São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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Rio tem mais sem-fé

KARINE RODRIGUES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Na infância, a arquiteta Eva Estevez, 50, escondia radinhos de pilha para quebrar o tédio das missas diárias no colégio de freiras. Já adolescente, semanalmente comparecia à missa, levada pela mãe, mas fazia uma exigência: ir à igreja de Ipanema, onde não havia sermão e os rapazes eram mais bonitos.
Eva, filha de pais católicos que a batizaram com o nome da primeira mulher, segundo a Bíblia, mora no Rio. O Estado, segundo o censo, tem a maior proporção de habitantes sem religião do Brasil: 15,53% da população, ou 2,2 milhões de pessoas.
"Não sei exatamente quando me tornei atéia. Fui criada em colégio de freiras, onde a gente driblava as regras de comportamento, inclusive ajudando as internas. Aí comecei a ver como as pessoas encaravam a religião, o que ela significava. Acho que Deus não existe e que a criação do mundo tem explicação científica."
Até hoje, Eva se depara com o olhar arregalado de espanto das pessoas toda vez que diz não acreditar em Deus. Embora tenha convicção de seu ateísmo, ela evita convencer as pessoas disso.
"Reconheço que ser ateu não é para qualquer um. Tem gente que precisa de religião, seja para controlar instintos agressivos ou para não se matar. E há pessoas que usam a religião como justificativa para a miséria e todos os problemas que surgem. É aquela velha história do "é assim porque Deus quis". É difícil ser ateu porque precisamos botar a culpa na gente mesmo", diz.
Eva e o marido só casaram no civil. Nenhum dos três filhos foi batizado. Ela afirma que os filhos apoiaram a decisão dos pais e que, embora tenham sido levados à igreja pelos avós, acabaram adotando o ateísmo.



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