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Periferia do Rio exibe avanço de evangélicos
NO ENTORNO DA CAPITAL FLUMINENSE, CATÓLICOS SOMAM 41%, CONTRA 37% DA 2ª MAIOR VERTENTE RELIGIOSA
DO PAÍS
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Num trecho de 4 km da Baixada Fluminense entre Jardim
Gramacho (Duque de Caxias) e
Parque São José (Belfort Roxo)
há 30 igrejas. Só uma é católica.
A Baixada Fluminense é o
exemplo mais contundente do
avanço evangélico na periferia
das metrópoles. Excetuada a
capital, os evangélicos pentecostais e os não-pentecostais
(adeptos das igrejas surgidas da
Reforma no século 16) somam
37% dos moradores da região
metropolitana, enquanto os católicos representam 41%. Os
dois grupos estão no limite do
empate técnico, pois a margem
de erro é de dois pontos.
Entre 1999 e 2006, o Rio teve
três governadores declaradamente evangélicos: Anthony
Garotinho (PMDB), Benedita
da Silva (PT) e a mulher de Garotinho, Rosinha (PMDB).
As 30 igrejas da estrada que
liga Jardim Gramacho a Parque
São José englobam evangélicas
históricas, grandes pentecostais (Universal e Assembléia de
Deus) e denominações que às
vezes se resumem a uma sede.
Para vários estudiosos, esse
quadro configura um "mercado
de bens simbólicos". Ronaldo
de Almeida, do Cebrap (Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento), não gosta do termo
"mercado", mas admite que há
uma concorrência das igrejas:
"Quando preciso de uma fala libertadora, vou na Universal; de
uma reflexão forte, na Batista;
de louvor, na Renascer em
Cristo. O que ocorre é uma espécie de calibragem de acordo
com as opções que têm".
Quando se pergunta a um
evangélico por que escolheu
uma igreja pentecostal em detrimento de outra, é comum
ouvir a palavra "costumes" na
resposta. A flexibilidade em relação a roupas e hábitos é um
dos fatores de atração de fiéis.
"Gosto de usar brinco, pintar
cabelo, usar calça jeans. A igreja [Universal] me aceita como
eu sou", diz Andresa Carla de
Araújo, 19, que estuda história.
A ala tradicional da Assembléia de Deus mantém o rigor:
mulheres com saias abaixo do
joelho, homens de manga comprida e, de preferência, paletó.
"Agora, imagine se um homem de terno vê um joelho de
uma mulher. Vai ficar excitado.
O que é proibido é gostoso. Eu
falo de sexo abertamente nos
cultos", contrasta o pastor Edinaldo, da dissidência Assembléia de Deus da Família.
Assim como todos os pastores pentecostais, ele defende o
uso de métodos contraceptivos: "Esse povo tem espermatozóide todo dia. Se não usar
camisinha, vai jogar em um
útero. Se você for radical dentro dos seus dogmas, comete
um crime contra a sociedade".
Alguns padres de Nova Iguaçu relatam as angústias de pessoas que usam contraceptivos e
admitem que certos dogmas
afastam a população da igreja.
Coerente com sua "teologia
da prosperidade", a Universal
promove programas de laqueadura de trompas e estimula o
uso de preservativos. "Os pastores [da Universal] não ficam
embromando, como os padres.
Hoje uma menina tem relação
sexual aos 12 anos. Ela poderá
não ter uma vida prazerosa depois, mas, quando aceitar Jesus, pelo menos não vai ter uma
Aids para carregar", afirma a
estudante Maria Rocha dos
Santos, 19, ex-católica.
O costume do dízimo não encontra muita resistência entre
os fiéis. Para eles, Deus é quem
está recebendo. "Às vezes vejo
um pouco de exagero. Mas, se
queremos servir a um Deus
grande, por que não fazer um
templo grande?", diz Andresa.
Mas há quem veja exagero
em associar funk e pagode a
Cristo. "Temos que levar o
Evangelho para fazer a diferença, não trazer o funk e o pagode
para dentro da igreja", diz Reginaldo Lira, da Nova Vida.
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