São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Precocidade em relação a Daiane expõe evolução

SALÁRIO, EQUIPAMENTOS, TÉCNICOS ESTRANGEIROS E CENTRO DE TREINAMENTO FAZEM DE JADE BARBOSA, 16, BEM-SUCEDIDO CASO DE ATLETA FABRICADO NA VIGÊNCIA DA LEI PIVA

DA REPORTAGEM LOCAL

Fazia pouco mais de um ano que a Lei Piva vigorava no país quando Jade Barbosa, então aos 12 anos, assombrou a ginástica ao se tornar a atleta mais jovem do mundo a realizar o duplo twist carpado.
O salto, até então, era marca registrada de Daiane do Santos, principal ginasta do país.
Jade acertava acrobacias cada vez mais complexas, mas não decolava. Crises no Flamengo e falta de patrocínio eram entraves constantes.
Em um dos momentos de penúria, só foi a um pan-americano em El Salvador graças à ajuda do ex-jogador de basquete Amaury Pasos, que lhe doou R$ 10 mil. Georgette Vidor, a técnica que "descobriu" Jade, dizia que a pupila era "uma em 1 milhão". Entretanto, sem estrutura, não poderia se destacar.
Havia pouco tempo que Daniele Hypólito havia chorado ao presidente Fernando Henrique Cardoso pela compra de aparelhos para o Flamengo.
Enquanto Jade treinava a duras penas, uma outra ginasta se destacava. Em 2004, Daiane dos Santos, em sua segunda Olimpíada, conquistou a quinta colocação no solo em Atenas.
Inspirada, Jade decidiu descobrir em que estágio estava seu talento. Participou da seletiva para a seleção olímpica permanente e foi aprovada.
A contragosto, a garota de 13 anos teve que deixar o Rio, o pai e o irmão mais novo para encampar o sonho de ser ginasta.
Mergulhou numa estrutura e em rotina até então inimagináveis. Em Curitiba (PR), a Confederação Brasileira de Ginástica montara estrutura impressionante, com aparelhos novos, técnicos estrangeiros de ponta e equipe permanente com as estrelas da modalidade.
Uma fábrica de fazer ginastas, mantida com o apoio do governo e a verba da Lei Piva.
No início, nos primeiros meses de 2005, Jade sofreu.
"Além da saudade, ela ficou sem competir, para limpar as séries. O treino mudou. No clube, era muita força. A Jade tinha até os músculos bem definidos. Na seleção, trabalha-se muito a técnica", diz o arquiteto Cesar Barbosa, pai da atleta.
Na comparação com Daiane, dona do primeiro ouro do país em Mundiais e esperança de medalha em 2004, como Jade é agora, a ginasta carioca foi privilegiada. "Quando a Jade entrou na seleção, já pegou o paraíso", diz Eliane Martins, supervisora de seleções da CBG.
A versão do paraíso é vista no primeiro salário de Jade, que, diz a CBG, era R$ 4.000, enquanto Daiane, em 2002, não recebeu mais do que R$ 800.
E não foi só isso. No item mais caro, aparelhos, a distância é maior. "Quando Daiane veio, tínhamos só um kit dos EUA. Na Europa, usa-se o Spieth [alemão]. Faz diferença. A Jade teve o kit americano, o Spieth e recursos que ajudam a prepará-la melhor", diz Eliane.
Para a CBG, o dinheiro da Lei Piva -cerca de R$ 2 milhões/ano- e de patrocínios permitiu maior precocidade a Jade em feitos internacionais, como na Copa do Mundo e no Mundial.
Em Curitiba, a ginasta foi talhada na técnica, no físico e até psicologicamente. "Fui quase uma mãezona para ela, que chorava muito", diz a técnica ucraniana Iryna Ilyaschenko.
E Jade tem correspondido. Liderou o país no Pan e no Mundial de 2007, no primeiro ano no adulto. Agora, sob a batuta do guru de Daiane, Oleg Ostapenko, pode coroar "a fábrica" em Pequim. "Ela é muito forte. Se mantiver os treinos, terá chance", diz Oleg, sobre o primeiro pódio olímpico.
E Jade se diz segura: "Não penso em nada. Quero chegar com tudo afiado à Olimpíada." (CRISTIANO CIPRIANO POMBO)


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