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CASAMENTO
Proporção de homens em união conjugal cresce e a de casadas diminui à medida que aumenta a idade, revela censo
Mulher tende mais a viver só
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os dados do Censo 2000 do IBGE ajudam a entender por que
santo Antônio, o santo casamenteiro, é tão popular no Brasil. As
estatísticas mostram que, a partir
dos 30 anos, a porcentagem de
mulheres com um companheiro
vai caindo ano a ano.
Até os 30 anos, a porcentagem
de mulheres que vivem em algum
tipo de união conjugal é superior
à dos homens, o que mostra que
as mulheres se casam mais cedo e
com homens mais velhos. Quase
30% das brasileiras de 10 a 29 anos
vivem em união conjugal, contra
quase 20% dos homens da mesma idade.
A partir dos 30, a situação se inverte e vai aumentando gradualmente, a favor dos homens, à medida que a população envelhece.
Essa diferença culmina na faixa de
70 anos ou mais, na qual, segundo
o censo, 70,9% dos homens vivem
em união conjugal, contra somente 27,9% das mulheres.
A pesquisadora Elza Berquó, do
Núcleo de Estudos de População
da Unicamp, classifica as estatísticas como a pirâmide de solidão
feminina (em referência ao formato do gráfico dos dados): "Dificilmente os homens ficam sós. O
mercado matrimonial para eles
não se altera com a idade, diferentemente do que ocorre com as
mulheres. A partir dos 30 anos, se
elas não estão unidas, vai ficando
cada vez mais difícil encontrar
um parceiro".
A primeira explicação para o fenômeno está nos índices de mortalidade. Os homens têm menor
expectativa de vida do que as mulheres e são vítimas mais comuns
de mortes por causas externas,
como homicídios e acidentes de
trânsito. Isso explica o maior número de viúvas do que de viúvos.
Há também, segundo Elza Berquó, uma explicação comportamental. A partir de uma certa idade, as mulheres têm mais dificuldade de casar do que os homens.
"Há uma norma social no Brasil
de que os homens se casam com
mulheres mais jovens. Como nossa pirâmide etária tem um formato triangular [há mais jovens do
que idosos e pessoas de meia-idade", quanto maior for a idade da
mulher, menor será o mercado
para ela, já que ela tende a olhar
para as pessoas de sua idade ou
mais velhas", explica a pesquisadora da Unicamp.
No caso dos homens, isso não
acontece porque há sempre um
número maior de mulheres mais
jovens do que mais velhas do que
eles, o que aumenta sua possibilidade de encontrar parceiras.
Outro fator é a maior dificuldade de recasamento das mulheres
que, divorciadas, tendem a ficar
com os filhos, o que, segundo especialistas, diminui a possibilidade de aproximação de um novo
parceiro.
"Os homens tendem a se casar
de novo com mulheres que não
tenham filhos", afirma Rosa Maria de Freitas, pesquisadora da
Fundação Seade.
Rosa lembra também que muitas mulheres estão adiando cada
vez mais o casamento para dar
prioridade à carreira. Por um lado, isso pode prejudicar suas
chances de se casar. Por outro, no
entanto, no caso de mulheres
bem-sucedidas profissionalmente, pode ser um atrativo na busca
de um parceiro.
União consensual
A comparação dos censos de
1991 e 2000 do IBGE mostra que a
união consensual, em que os cônjuges não se casam nem no religioso nem no civil, foi a forma de
união que mais cresceu no Brasil,
passando a representar 28,3% do
total de uniões. Em 1991, essa porcentagem era de 18,3%.
A forma de união mais comum,
no entanto, continua sendo o casamento civil e religioso, com
50,1% dos casos. Em 1991, essa
proporção era de 57,8%.
Houve também uma diminuição da proporção de casamentos
apenas no religioso de 5,2% para
4,3%, um dado que pode ser explicado, em parte, pelo aumento
da população que se disse sem religião no país.
Em geral, a união consensual é
mais comum entre os mais jovens
e nos Estados mais pobres do
país, no Norte e no Nordeste.
Uma das explicações para isso é
que os mais jovens e mais pobres
tendem a evitar os custos de um
casamento religioso ou civil.
Para Rosa Maria de Freitas, da
Fundação Seade, outra explicação
para o aumento desse tipo de
união é a diminuição do preconceito: "Diminuiu a resistência da
família em relação a esse tipo de
união. Numa escala de valores,
pode-se dizer que ainda é o menos aceitável, mas, mesmo assim,
hoje já se aceita com menos resistência o fato de um parente viver
em união consensual."
A pesquisadora cita também a
mudança na legislação como fator que contribui para o aumento,
já que a lei passou a garantir direitos aos cônjuges e aos filhos de casais unidos em consenso.
Outro ponto destacado pela
pesquisadora é a independência
feminina e a entrada no mercado
de trabalho. "Como a mulher
também trabalha, ela também faz
planos de saúde e transfere para
os filhos. Antes, muitas uniões civis eram motivadas pela necessidade de garantir a dependência
da mulher e dos filhos no plano de
saúde do homem", diz.
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