São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

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Willy Pessoa

Inventor inquieto quer acabar com o êxodo rural

Sistema sustentável de plantio é fruto de 30 anos de pesquisa

CÁSSIO AOQUI
ENVIADO ESPECIAL A JOÃO PESSOA (PB)

"Realmente foi perigoso". Com um quê de arrependimento, mas sem esconder o sorriso maroto, o administrador Willy Pessoa Rodrigues, 57, relembra traquinices do tempo do seminário. A maior delas foi quando, com amigos, recheou de bombinhas um judas e acabou com o Sábado de Aleluia da criançada. "Apanhamos os quatro".
O garoto, nascido no Rio Grande do Norte e criado no interior rural da Paraíba, mostrava engenhosidade para mudar regras. "Inventei um sistema de três lápis amarrados que permitia preencher o caderno de castigos rapidamente".
No seminário, fez suas primeiras reflexões sobre a agricultura. "Ficava imaginando por que as pessoas precisavam de tanta terra. Comecei a sonhar com o que poderia fazer".
Foi um longo caminho _das broncas no serviço militar aos trabalhos como consultor, funcionário público, professor de educação física e construtor. Até que, em 2001, estreou a maior de suas invenções: um sistema integrado de plantio, batizado de Mandalla.
Dois anos depois, nasceu a Agência Mandalla DHSA (Desenvolvimento Holístico Sistêmico Ambiental), que pretende usar a tecnologia contra o êxodo rural. "O grande problema da fome e da miséria no Brasil é a falta de informação".

Anéis de cultivo
A Mandalla é um sistema de policultura com nove circunferências, ao longo das quais cultivam-se verduras e legumes. Os três primeiros ciclos garantem a subsistência do agricultor; os próximos quatro, a geração de renda; e os últimos, o equilíbrio ambiental.
No centro do círculo há um tanque, que serve de criadouro de animais e de fonte de irrigação, ligada aos anéis por um sistema com hastes de algodão. "Mandala vem do sânscrito e significa ‘imagem do mundo’. O desenho é uma reprodução em pequena escala do Sistema Solar. Tudo está integrado a uma energia maior", explica.
A Mandalla fincou raízes em 90 comunidades (12 Estados). E na terra do agricultor Antonio Severo, 51. "Agradeço primeiro a Deus, depois a Willy. Agora não compro fiado", diz Severo, que, com R$ 350 mensais, pode manter a filha na escola, seu maior orgulho. Willy quer mais. Seu sonho é ver mais mil Mandallas no país em cinco anos. "É inaceitável que se passe fome com tantos recursos".


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