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NIZAN GUANAES
CANDOMBLÉ
Sou católico, apostólico, baiano
Sou devoto de Santo Antônio e de Nossa Senhora do
Carmo. Entrei no candomblé,
tardiamente, aos 20 e tantos
anos. Fui consertar o telhado
do Gantois, e o Gantois consertou minha vida.
O candomblé não é religião.
É culto aos antepassados, às
forças da natureza. É moderno. Já era ecológico antes que
a ecologia entrasse em voga.
Não exclui opções sexuais. Ao
contrário, acolhe. Os deuses
do candomblé têm ira, inveja
e raiva. Xangô é colérico.
Oxum é ciumenta e chorosa.
Ogum tem o pavio curto.
Não é muito chique ser do
candomblé. Pelo menos na
parte do país em que vivo. Como toda cultura vinda dos
vencidos, é visto como desvio,
coisa de gente desajustada ou
artista. E confesso que isso, ao
contrário de me afastar dele,
sempre me instigou a caminhar contra o vento. Toda sexta-feira vejo o olhar jocoso
com que algumas pessoas me
olham vestido de branco.
O candomblé é o culto do
bem. Tantas vezes confundido com feitiço.
Se alguém usou esses poderes santos para o mal, é descaminho. E contra ele a força deve ter se voltado. O catolicismo não pode ser julgado a partir de padres pedófilos. E o
candomblé não pode ser julgado a partir de pais-de-santo
picaretas.
Candomblé é magia. Aquela
energia que a gente sente na
Bahia vem dele. Aquela música, aquela sensualidade e
aquela pimenta vêm dele.
Sua Santidade, por ser padre e alemão, talvez não consiga assimilar tudo isso. Mas
não posso negar o bem que
mãe Cleusa me fez e que mãe
Stella me faz. E o bem que elas
fazem pelos pobres.
O candomblé sempre foi e
continua pobre. Não tem catedrais, nem TVs, nem rádios.
Não faz coleta de dinheiro.
Ao contrário, as grandes
mães-de-santo doam. Vivem
franciscanamente. E nunca
fizeram voto de pobreza.
Porque os pobres não precisam disso.
Saúdo sua Santidade e peço
a Xangô e a Oxum que guiem
seus caminhos para que ele
possa ser uma grande mãe ao
longo de seu papado. Que,
além de encíclicas e regras, ele
nos dê colo e carinho.
Que ele seja uma espécie de
mãe Menininha global. Porque, ao fazer isso, honrará o
trono de Pedro e terá cumprido, no fim de seu papado, seu
papel no tempo e na história.
NIZAN GUANAES, 48, é publicitário
e presidente da Africa Propaganda
NA INTERNET - Leia a íntegra
www.folha.com.br/071232
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