São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2007

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SP tem a queda mais acentuada no país

Escolas paulistas sofreram a maior diminuição do país na nota do Saeb (exame de âmbito nacional) na 8ª série, entre 1995 e 2005

Especialistas afirmam que houve erro na aplicação do sistema de progressão continuada e culpam também falta de estrutura

Fernando Donasci - 30.jan.2006/Folha Imagem
Estudantes em sala de aula do ensino fundamental em colégio de São Paulo, que teve a maior queda de notas na 8ª série

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

ANTÔNIO GOIS
EM SÃO PAULO

JORGE SOUFEN JR
DA FOLHA RIBEIRÃO

Estado mais rico da Federação, São Paulo teve algumas das maiores quedas do país nas notas no Saeb (exame do governo federal) entre 1995 e 2005.
Na 8ª série, as escolas paulistas foram as que mais tiveram diminuição na média, situação parecida à da 3ª série do ensino médio. Somente no 4º ano da educação fundamental é que São Paulo se posicionou no bloco intermediário.
Especificamente na 8ª série, o fraco rendimento foi potencializado pelas escolas da rede estadual, governada no período pelo PSDB (com Mário Covas e Geraldo Alckmin).
Especialistas citam como fatores que contribuíram para o fraco desempenho do Estado uma errônea aplicação do sistema de progressão continuada, a falta de estrutura para absorver estudantes, a ausência de incentivo a professores e políticas públicas imediatistas.
"Houve confusão entre progressão continuada e promoção automática", disse Artur Costa Neto, docente da Faculdade de Educação da PUC-SP. "O Estado não deu estrutura e tempo para professores e alunos entenderem o sistema."
A progressão continuada foi implantada durante a gestão Covas e mantida desde então. No sistema, não há reprovação por série, somente após um ciclo de quatro anos.
Para a professora Ângela Soligo, da Faculdade de Educação da Unicamp, o Estado pecou na estrutura para absorver alunos. "Colocar mais alunos e não aumentar o número de salas é reduzir a qualidade do ensino."
Já o professor do departamento de Psicologia e Educação da USP de Ribeirão Preto, José Marcelino de Rezende Pinto, afirmou que o Estado cometeu "um grande erro" ao reorganizar a sua rede física, na década de 90. "Quando separaram 1ª a 4ª de 5ª a 8ª séries, a unicidade da formação do ensino fundamental foi quebrada ao meio", disse o especialista.
A atual secretária estadual da Educação, Maria Lúcia Vasconcelos, vê a situação como "um alerta". "Iremos tomar ações corretivas. Devemos atacar os nosso pontos frágeis", afirma.
Entre as medidas que planeja adotar estão incluídas a revisão da progressão continuada e a mudança da grade curricular, além do reforço do orçamento para a alfabetização. "Os ciclos atuais são de quatro anos, mas pretendo que sejam mais curtos. Os professores ainda serão consultados, mas estava pensando em baixar para algo em torno de dois anos", afirma.
A reportagem procurou os ex-secretários Rose Neubauer (gestão Covas) e Gabriel Chalita (gestão Alckmin), mas não conseguiu entrevistá-los.
Em língua portuguesa da 8ª série, a nota de São Paulo teve uma variação negativa de 12%, a maior do país. A tabulação feita pela Folha considera a variação das notas nos dez anos de aplicação do exame.
O segundo pior desempenho foi o do Paraná (queda de 11,4%). O melhor rendimento foi o Maranhão, com queda de 0,5% na média. O recuo médio do país ficou em 9,7%.
A queda registrada no período fez com que São Paulo caísse no ranking de notas absolutas. Em 1995, o Estado era o segundo melhor. Agora, é o sexto. A primeira colocação segue com o Distrito Federal.
Em matemática da 8ª série, o desempenho de São Paulo caiu 8,2%, também o maior recuo do país. Na média, a nota no Brasil diminuiu 5,6%.


Colaborou FERNANDA CALGARO

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