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Evangélicos avançam na periferia das metrópoles
DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DO RIO
Um cinturão protestante envolve as capitais do país: os
evangélicos representam 29%
da população das franjas das
regiões metropolitanas (sete
pontos acima da média nacional). Nelas, a proporção de católicos (55%) fica nove pontos
abaixo da média nacional.
O que explica o avanço evangélico nas periferias metropolitanas? São regiões carentes de
serviços públicos e submetidas
a altas taxas de criminalidade,
que abrigam populações de baixa renda e baixa escolaridade.
O "trânsito religioso" é grande,
fazendo com que pessoas crescidas na tradição católica optem por vertentes que prometem cura e salvação imediatas.
"As igrejas pentecostais chegam aonde a Igreja Católica
não entra. E estimulam a incorporação de pessoas à sociedade
através de diferentes redes de
sociabilidade", diz Edlaine de
Campos Gomes, da UFRJ.
Corais, grupos de teatro e de
oração estão entre essas redes,
mas o resultado que os fiéis
mais exaltam é a suposta melhoria das finanças e a obtenção
de serviços e empregos por
meio do convívio com outras
pessoas -ou graças às orações,
como crêem. "Ao parar de beber, fumar, já há um regramento do orçamento", diz Ronaldo
de Almeida, professor da Unicamp e pesquisador do Cebrap
(Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento).
Ele diz que muitos dos fiéis
são "biscateiros, autônomos" e
que igrejas como a Universal,
em que há um "culto dos empresários", fornecem uma ética
para as ações informais, sintetizada na "teologia da prosperidade" -o estímulo à conquista
de uma renda maior. "Tinha
um espírito devorador que sumia com o dinheiro do meu bolso", diz Hely Fernandes da Silva, 69, há 20 na Deus É Amor.
"Quando fui à igreja, as portas estavam fechadas na minha
vida. Levei a carteira de trabalho, orei e, dois dias depois, fui
chamada para um emprego",
diz a costureira Iara Araújo, 46,
que se mudou em 2006, após 18
anos na Universal, para a Igreja
Internacional da Graça de
Deus. "Para o rico, é muito fácil
não ser cristão, porque ele acha
que o dinheiro compra tudo.
Mas o pobre vai se agarrar em
quê se não tiver fé?", diz o caminhoneiro aposentado Reginaldo Apolinário de Lira, 41, da
Igreja Pentecostal Nova Vida.
Os pentecostais são numerosos nas categorias com inserção
precária no mercado de trabalho e em geral vivem em famílias com renda familiar de até
cinco salários (85%). A predominância é de mulheres (57%).
Na comparação, os católicos
apresentam uma situação mais
estabilizada: têm idade média
mais elevada (40 anos, contra
39 dos pentecostais), menor
proporção de mulheres (51%),
uma renda familiar um pouco
maior e presença significativa
entre aposentados, empresários, rentistas e funcionários
públicos. O grupo mais contrastante é o dos espíritas: 20%
têm ao menos superior completo, e 47%, renda familiar acima de cinco salários.
O avanço pentecostal encontra seus limites na melhoria das
condições sociais nas periferias. "O futuro evangélico no
Brasil não é líquido e certo", diz
Marcelo Camurça, professor da
UFJF, de Juiz de Fora.
O Sudeste, que concentra as
maiores metrópoles do país,
possui 25% de evangélicos
(20% pentecostais e 5% não-pentecostais), contra 59% de
católicos. Proporções similares
também ocorrem no Norte,
que tem 26% de evangélicos
(22% de pentecostais e 4% de
não-pentecostais) e 61% de católicos, e no Centro-Oeste, com
24% de evangélicos (18% de
pentecostais e 6% de não-pentecostais) e 63% de católicos.
O Nordeste é a região mais
católica -71% dos fiéis contra
17% de evangélicos (14% pentecostais e 3% não-pentecostais).
No Sul, os católicos somam
70% da população, contra 18%
dos evangélicos (13% pentecostais e 5% de não-pentecostais).
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