São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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RICARDO BONALUME NETO
ATEU


O mal das religiões

Era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones e estudou num colégio católico liberal. Por isso fiquei chateado ao ouvir John Lennon em "Imagine" cantar como seria bom o mundo sem religião. Demorou para cair a ficha. Aos poucos o adolescente começou a entender a história e o papel das religiões no mundo. Como elas causam guerras, reprimem a sexualidade, prejudicam o avanço da ciência. Inquisição, talebãs, criacionismo, neoevangélicos movidos a dinheiro dos pobres: a lista de barbaridades praticadas pelas religiões organizadas e por seus seguidores mais fanáticos é imensa.
Sobraria "deus" (com minúscula). Afinal, o ente "superior" não pode ser diretamente vinculado às bobagens feitas em seu nome. Mas para que serve deus? Desta vez John Lennon não me chateou quando cantou que "deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor". Ah, me dizem, quando você estiver muito doente, vai encontrar deus. Bem, ainda não aconteceu, nem quando estive internado com pneumonia. Fiquei num quarto com um colega com câncer no pulmão. Quando foi feito o teste para saber se tinha a doença, ele pegou o envelope das mãos do médico e correu para uma igreja para abri-lo ali. Não adiantou.
Para explicar o mundo, deus é desnecessário. Mesmo que a ciência nunca explique tudo, é melhor ser humilde e reconhecer limitações do que procurar uma explicação fácil e reconfortante: "Foi deus".


RICARDO BONALUME NETO, 46, é repórter da Folha


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