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Rio tem mais sem-fé
KARINE RODRIGUES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Na infância, a arquiteta
Eva Estevez, 50, escondia radinhos de pilha para quebrar
o tédio das missas diárias no
colégio de freiras. Já adolescente, semanalmente comparecia à missa, levada pela
mãe, mas fazia uma exigência: ir à igreja de Ipanema,
onde não havia sermão e os
rapazes eram mais bonitos.
Eva, filha de pais católicos
que a batizaram com o nome
da primeira mulher, segundo a Bíblia, mora no Rio. O
Estado, segundo o censo,
tem a maior proporção de
habitantes sem religião do
Brasil: 15,53% da população,
ou 2,2 milhões de pessoas.
"Não sei exatamente
quando me tornei atéia. Fui
criada em colégio de freiras,
onde a gente driblava as regras de comportamento, inclusive ajudando as internas.
Aí comecei a ver como as
pessoas encaravam a religião, o que ela significava.
Acho que Deus não existe e
que a criação do mundo tem
explicação científica."
Até hoje, Eva se depara
com o olhar arregalado de
espanto das pessoas toda vez
que diz não acreditar em
Deus. Embora tenha convicção de seu ateísmo, ela evita
convencer as pessoas disso.
"Reconheço que ser ateu
não é para qualquer um.
Tem gente que precisa de religião, seja para controlar
instintos agressivos ou para
não se matar. E há pessoas
que usam a religião como
justificativa para a miséria e
todos os problemas que surgem. É aquela velha história
do "é assim porque Deus
quis". É difícil ser ateu porque precisamos botar a culpa na gente mesmo", diz.
Eva e o marido só casaram
no civil. Nenhum dos três filhos foi batizado. Ela afirma
que os filhos apoiaram a decisão dos pais e que, embora
tenham sido levados à igreja
pelos avós, acabaram adotando o ateísmo.
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