|
Próximo Texto | Índice
HISTÓRIA
Democracia frágil e cultura sólida
Crise de 29 atrapalha recuperação alemã
depois da 1ª Guerra, mas país ganha destaque em literatura, teatro e cinema
MARCO CABRAL DOS SANTOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A assinatura do Tratado de Versalhes em 1919, selando o fim da 1ª
Guerra Mundial, colocou a Alemanha em situação humilhante.
O tratado retirou da Alemanha suas colônias e um décimo de seu
território,
e obrigou o país a pagar indenização de US$ 33 bilhões.
O período entre 1919 e 1933 ficou conhecido como República de Weimar e
foi
marcado pela tentativa de consolidação democrática numa economia
frágil.
Sob a liderança do social-democrata Friedrich Ebert, houve importante
movimento em direção à democratização. Em janeiro de 1919 elegeu-se uma
Assembléia Constituinte, que em seis meses entregava à Alemanha uma
nova
Constituição, que declarava: "O Reich é uma República. Toda autoridade
política vem do povo".
Em agosto de 1923, quando da posse de Gustav Stresemann como chanceler
imperial, a Alemanha conhecia na pele os efeitos da hiperinflação, US$
1 chegara a valer 4,2 bilhões de marcos.
Entre 1924 e 1929 o país se encontrava num período de reestruturação,
apoiado no Plano Dawes, elaborado com ajuda dos EUA, o que possibilitou
honrar compromissos de guerra sem comprometer os esforços econômicos.
Porém a Grande Depressão de 1929, ocasionada pelo crash da bolsa de
Nova
York, provocou efeitos funestos em diversas partes do mundo. Enquanto o
Brasil declinava suas exportações cafeeiras, a Alemanha interrompia seu
modesto ciclo de crescimento.
Os cortes sociais e o desemprego, que tiveram lugar desde então, se
tornaram fermentos no intrincado jogo político germânico.
Nas eleições de 1930 deu-se a ascensão de ultranacionalistas
(nacional-socialistas) e marxistas (comunistas), disputando o apoio de
aproximadamente 4,4 milhões de desempregados desiludidos.
Em 1932, quando o marechal Hindenburg foi reeleito, essa cifra atingia
os
5,6 milhões. Em 1933, com a demissão do chanceler Von Papen, Hindenburg
apóia-se em Hitler para compor o novo governo. Pouco depois, sob o jugo
nazista, a Alemanha deixaria a Liga das Nações. Era o fim da República
de
Weimar e a aurora de tempos sombrios para os alemães.
Contudo, este período não deve ser reduzido ao papel de prelúdio ao
nazismo. Em 1924, Thomas Mann escrevia, em "A Montanha Mágica", que o
"homem
não vive só sua vida pessoal, como indivíduo, mas também, consciente ou
inconscientemente, a vida de sua época e seus contemporâneos".
Assim, se na política o período oscilou entre esperanças e desilusões,
no campo artístico-cultural a Alemanha foi palco de vanguardas. A começar
pela
escola Bauhaus, que demarcou nova era em termos de estilo e
funcionalidade
de projetos arquitetônicos, em consonância com a sociedade industrial
surgida após a 1ª Guerra.
Na década de 1920 a Alemanha conheceria o talento daquele que marcaria
sua cena teatral.
Até a ascensão do nazismo, Bertolt Brecht escreveria obras-primas como
"A Ópera dos Três Vinténs" e "Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny",
junto com o compositor Kurt Weill.
Também no cinema os alemães convertiam-se em vanguarda: em 1927, Fritz
Lang lançava o seu "Metrópolis", um dos mais influentes filmes do século 20.
Marco Cabral dos Santos é doutor em história pela
Universidade de São Paulo e professor visitante no Programa de Pós-Graduação da
Universidade Federal de Juiz de Fora
Próximo Texto: Futebol: Ingleses dão pontapé inicial Índice
|