São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

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Ana Moser

Ex-atacante ‘saca’ o papel moral e ético do esporte

Mais do que uma escola de vôlei, capaci tar profes sores é a meta

DENISE RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ana Moser, 38, nasceu envolvida pelo esporte. Seguindo os exemplos do pai, jogador semiprofissional de futebol, e do tio, campeão de atletismo, basquete e vôlei, a menina catarinense já deu os primeiros passos como esportista aos sete anos.
Aos 16, saiu de casa e entrou em quadra para fazer história como jogadora de vôlei. Imbatível como atacante, foi eleita a melhor do mundo em 1990, no Mundial de Pequim. Com seu potente saque e suas rebatidas certeiras, ajudou a seleção a conquistar sua primeira medalha olímpica: a de bronze, em 1996.
Fora das quadras, Ana demonstrou ter um caráter tão forte quanto seu saque, eleito o melhor das Olimpíadas de 1992, em Barcelona. Ao final da competição, ela se afastou da seleção para liderar um boicote contra o técnico Wadson de Lima, por discordar de seu trabalho. Voltou no ano seguinte, quando o comando passou para as mãos de Bernardinho.

Aquecimento
Com o tempo, contusões a afastaram da rede, à qual deu adeus em novembro de 1999. Foi então que a idéia de devolver à sociedade um pouco do que o esporte lhe proporcionou começou a se aquecer.
O inconformismo com a desigualdade social e a falta de oportunidades para a população de baixa renda foi o que moveu um grupo de profissionais, liderados por ela, a fazer núcleos esportivos em bairros carentes de infra-estrutura, de olho no desenvolvimento de crianças e adolescentes.
"Aprendi com o esporte que cada um tem de dar seu máximo. Se tenho potencial e meu compromisso é dar 100%, tenho obrigação de render esse tanto. Assim é na vida: seu lugar é do seu tamanho", diz a diretora-presidente do Instituto de Esporte & Educação (IEE).
"Não sou melhor que ninguém, só ganhei visibilidade. Minha função como sortuda da história é dar a contrapartida a quem não teve tanta chance".

Oásis
O IEE não se resume a uma escolinha de esportes. Além das atividades de iniciação no vôlei, o instituto capacita professores de educação física para que passem às crianças não só as técnicas do vôlei, mas também valores éticos e morais.
O centro esportivo do Jardim São Luiz, na periferia da zona sul de São Paulo, é um oásis fincado no alto de uma colina do bairro, que figura entre os mais violentos da cidade, com altos índices de assassinato entre jovens. Para se instalar, o IEE negociou até com traficantes.
"O jogo é uma estratégia para trabalhar a educação", diz Alan Leão, 27, que começou como estagiário no núcleo de Heliópolis (zona sul), em 2001, e hoje coordena o núcleo do Jardim São Luiz, além de cursar pós-graduação bancada pelo IEE. Ele acredita que, para jogar, as crianças precisam aprender a conhecer o corpo, a si mesmas e a respeitar colegas.


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