ambiental", diz o piscicultor Fernando Bassero, que cria tilápias em reservatórios artificiais em São Roque (SP) e no Pontal do Paranapanema. Uma das vantagens ambientais do modelo adotado por ele é a criação em açudes escavados, e não em lagos naturais, nos quais as tilápias competem com peixes nativos dessas águas.
Além disso, para minimizar a chegada de dejetos às águas da região, o que vem dos reservatórios passa por duas filtragens, uma das quais remove amônia (substância a base de nitrogênio que pode ser poluente), e também por decantação, removendo outros resíduos.
ªEntre os piscicultores há muita discussão sobre certificação, mas ainda não existe nada estabelecidoº, afirma Bassero. "E é difícil repassar esse custo para o consumidor. A coisa ainda depende muito da consciência de cada um", diz o produtor


Texto Anterior: Menos 62% na conta da Sabesp
Próximo Texto: Análise: Consumo sustentável, contradição em termos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.