São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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PARA EXPORTAÇÃO

Executivo brasileiro deixa o país para conquistar mercado

Experiência com economia instável é diferencial

ANDRESSA ROVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para muitos executivos, uma boa maneira de avançar na carreira é sair da empresa. Essa partida, porém, nem sempre tem a ver com trocar de camisa, e sim de nacionalidade, por algum tempo, para ocupar um posto em outro país.
Passar um período trabalhando no exterior -para aprender na matriz ou controlar subsidiárias- já faz parte do plano de desenvolvimento de muitos profissionais. E essa possibilidade aumenta na velocidade com que se amplia a rede de negócios entre países, que abre espaço em novas searas, como Ásia e América Latina.
Na maioria das vezes, o brasileiro expatriado ganha missões relacionadas à gestão. Nesse caso, conta com dois diferenciais de peso: ser formado em meio a turbulências típicas da nossa economia e herdeiro do inegável carisma latino-americano.
O talento para gerenciar em solo pouco fértil tem valorizado o passe brasileiro em meio à profusão de novos negócios em países em desenvolvimento.
"Arrisco dizer que exportamos executivos", declara Gino Oyamada, sócio responsável pela região sul da consultoria Fesa Global Recruiters. "Em países que também têm esses altos e baixos, estamos sempre presentes", completa.
Muitas multinacionais fazem do Brasil uma plataforma para desenvolver talentos. Uma delas é a Bunge, companhia holandesa cuja subsidiária brasileira hoje "empresta" 17 executivos a outros destinos.
"O perfil do nosso executivo é inovador, ele está sempre descontente com o resultado", reforça José Ismael de Sá, gerente de operações e armazenagem da Bunge Alimentos.
Não há dados consolidados que atestem o crescimento das transferências brasileiras, mas, lá fora, 44% das multinacionais aumentaram o número de expatriados entre subsidiárias entre 2004 e 2005.
O resultado faz parte de um levantamento finalizado neste ano pela consultoria norte-americana GMAC GRS (Global Relocation Services) com 125 gestores de empresas que têm escritórios no mundo todo.
Segundo Patricia Molino, sócia da KPMG, há dois motivos principais para expatriar um executivo de alto escalão. Ou ele vai à matriz em busca de conhecimento para assumir o próximo passo na carreira ou é transferido porque sua expertise está fazendo falta lá fora.

Transnacionais
Apesar de o primeiro caso ser mais freqüente, o quadro pode passar por mudanças. Como no caso da Companhia Vale do Rio Doce, que adquiriu uma firma canadense há duas semanas, o avanço no número de transnacionais deve ampliar a exportação de talentos que espalhem o know-how nacional.
O engenheiro Charles Lenzi, 47, já passou por essa experiência. Convidado pelo presidente da AES Sul para capitanear os serviços em uma subsidiária recém-privatizada na Índia, ele titubeou. "Foi um choque. Sempre quis morar fora, mas nunca havia pensado em ir para lá", conta.
Foi uma espécie de "vestibular" na empresa, e Lenzi passou. A experiência de dois anos no país foi tão compensadora que a família partiu de lá para outro desafio: a Venezuela.
"As escolhas que fazemos determinam nosso rumo. Talvez aparecessem outras oportunidades, mas tenho certeza de que não estaria neste cargo hoje", destaca Lenzi, alçado ao posto de diretor-geral da AES Eletropaulo.


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