São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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Gisela Solymos

CREN (CENTRO DE RECUPERAÇÃO E EDUCAÇÃO NUTRICIONAL)
www.cren.org.br


Pequenos à altura

Vencedora do Empreendedor Social, psicóloga parte de questionamentos para transformar as práticas de educação nutricional no país

RAQUEL BOCATO

DE SÃO PAULO

Por que aquela pessoa remexe o lixo?
No começo da década de 1970, em um ponto da imponente avenida Paulista, em São Paulo, Gisela Solymos, aos 6 anos, teve seu primeiro contato com a desigualdade.
De mãos dadas com a mãe, Ivone Solymos, viu a desnutrição e a pobreza refletidas em um morador de rua.
A menina que sonhava com fazenda e animais descobriu que comer não é tão simples como pensava ser.
Foi o começo de uma vida de questionamentos, em que as respostas a perguntas simples nem sempre atendiam à sua ânsia de conhecimento.
Era preciso testar para ter a comprovação. "Eu era insuportável no querer saber o porquê das coisas", garante a vencedora do Prêmio Empreendedor Social 2011.
A mãe era sua explicadora oficial. Dela, Gisela herdou a alegria e a jovialidade.
Do pai, o húngaro Peter Solymos, recebeu uma dose de tristeza. Não como a dele, que deixou a terra natal na década de 1960, depois da invasão soviética, em 1956. "Ele tem o coração partido de um povo que foi abandonado. Eu não", diz, pensativa.
As reflexões deixam transparecer uma Gisela indignada.
Foi com essa essência de mudança que fez seu primeiro trabalho em uma favela de São Paulo. Sem um plano estruturado, o projeto não vingou, mas deixou o desejo de mudar. "Lá nasceu o ideal."
Esse misto de "paixão pelo ser humano" e de questionamentos em tempo integral a levou a estudar psicologia. Passou na USP, época em que ingressou também no movimento Comunhão e Libertação, que inclui integração às missões da Igreja Católica.
"O relacionamento com Deus sempre foi importante."
Leu Freud e Jung. E passou cinco anos em crise no curso. Por que a psicologia não consegue explicar a crença em Deus como algo que não seja uma fraqueza humana?

RETORNO POSITIVO
Essa é uma das questões a que não conseguiu responder. Mas manteve a fé e a atuação na área de psicologia.
Ficou por três anos em uma consultoria organizacional, até aparecer a oportunidade de voltar para a favela.
Com um grupo de recém-formados e pesquisadores de saúde e nutrição, desbravou comunidades "invisíveis" da Vila Mariana (zona sul).
Lá, nasceu não apenas a metodologia de intervenção em saúde na comunidade mas também o embrião do Cren (Centro de Recuperação e Educação Nutricional).
Como diretora-geral, estendeu a área de atuação de Mirandópolis (zona sul) para a Vila Jacuí (leste) e Maceió. Ajudou a criar método que contempla a estatura da criança -e descobriu que os índices de desnutrição ultrapassam estatísticas oficiais.
Por que os agentes de saúde e os estudantes de medicina não são capacitados para mapear essa população em prol do trabalho de combate intensivo à desnutrição?, questiona-se hoje, em mais um ciclo de perguntas que sempre a movem para res-postas transformadoras.


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