São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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Total integração

Abordagem inovadora estimula interação entre participantes com diversas deficiências em prol de benefícios físicos e, principalmente, psicossociais

DO ENVIADO ESPECIAL

Quem passa no fim de semana pelas areias do posto 11, no Leblon (zona sul do Rio), e do posto 2, na Barra (zona oeste), depara-se com um cenário incomum -ainda- nas praias brasileiras.
Esteiras azuis ligam o asfalto à beira-mar. Cadeiras-anfíbio -espécie de assento de praia com rodas- entram e saem da água com surfistas. Diversas pranchas com adaptações colorem o ambiente.
E, de uma tenda central branca, irradia um ousado projeto de levar acessibilidade a praias de todo o Brasil utilizando o surfe adaptado como atrativo principal.
É assim que a Adaptsurf entra em ação, todos os sábados e domingos do ano, sempre que a meteorologia sopra a favor de seus 40 alunos.
O "crowd" (gíria para muitos surfistas na mesma área) se reúne na animada tenda, local onde instrutores, aprendizes com diferentes tipos de deficiência, familiares e voluntários mostram que integração é palavra de ordem.
"Aqui não há só a prática de um esporte. Temos uma forte amizade, somos unidos. É uma segunda família para mim", atesta a estudante de educação física Camila Fuchs, 21, que tem má-formação na coluna vertebral e é aluna da ONG há dois anos.

1+1+1 > 3
A interação faz parte do método criado por Henrique Saraiva e o casal Luana e Phelipe Nobre a partir de 2007.
Da união de um surfista com mobilidade reduzida, uma professora especializada em esportes inclusivos e um fisioterapeuta, despontou a inovadora abordagem que integra saúde, educação e desenvolvimento pessoal.
"Fazemos avaliação física, entrevista e teste de desempenho antes de determinar como o aluno pegará a onda -deitado, de joelhos, sentado, em pé", explica Phelipe.
Em analogia à modalidade, se as baterias de testes representassem os benefícios físicos para o aluno, cada circuito vencido seria simbolizado pela melhora da autoestima e da autoimagem, pelo ganho de autonomia e independência e pela superação de situações de frustração.
O troféu maior desse campeonato, contudo, é permitir que os 25 milhões de brasileiros com deficiência, segundo os subestimados números do IBGE, conquistem o direito básico de ter acesso à praia.
Para isso, o trio de empreendedores sociais, que hoje trabalha voluntariamente para a ONG, sabe que ainda tem muito caldo para tomar. Nada impossível para quem acaba de entrar na onda de conquistar grandes prêmios.
(CÁSSIO AOQUI)

Colaborou JAIRO MARQUES, enviado especial ao Rio

FOLHA.com
Conheça mais sobre a Adaptsurf e os finalistas
folha.com/empreendedorsocial

INOVAÇÃO
Desenvolveu método de acesso de pessoas com deficiência à praia com integração por meio do surfe adaptado, a partir de técnicas personalizadas de fisioterapia e educação física

IMPACTO SOCIAL
Com 40 alunos atualmente, já beneficiou de modo transformador 520 pessoas desde 2008 no Rio de Janeiro e em cidades como Guarujá (SP), Niterói e Arraial do Cabo (RJ)

ORÇAMENTO 2011
R$ 6.000 (4 parceiros); atualmente, o maior desafio da ONG é gerar receita por meio de patrocínios e doações a fim de viabilizar a dedicação integral de seus três fundadores


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