São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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CASAMENTO

Proporção de homens em união conjugal cresce e a de casadas diminui à medida que aumenta a idade, revela censo

Mulher tende mais a viver só

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Os dados do Censo 2000 do IBGE ajudam a entender por que santo Antônio, o santo casamenteiro, é tão popular no Brasil. As estatísticas mostram que, a partir dos 30 anos, a porcentagem de mulheres com um companheiro vai caindo ano a ano.
Até os 30 anos, a porcentagem de mulheres que vivem em algum tipo de união conjugal é superior à dos homens, o que mostra que as mulheres se casam mais cedo e com homens mais velhos. Quase 30% das brasileiras de 10 a 29 anos vivem em união conjugal, contra quase 20% dos homens da mesma idade.
A partir dos 30, a situação se inverte e vai aumentando gradualmente, a favor dos homens, à medida que a população envelhece. Essa diferença culmina na faixa de 70 anos ou mais, na qual, segundo o censo, 70,9% dos homens vivem em união conjugal, contra somente 27,9% das mulheres.
A pesquisadora Elza Berquó, do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, classifica as estatísticas como a pirâmide de solidão feminina (em referência ao formato do gráfico dos dados): "Dificilmente os homens ficam sós. O mercado matrimonial para eles não se altera com a idade, diferentemente do que ocorre com as mulheres. A partir dos 30 anos, se elas não estão unidas, vai ficando cada vez mais difícil encontrar um parceiro".
A primeira explicação para o fenômeno está nos índices de mortalidade. Os homens têm menor expectativa de vida do que as mulheres e são vítimas mais comuns de mortes por causas externas, como homicídios e acidentes de trânsito. Isso explica o maior número de viúvas do que de viúvos.
Há também, segundo Elza Berquó, uma explicação comportamental. A partir de uma certa idade, as mulheres têm mais dificuldade de casar do que os homens.
"Há uma norma social no Brasil de que os homens se casam com mulheres mais jovens. Como nossa pirâmide etária tem um formato triangular [há mais jovens do que idosos e pessoas de meia-idade", quanto maior for a idade da mulher, menor será o mercado para ela, já que ela tende a olhar para as pessoas de sua idade ou mais velhas", explica a pesquisadora da Unicamp.
No caso dos homens, isso não acontece porque há sempre um número maior de mulheres mais jovens do que mais velhas do que eles, o que aumenta sua possibilidade de encontrar parceiras.
Outro fator é a maior dificuldade de recasamento das mulheres que, divorciadas, tendem a ficar com os filhos, o que, segundo especialistas, diminui a possibilidade de aproximação de um novo parceiro.
"Os homens tendem a se casar de novo com mulheres que não tenham filhos", afirma Rosa Maria de Freitas, pesquisadora da Fundação Seade.
Rosa lembra também que muitas mulheres estão adiando cada vez mais o casamento para dar prioridade à carreira. Por um lado, isso pode prejudicar suas chances de se casar. Por outro, no entanto, no caso de mulheres bem-sucedidas profissionalmente, pode ser um atrativo na busca de um parceiro.

União consensual
A comparação dos censos de 1991 e 2000 do IBGE mostra que a união consensual, em que os cônjuges não se casam nem no religioso nem no civil, foi a forma de união que mais cresceu no Brasil, passando a representar 28,3% do total de uniões. Em 1991, essa porcentagem era de 18,3%.
A forma de união mais comum, no entanto, continua sendo o casamento civil e religioso, com 50,1% dos casos. Em 1991, essa proporção era de 57,8%.
Houve também uma diminuição da proporção de casamentos apenas no religioso de 5,2% para 4,3%, um dado que pode ser explicado, em parte, pelo aumento da população que se disse sem religião no país.
Em geral, a união consensual é mais comum entre os mais jovens e nos Estados mais pobres do país, no Norte e no Nordeste. Uma das explicações para isso é que os mais jovens e mais pobres tendem a evitar os custos de um casamento religioso ou civil.
Para Rosa Maria de Freitas, da Fundação Seade, outra explicação para o aumento desse tipo de união é a diminuição do preconceito: "Diminuiu a resistência da família em relação a esse tipo de união. Numa escala de valores, pode-se dizer que ainda é o menos aceitável, mas, mesmo assim, hoje já se aceita com menos resistência o fato de um parente viver em união consensual."
A pesquisadora cita também a mudança na legislação como fator que contribui para o aumento, já que a lei passou a garantir direitos aos cônjuges e aos filhos de casais unidos em consenso.
Outro ponto destacado pela pesquisadora é a independência feminina e a entrada no mercado de trabalho. "Como a mulher também trabalha, ela também faz planos de saúde e transfere para os filhos. Antes, muitas uniões civis eram motivadas pela necessidade de garantir a dependência da mulher e dos filhos no plano de saúde do homem", diz.


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