São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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HISTÓRIA

Democracia frágil e cultura sólida

Crise de 29 atrapalha recuperação alemã depois da 1ª Guerra, mas país ganha destaque em literatura, teatro e cinema

MARCO CABRAL DOS SANTOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A assinatura do Tratado de Versalhes em 1919, selando o fim da 1ª Guerra Mundial, colocou a Alemanha em situação humilhante.
O tratado retirou da Alemanha suas colônias e um décimo de seu território, e obrigou o país a pagar indenização de US$ 33 bilhões.
O período entre 1919 e 1933 ficou conhecido como República de Weimar e foi marcado pela tentativa de consolidação democrática numa economia frágil.
Sob a liderança do social-democrata Friedrich Ebert, houve importante movimento em direção à democratização. Em janeiro de 1919 elegeu-se uma Assembléia Constituinte, que em seis meses entregava à Alemanha uma nova Constituição, que declarava: "O Reich é uma República. Toda autoridade política vem do povo".
Em agosto de 1923, quando da posse de Gustav Stresemann como chanceler imperial, a Alemanha conhecia na pele os efeitos da hiperinflação, US$ 1 chegara a valer 4,2 bilhões de marcos.
Entre 1924 e 1929 o país se encontrava num período de reestruturação, apoiado no Plano Dawes, elaborado com ajuda dos EUA, o que possibilitou honrar compromissos de guerra sem comprometer os esforços econômicos.
Porém a Grande Depressão de 1929, ocasionada pelo crash da bolsa de Nova York, provocou efeitos funestos em diversas partes do mundo. Enquanto o Brasil declinava suas exportações cafeeiras, a Alemanha interrompia seu modesto ciclo de crescimento.
Os cortes sociais e o desemprego, que tiveram lugar desde então, se tornaram fermentos no intrincado jogo político germânico.
Nas eleições de 1930 deu-se a ascensão de ultranacionalistas (nacional-socialistas) e marxistas (comunistas), disputando o apoio de aproximadamente 4,4 milhões de desempregados desiludidos.
Em 1932, quando o marechal Hindenburg foi reeleito, essa cifra atingia os 5,6 milhões. Em 1933, com a demissão do chanceler Von Papen, Hindenburg apóia-se em Hitler para compor o novo governo. Pouco depois, sob o jugo nazista, a Alemanha deixaria a Liga das Nações. Era o fim da República de Weimar e a aurora de tempos sombrios para os alemães.
Contudo, este período não deve ser reduzido ao papel de prelúdio ao nazismo. Em 1924, Thomas Mann escrevia, em "A Montanha Mágica", que o "homem não vive só sua vida pessoal, como indivíduo, mas também, consciente ou inconscientemente, a vida de sua época e seus contemporâneos".
Assim, se na política o período oscilou entre esperanças e desilusões, no campo artístico-cultural a Alemanha foi palco de vanguardas. A começar pela escola Bauhaus, que demarcou nova era em termos de estilo e funcionalidade de projetos arquitetônicos, em consonância com a sociedade industrial surgida após a 1ª Guerra.
Na década de 1920 a Alemanha conheceria o talento daquele que marcaria sua cena teatral.
Até a ascensão do nazismo, Bertolt Brecht escreveria obras-primas como "A Ópera dos Três Vinténs" e "Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny", junto com o compositor Kurt Weill.
Também no cinema os alemães convertiam-se em vanguarda: em 1927, Fritz Lang lançava o seu "Metrópolis", um dos mais influentes filmes do século 20.


Marco Cabral dos Santos é doutor em história pela Universidade de São Paulo e professor visitante no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora


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