São Paulo, quinta, 10 de julho de 1997.



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Empresários rejeitam medidas anticonsumos


Embora aprovem a política econômica da gestão FHC, entrevistados não vêem com bons olhos as medidas visando a contenção do consumo, tomadas pelo governo na tentativa de estancar o déficit na balança comercial sem mexer no câmbio; a política de venda de empresas estatais, por sua vez, tem a aprovação quase unânime do empresariado


da Redação

O governo não deve se iludir. Apesar da firmeza da opinião dos empresários de que o Real é bom, tão firme quanto ela é o consenso de que as medidas anticonsumo -que o governo vem tomando a conta-gotas, no último ano, para manter o plano sobre as pernas- são ruins.
A pesquisa para o Folha 500 feita pelo Datafolha demonstra, numa aparente contradição, que o mesmo universo de empresários contentes com a condução da política econômica é frontalmente contrário à contenção do consumo (62%).
Na pesquisa por setores, as empresas de capital aberto lideram a rejeição a essas medidas "tópicas", como as classifica o governo, com 69% de reprovação.
A expectativa de manutenção de um alto nível de desemprego, também verificada na pesquisa do Datafolha, pode ser, em grande parte, entendida como um subproduto dessas restrições.
Tentativas
Desde o início do ano, com a sangria provocada pelo déficit comercial -que deverá chegar a US$ 10 bilhões neste ano, na mais otimista das hipóteses-, o governo toma medidas pontuais para, sem mexer no câmbio, tentar reverter o quadro.
Na ponta das empresas, restringiu as importações, no final de março, com a obrigatoriedade do pagamento à vista pelo importador de mercadorias antes financiadas em até 360 dias. Na ponta do consumo, no início de maio, elevou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) do crédito ao consumidor de 6% para 15% ao ano.
Ambas as medidas foram consideradas de eficácia duvidosa pelos críticos da política econômica. No caso da segunda, o próprio secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, admitiu, em maio, que o aumento do IOF era a alternativa "mais branda" do arsenal que o governo tinha à disposição.
Para o resto do ano, a equipe econômica deve seguir a mesma cartilha: não mexer no câmbio, apesar da grita dos exportadores, e adotar medidas tópicas toda vez que detectar um aquecimento no consumo pressionando ainda mais o déficit.
Privatizações
No tocante à política de privatizações, a pesquisa não traz surpresas. O apoio dos empresários a ela, segundo o Datafolha, é quase unânime (97%), assim como a aprovação da participação do capital estrangeiro na compra das estatais (91%).
Resta saber se o processo se desenrola na velocidade desejada pelo empresariado. Pesquisa do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) mostrava, em janeiro, que os empresários condenavam a lentidão nas privatizações e a pressa na votação da reeleição. O panorama, ao que parece, não mudou. (ROGÉRIO ORTEGA)



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