São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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Favela vira "bairro" e sofre adensamento

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há 27 anos, quando chegou à favela de Paraisópolis, a doméstica desempregada Josefa Maria Saraiva da Silva, 47, foi morar em um barraco de madeira, que não tinha conforto e por onde ratos e baratas transitavam livremente, conta.
Em 1998, a situação da família começou a melhorar e foi possível comprar um tijolo ali, um rejunte aqui e, aos poucos, transformar a moradia precária em uma casa de alvenaria.
Hoje, a casa dela tem três andares, cada um com três quartos, dois ou três banheiros, sala, cozinha e área de serviço. Uma residência que poderia estar em qualquer bairro de classe média baixa de São Paulo.
De fato, grande parte da favela pode ser considerada hoje um bairro popular, assinala o professor de ciência política da USP (Universidade de São Paulo) Eduardo Marques, também diretor do Centro de Estudos da Metrópole. "Há um comércio muito variado, que vai de Lan House a Casas Bahia."
A área em que Paraisópolis está localizada, contudo, é bastante peculiar para um bairro de classe média baixa: fica no distrito de Vila Andrade, ao lado das mansões e apartamentos de alto padrão do Morumbi.
A proximidade com o centro faz com que os moradores não queiram sair de lá, aumentando o adensamento. Hoje, a densidade demográfica do local é de 89 mil habitantes por km2 -mais que a média das favelas, de 66 mil habitantes por km2.
"Tudo que a gente quer, tem aqui dentro", diz o pedreiro José Tertuliano da Silva, 44. Para acomodar a família que cresceu e não quis mudar-se, ele teve que fazer como a doméstica Josefa, e construir mais um andar na casa para a filha e a neta. "Por uma dinâmica das famílias, os indivíduos crescem e casam. Tradicionalmente se fazia um "puxadinho" atrás, uma casa no fundo do lote. Como já tá tudo ocupado, [hoje se] verticaliza", diz Marques.

Desigualdade
Apesar das melhorias das condições de vida, reflexo, segundo Marques, do crescimento de oportunidades de trabalho e do acesso à políticas de transferência de renda, os índices socioeconômicos de Paraisópolis são preocupantes. Dados do Censo 2000 mostram que 17% das pessoas com mais de 15 anos são analfabetas -maior índice de SP -e que a esperança de vida dos moradores é de 67 anos -oito menos do que a dos vizinhos do Morumbi. (TALITA BEDINELLI)


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